quarta-feira, 9 de outubro de 2024

VILA FRANCA: A DESPEDIDA SONHADA DE SALVADOR E A LIDE QUE NOS FEZ SONHAR DE MIGUEL MOURA

Por: Catarina Bexiga

A DESPEDIDA SONHADA DE RUI SALVADOR. Sempre foi um toureiro valente e foi valente até ao fim. Rui Salvador teve a noite que merecia. O último toiro da sua trajectória nas arenas tinha o N.º 39, pesou 500 Kg, e pertencia à ganadaria de David Ribeiro Telles, permaneceu nos médios, indiferente ao cavaleiro e obrigou Rui Salvador a fazer um esforço suplementar. Com o “Vice-Rei”, o segundo comprido foi apontado com muita decisão; e montado no “Hornazo” a serie de curtos ficou para a história de Rui Salvador e para a nossa história enquanto aficionados. Da parte do cavaleiro houve sempre muita disposição, intencionalidade em tudo o que fez e uma ligação constante. A Palha Blanco retribui-lhe com gritos de Toureiro, Toureiro, Toureiro!

A LIDE QUE NOS FEZ SONHAR DE MIGUEL MOURA. Tem vindo a apontar. Tem vindo a dizer que podemos contar com ele. Miguel Moura assinou, ontem, em Vila Franca uma das melhores actuações da sua vida. O toiro de Vale Sorraia saiu com muita mobilidade e a transmitir muito; e estar à sua altura foi um desafio exigente. Logo de saída, com o “Faraó”, Moura apontou uma gaiola poderosa; e com o “Juventus” soube tirar partido da vivacidade das investidas, quer na brega, quer no momento do ferro, deixando o adversário arrancar-se de largo e vencendo o pitón da sorte com autoridade. Actuação vibrante que colocou o público da Palha Blanco de acordo e encerrou com chave de oiro a noite.

A Corrida Concurso de Ganadarias juntou um toiro de Conde de Murça, precioso de hechuras (merecedor do prémio apresentação, que não lhe concederam), mas que teve pouca entrega; o de Veiga Teixeira foi encastado; o de David Ribeiro Telles foi muito reservado; o de Mata-o-Demo foi gazapón; e o de Vale Sorraia foi um toiro com muita mobilidade e transmissão, que merecia ter sido distinguido. Em quarto lugar, João Moura lidou um sobrero de Veiga Teixeira, colaborador, em substituição do exemplar do Eng. Jorge de Carvalho, que foi recolhido sem se perceber o porquê. 

Diogo Oliveira concretizou o sonho de tomar a Alternativa, concedida (a título excepcional) por Rui Salvador. A actuação veio de menos a mais, inicialmente por falta de colaboração do “Chapitô”, mas depois ganhando folgo com o “Orpheu”. Depois de um início infeliz, António Ribeiro Telles destacou-se em dois curtos montado no veterano “Alcochete”; João Moura (que lidou em 4.º lugar o sobrero) despachou com facilidade os curtos montado no “Favorito”; e apesar dos intentos, Rui Fernandes teve uma actuação que não terminou de se definir com o “El Dorado”.

Em noite que costume ser especial para os Amadores de Vila Franca de Xira, esta teve vários matizes. Pegaram Miguel Faria à primeira tentativa, Rodrigo Camilo à primeira, Vasco Pereira também concretizou ao primeiro intento, seguindo-se Salvador Ribeiro Corrêa que dobrou Rodrigo Andrade, André Câncio à primeira e Guilherme Dotti apenas à quinta.

No fim, o Prémio Apresentação e o Prémio Bravura distinguiram o exemplar de Veiga Teixeira.

Se para Diogo Oliveira esta foi a noite da sua Alternativa; para Rui Salvador e Miguel Moura esta foi uma noite para recordar!!!

FOTOS: PEDRO BATALHA


 




domingo, 6 de outubro de 2024

VILA FRANCA: MARCO PÉREZ E TOMÁS BASTOS FAZEM HISTÓRIA NA PALHA BLANCO!!!

Por: Catarina Bexiga

Quem diria que uma das noites mais importantes da temporada portuguesa (se não mesmo a mais importante) fosse uma novilhada mano-a-mano entre dois dos novilheiros punteros do momento, que culminou com a saída em ombros – e a Palha Blanco rendida – de Marco Pérez e Tomás Bastos!? Quem diria!?

Ricardo Levesinho quis marcar a diferença – e a par de Rui Bento que contratou Borja Jiménez para a Nazaré – ambos conseguiram trazer um novo fulgor ao nosso limitado ambiente taurino. E há uma situação curiosa, quando muitos empresários portugueses dizem “cobras e lagartos” do toureio a pé, repare-se no entusiasmo gerado por outros episódios este ano, como por exemplo, a vinda de Roca Rey a Santarém ou a de Emílio de Justo à Moita. Quando as coisas são bem montadas e bem cuidadas – o público responde, sem hesitar. Ontem, a Palha Blanco registou uma grande lotação, e a par da prestação dos dois novilheiros, fez-se história em Vila Franca!

Marco Pérez e Tomás encararam o desafio com máxima responsabilidade e a entrega de ambos foi evidente. Nos seis novilhos, “picaram-se” logo de capote, respondendo aos quites um do outro.

Marco Pérez é um predestinado. Tudo o que o seu toureio tem, não tem a maioria dos demais. Com apenas 16 anos, Marco Pérez consegue juntar em si personalidade, muitas virtudes, muito improviso, muito conhecimento, etc. Ontem, tocou-lhe o melhor lote; o primeiro e o quinto de Álvaro Nuñez serviram para que se exteriorizasse como ele próprio gosta. O seu toureio é a compilação do que é o toureio. Para além de uma intuição natural (fora do comum), a variedade com que começa e acaba cada serie de muletazos é apaixonante. Pérez esteve por cima do novilho menos claro do seu lote (o terceiro da ordem), e fez-nos desfrutar com a intensidade da sua primeira e última faena. Este é um nome que, futuramente, vamos ouvir várias vezes…

Tomás Bastos voltou à “sua” Palha Blanco, ontem. E digo à “sua”, porque há muito tempo que não vejo Vila Franca “volcada” com um toureiro, como vejo agora. O quite por Saltilleras com que respondeu a Marco Pérez, logo no primeiro novilho, fez a Palha Blanco explodir de emoção. Com as bandarilhas mostrou facilidades e poderio. As suas duas primeiras faenas foram em crescendo, com o toureiro, a pouco e pouco, a apoderar-se das investidas e a impor-se; pois o seu primeiro de AN foi tardo e teve uma ponta de génio e o seu segundo igual de tardo, furtando ritmo à faena. Sobretudo, no quarto, Bastos cuajó duas grandes series, uma de naturais e outra de derechazos na fase final. Com o encastado jabonero que saiu em último lugar, Tomás Bastos fez a sua melhor faena, com muletazos larguíssimos, de mão baixa e poderosos. Houve ainda passes de peito que foram um portento. O seu nome continua a fazer-nos sonhar!

Grande noite a que assistimos, ontem, na Palha Blanco. Noite histórica! Fomos uns privilegiados...

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

MONTEMOR-O-NOVO: COM A ASSINATURA DO GRUPO DA TERRA!!!

Por: Catarina Bexiga
Marcaram o grupo de Montemor e o grupo de Montemor marcou as suas vidas. Francisco Borges e Francisco Godinho são dois forcados que ficam na história do grupo alentejano; mas o grupo também se pode orgulhar das suas trajectórias e da forma como sempre defenderam a jaqueta que envergaram. Acredito que também por eles – porque o mereciam – Montemor voltou a ser praça cheia (esgotada!).
Francisco Borges fez a sua última pega ao terceiro da tarde, após um brinde comovente, aos seus pais, mulher e filhos. As suas últimas palavras dizem muito de si: “É por vocês esta decisão, são a primeira coisa que tenho na vida que se sobrepõe ao grupo de Montemor. Sempre quis ser forcado e sempre sonhei ser forcado, e sempre só soube viver para o grupo de Montemor a 100 %, mas a partir de agora vou viver a minha família a 100%.”
O conhecido rabejador Francisco Godinho pegou o quinto da tarde, também com um brinde semelhante, de agradecimento aos pais (e a um amigo do pai, companheiro de viagens), com palavras simples, mas cheias de grandeza: “Obrigado, pelos milhares de quilómetros que me acompanhaste e fizeste por mim, para ser aquilo que sou no grupo de Montemor e a fazer aquilo que mais gosto.”
Tarde de palavras bonitas, emoções fortes e forcados valentes, ontem, em Montemor. As pegas estiveram a cargo de António Pena Monteiro, após a tentativa frustrada de cernelha; seguindo-se José Maria Pena Monteiro; Francisco Borges; Pedro Santos superiormente ajudado pelo seu filho; Francisco Godinho e Vasco Ponce, todos ao primeiro intento. Tarde de grandes pegas!
O curro de São Torcato impôs respeito pela sua seriedade. E a prova de que trapio não é sinónimo de peso, são os exemplares que saíram à arena de Montemor. Excepto o quinto, mais justo de apresentação, nenhum ultrapassou os quinhentos quilos de peso e todos impunham respeito. O primeiro da tarde (prestes a cumprir 6 anos) revelou-se complicado; o segundo foi pronto nos cites; o terceiro, manso, com querença em tábuas; o quarto foi encastado atrás do cavalo, mas faltou no momento na reunião; o quinto, um toiro fácil e o sexto igual.
De toureio a cavalo sobressaiu a forma como António Telles filho lidou o terceiro da tarde, um toiro manso, com querença em tábuas, que obrigava qualquer um a fazer um esforço suplementar. Para quem gosta de ver lidar um toiro na sua máxima expressão, deu gosto ver! Montado no “Sherpa”, António não poderia ter estado mais intencional, mais poderoso, mais meritório. A lide foi claramente superior aos ferros. Com o sexto, novamente, com o “Sherpa”, a actuação não teve força para romper, insistindo nas entradas ao pitón contrário e comprometendo as reuniões.
Francisco Palha não teve uma tarde fácil. Logo de saída, o seu primeiro revelou-se perigoso, adiantando-se ao cavalo, e Palha cravou os ferros como pôde, com o “Rebelde”. Com o segundo, montado no “Jaquetón”, a actuação levou tempo a definir-se, sendo a fase final a mais convincente.
O cavaleiro Miguel Moura apontou uma gaiola empolgante com o “Faraó” no seu primeiro toiro, mas depois a série de curtos resultou mais discreta com o “Juventus”. Com o segundo, a actuação teve dinâmica e ligação, com o mesmo cavalo, mas não passou disso.
Não restam dúvidas, a tarde teve a assinatura dos Amadores de Montemor-o-Novo!
Foto: Facebook Amadores de Montemot-o-Novo

segunda-feira, 26 de agosto de 2024

CARTA ABERTA A RUI SALVADOR

Caro Rui Salvador,

Permita-me que o trate assim. Deixei passar alguns dias, após a noite de Quinta-feira, no Campo Pequeno, para poder amadurecer o que lhe queria transmitir. Acima de tudo, transmitir o meu agradecimento, o nosso agradecimento, o agradecimento da afición portuguesa.

Volvidos 40 anos de Alternativa, querer despedir-se na Monumental do Campo Pequeno, com um curro do Dr. António Silva, à beira de cumprir cinco anos de idade, sério por onde o mirássemos, diz tudo de si!

O Rui Salvador leva tantos anos de Alternativa quase como eu de aficionada. E como diz aquela conhecida frase, “El mejor aficionado es aquel al que le caben más toreros en la cabeza”; habituei-me a vê-lo como um guerreiro, um toureiro de máxima entrega, nunca acomodado a nada, ousado, provocador, valente…

O Rui Salvador é um daqueles toureiros que todos devemos de admirar e respeitar; porque para estar na cara de certos toiros é, muitas vezes, preciso fazer um esforço sobrehumano, que sentados nas bancadas, muitas vezes, não imaginamos…

Lembro-me de várias actuações suas. Ainda apanhei a fase final do “Napoleão” e do “Crufta”, da “Ratona” ou do “Renegado”, mas é do “Atlas” e do “Importante” dos que mais recordo. E que actuações!

Os anos 80 e 90, foram épocas importantes do nosso Toureio a Cavalo, de projecção e valorização; para mim, o tempo em que melhores se toureou e em que mais se rivalizou nas nossas arenas. E o Rui Salvador também contribuiu, com o seu conceito, e com a sua forma de ser, para que fossemos reconhecidos como a Pátria do Toureio a Cavalo.

Suponho que as suas lágrimas, na passada Quinta-feira, no Campo Pequeno, tenham sido difíceis de conter. Afinal, para trás ficaram tantos momentos, tantas lembranças, tantas amizades… uma história de vida!

Os aficionados, esses, quiseram marcar presença. E até foi arrepiante a forma como o acarinharam.

Rui, não chore porque tudo terminou, sorria porque tudo aconteceu!

Aceite, um abraço, de apreço.

Catarina Bexiga

FOTO: PEDRO BATALHA

sábado, 10 de agosto de 2024

CAMPO PEQUENO: CABIA-NOS MOSTRAR AO MUNDO QUEM SOMOS…

 

Por: Catarina Bexiga

Ontem, no Campo Pequeno – Catedral do Toureio a Cavalo – estava em causa muita coisa. Ao ser transmitido pelo canal Onetoro, o espectáculo teve uma projecção mundial enorme. E cabia-nos a responsabilidade de aproveitar a ocasião para divulgar e defender a nossa Festa de Toiros, uma realidade distinta dos demais países taurinos; mas, sobretudo, no que diz respeito ao Toureio a Cavalo, com uma reputação que vem de longa data. Por outras palavras: Cabia-nos mostrar ao mundo quem somos. Cabia-nos, defender o que é nosso, o que é português!

E é por aqui que começo. De todos, Ana Batista foi o nome mais português. Pelo conceito que defendeu e pelas intenções que mostrou. O seu Vinhas foi exigente, pois no momento do ferro surpreendia de forma perigosa. De saída, com o novato “Ónix”, Ana marcou a diferença, com um toureio sério. Desenhou perfeitamente a sorte no primeiro comprido, mas infelizmente errou o alvo, seguindo-se dois compridos de nota elevada. Montada no “Hermoso”, a actuação teve muito, mas muito mérito. O toiro foi sempre tardo e a cavaleira atacou sempre muito. Com atitude. Com decisão. Com risco. O primeiro e o quarto sobressaíram do conjunto.

João Moura Caetano teve a sorte do seu lado, com o Vinhas que lhe tocou no sorteio. Começou por dar nas vistas com o segundo comprido, montado no “Pidal”; pois, o toiro arrancou-se de largo e o ferro teve impacto. De seguida, com o “Campo Pequeno” privilegiou as cercanias e a harmonia do toureio que ambos sentem.

Manuel Telles Bastos assinou no Campo Pequeno uma exibição demasiado modesta. É verdade que o seu Vinhas adiantava-se, mas a sua quadra também não ajudou a superar o problema. Montado no “Ipanema”, o quinto curto foi o mais convincente.

Duarte Pinto também foi vítima do mesmo mal. Outro Vinhas que se adiantava. Sobretudo, montado no “Cesário”, vencer o pitón da sorte foi a sua principal dificuldade. A sua prestação nunca chegou a convencer.

Andrés Romero quis “vender” uma actuação que não teve clientela; apostando num toureio enganoso, com muitas passagens em falso e reuniões na paralela. No mínimo, caricato, foi querer sacar os cavalos para a volta a arena. Todavia, o público “parou-lhe os pés”.

A noite terminou com a actuação de Luís Rouxinol Jr. Ao seu Vinhas faltou entrega, mas montado no “Jamaica”, praticou um toureio animoso, que muitas vezes transmite, mas que, sobretudo, no momento do ferro, carece de argumentos mais sólidos.

Em noite de Concurso de Pegas, foi o grupo de Monsaraz o justo vencedor da Melhor Pega, através de André Mendes. Pelo grupo alentejano também pegou João Ramalho, à primeira tentativa. Pelos Amadores de Coimbra concretizaram Pedro Casalta à primeira e André Macedo à segunda. Pelos Académicos de Coimbra foram caras Francisco Gonçalves à terceira e João Tavares à primeira.

Termino, com a questão que me tirou o sono. Conseguimos mostrar uma imagem válida do nosso Toureio a Cavalo actual? Convido-vos a deixar a V. opinião nos comentários…

FOTO PEDRO BATALHA


segunda-feira, 5 de agosto de 2024

NAZARÉ: BORJA JIMÉNEZ, UM DOS NOMES DA TEMPORADA!

Por: Catarina Bexiga

APOSTA, COMPLETAMENTE, GANHA. A noite, de ontem, na Nazaré, rompeu todos os “tabus” em relação à receptividade do Toureio a Pé em Portugal. Depois de tudo o que, o matador de toiros Borja Jiménez, vem “dizendo” no seu país, inclusive, com duas saídas em ombros da Monumental de Las Ventas, uma em Outubro e outra em Maio; Rui Bento foi o único que teve visão taurina, para, de imediato, contratar o diestro de Espartinas para a praça de toiros da Nazaré. E quando à gosto em fazer as coisas… o esforço, normalmente, tem recompensa; pois pouco faltou para esgotar o papel. Que sirva de exemplo!

Borja Jiménez está num momento cumpre. E veio à Nazaré com a mesma entrega, com que o temos visto, quer em praças de menor como de maior importância. As suas duas faena foram muito similares a nível do que é o seu conceito. Ocorrem, agora mesmo, três palavras: Convicção, muito Firmeza e um toureio Poderosíssimo; deixando passar os toiros muito perto da taleguilla, baixando muito a mão e rematando os muletazoz atrás das costas. Completamente entregue e responsabilizado. Merecida a saída em ombros.

Ao novilheiro Tomás Bastos tocou um lote exigente. Templadas e cadenciadas foram as verónicas no seu primeiro e cingidas as chicuelinas no segundo. Aliás, ambos os toureiros responderam aos quites, o que tornou a noite ainda mais interessante. De bandarilhas, cumpriu com soltura. Apesar da sua facilidade em estar na cara dos novilhos, as suas duas faenas ficaram comprometidas pela falta de entrega dos exemplares de Manuel Veiga. O primeiro era tardo a investir, e roubou ritmo à faena; e o segundo apenas permitia ligar dois muletazos, embora o começo de faena tenha sido vibrante, de joelhos em terra. Tomás valeu-se do seu querer para dar a volta à “tortilla”.  

A cavalo, as lides estiveram a cargo de pai de filho. De António Ribeiro Telles o melhor que se viu foram os três ferros à tira, montado no “Hibisco”, com que recebeu o seu primeiro toiro de Condessa de Sobral. Daí para a frente, a sorte não lhe sorriu…

António Ribeiro Telles filho foi à Nazaré marcar pontos. No toiro a sós, montado no “Jesuita” apontou dois compridos de frente, vencendo o pitón da sorte e cravando com impacto. Com o “Sherpa”, houve dinâmica e propósito no que fez, mas o auge da actuação surgiu com o terceiro e quarto curto. 

Na lide a duo, que encerrou a noite, voltou a ser António filho o mais interventivo.

Pelos Amadores de Vila Franca de Xira, rija pega de André Câncio que dobrou Rafael Plácido; seguindo-se outras duas grandes intervenções de Vasco Carvalho (com uma grande primeira ajuda) e Lucas Gonçalves, ambos à primeira tentativa.

No fim, saíram em ombros Borja Jiménez e Tomás Bastos, bem como António Telles filho.

Uma noite que fica na história da temporada de 2024!

P.S.: A simpática praça de toiros da Nazaré tem um ambiente sui generis, mas não deverá cair em exageros… entre eles, a intervenção demasiado efusiva do “locutor” de serviço. 

 FOTO: FERNANDO JOSÉ

segunda-feira, 8 de julho de 2024

VILA FRANCA: IMPORTANTE TARDE DE FRANCISCO PALHA. NOVA SAÍDA EM OMBROS DE TOMÁS BASTOS!!!

Por: Catarina Bexiga

A Palha Blanco ganha sempre outras cores e outro brilho pelas Festas do Colete Encarnado. Ontem, na sua arena fez-se história… O cavaleiro Francisco Palha esteve colossal e o novilheiro Tomás Bastos voltou a tocar no coração dos vilafranquenses.

Francisco Palha assinou uma das suas tardes mais convincentes, pela maturidade e seriedade do seu toureio; e pela vontade e superação que pôs em tudo o que fez. Os toiros mansos ou difíceis também têm lide e a sua resposta foi inequívoca. Palha prescindiu do toureio “da moda” para se impor com o toureio imortal, de todos os tempos.  Ao seu primeiro de Ribeiro Telles faltou entrega, vindo a menos com o decorrer da lide. De saída, montado no “Estrondo”, apontou dois compridos poderosíssimos, merecedores de música… que só tocou mais tarde. Depois com o “Pica-Pau”, o primeiro curto teve a capacidade de surpreender, e logo a seguir um recorte arriscado custou-lhe a colhida. Palha prosseguiu com o “Jaquetón”, para cravar mais quatro curtos com entrega e mérito.  Se o primeiro teve dificuldades, o seu segundo somou outras mais. O toiro mostrou-se indiferente ao cavalo e tapou-se no momento do ferro. De saída com o “Estrondo”, Palha apenas cumpriu, porque o de Ribeiro Telles não proporcionou outra coisa. E, novamente, com o “Jaquetón”, desafiou-se a si próprio. Não desistiu nem abreviou, pelo contrário, quis mostrar a dimensão do seu toureio. Seguiram-se cinco curtos com um querer invulgar e um mérito elevadíssimo. Tarde importante de Francisco Palha em Vila Franca.

O novilheiro Tomás Bastos é actualmente “a luz ao fundo do túnel”. É impressionante a facilidade com que “anda” na cara dos novilhos, com que liga os muletazos, ou com que resolve os problemas. De capote mostrou-se variado, mas também a gosto; como profundas e sentidas foram as Verónicas com que recebeu o seu primeiro, ou as Chicuelinas no seu segundo. Com as bandarilhas cumpriu com soltura, com destaque para o segundo par ao quinto da tarde. Os dois novilhos de Paulo Caetano tiveram como denominador comum a nobreza, sendo mais repetidor o primeiro. Com a primeira faena, facilmente colocou a afición da Palha Blanco de acordo, que explodiu de entusiasmo logo nos primeiros momentos, quando se colocou de joelhos para dar dois cambiados pelas costas. Pela direita, as series foram ligadas e encajadas; e os naturais lentos e profundos. A faena ao último voltou a ter vibração, com o novilho de Paulo Caetano a proporcionar, novamente, a Tomás Bastos mostrar o toureiro que tem dentro.

João Telles Jr. teve uma tarde muito dentro do seu estilo. O seu primeiro de Ribeiro Telles foi um toiro fácil, sem querenças, que proporcionou o toureio de cites largos, de praça a praça, investidas obedientes, etc. Montado no novato “Martini”, João andou sobrado em praça, optando por cravar quatro curtos a quiebro, sendo o último o de reunião mais ajustada. Com o segundo do seu lote, um toiro sem entrega, que se doeu, João marcou a diferença com o “Marfim”, dando importância ao toureio de saída. Depois com o “Gaiato” fez o toureio harmonioso que lhe é característico. Terminou com dois curtos com o “Ilusionista”, com mais eco nas bancadas o primeiro. No fim, foi despropositada a volta do ganadero.

Pelos Amadores de Vila Franca pegaram o cabo Vasco Pereira à primeira, em tarde de despedida João Maria Santos também à primeira, Lucas Gonçalves à primeira na pega com mais “som”, e a terminar Rodrigo Andrade também à primeira.

Fim-de-semana de emoções fortes para os vilafranquenses – onde o Campino merece especial carinho e admiração – que terminou com uma grande tarde de toiros na Palha Blanco e saída em ombros de Tomás Bastos!

FOTOS: PEDRO BATALHA

 

sexta-feira, 5 de julho de 2024

CAMPO PEQUENO: GRANDE NOITE DOS HOMENS DA JAQUETA DE RAMAGENS!

Por: Catarina Bexiga

Este é o “novo” Campo Pequeno que nos toca viver. Muito diferente. Muito distante de outros tempos. Mas é a realidade. Utopia será pensar que algo vai mudar. Uns farão a sua apologia, porque se angariou novos públicos, com pessoas muito mais simpáticas e entusiastas, com as quais se consegue encher mais facilmente as bancadas. Outros, defenderão que a Catedral do Toureio a Cavalo deveria pautar por maior seriedade e exigência, sem pseudo-trapio no campo ganadero e sem triunfalismos ocos dos toureiros. Habituem-se, porque a realidade está à vista…

Em noite de homenagem a dois gigantes que envergaram a jaqueta de ramagens dos grupos de Santarém e Montemor-o-Novo – Nuno Megre e João Cortes – o protagonismo maior coube, exactamente, aos forcados. E que grande noite tiveram ambos os grupos. Por Santarém, João Faro pegou à primeira, seguiu-se Francisco Cabaço numa pega histórica também à primeira, e fechou Joaquim Grave também à primeira. Pelo grupo de Montemor-o-Novo, pegaram de cernelha António Pena Monteiro e Joel Santos, seguiu-se Francisco Borges à primeira e José Maria Pena Monteiro numa grande pega à segunda tentativa. No fim, os prémios Melhor Grupo e Melhor Pega recaíram no grupo de Santarém.

De Toureio a Cavalo, a noite é fácil de resumir. João Moura Jr. esteve discreto em ambos do seu lote, vindo para cima, com o “Hostil” com duas grandes “Mourinas” no quarto da ordem. Uma sorte diferente, vibrante e impactante, chancela do seu toureio. Marcos Tenório esteve poderosíssimo com o “Danone” no seu primeiro. Uma porta gaiola, um comprido e três curtos que marcaram a noite. Só é pena que não dê continuidade ao conceito que pratica com este cavalo. A António Telles filho tocou o lote com mais problemas, e a sua determinação e disposição foram essenciais para contornar as adversidades.

O curro de Murteira Grave saiu justa de trapio para o Campo Pequeno. Bem sei que são toiros “filhos do “Covid-19” e que actualmente a oferta no campo não é ampla. Apesar de tudo, aconselho, novamente, à empresa rever o seu conceito de trapio. O primeiro teve mobilidade, mas não teve som. O segundo foi manso, sem fijeza, investindo por dentro ao lado do cavalo e raspou. O terceiro foi reservado e também raspou. O quarto (com o N.º10) foi o toiro da noite, com uma investida pronta e alegra. O quinto cumpriu. E o sexto também teve tendência para investir por dentro e faltou-lhe entrega.

De parabéns estão os dois grupos de forcados. De verdade foram deles os momentos mais apaixonantes e emocionantes da noite!

Foto: Facebook Amadores de Santarém

 

domingo, 23 de junho de 2024

CARTAXO: A DIMENSÃO DO VERDADEIRO TOUREIO A CAVALO!

Por: Catarina Bexiga

É assim que entendo e defendo o nosso Toureio a Cavalo. Como o que vimos, na noite de ontem, no Cartaxo. O Toureio a Cavalo na sua essência, de acordo com o comportamento do toiro, um “exercício” em função das virtudes ou das dificuldades de cada animal, de entendimento, de superação, de domínio, etc. Pela “porta dos sustos” saiu um curro de Vale Sorraia, superiormente apresentado, todos cardenos e com caras de impor respeito. Não saíram dois toiros iguais, muito menos “comerciais”, uns tiveram mais problemas do que outros, mas todos exigiram que os toureassem de verdade. O segundo da noite foi o de melhor jogo, investindo com prontidão nos cites e alegria nas investidas; um toiro com ímpeto que colocou à prova o cavaleiro.

João Salgueiro da Costa (nos dois toiros) e Luís Rouxinol Jr. (sobretudo, no seu primeiro) assumiram o compromisso com muita seriedade e tomaram conta da noite. Não cederam a “modas” e tourearam como tinham que fazer… No momento do ferro, o toiro de João Salgueiro da Costa tinha uma investida voluntariosa, mas daquelas que incomodam; e o cavaleiro pôde com ele. Montado no “Jic” abordou com uma pureza quase rara de se ver nos tempos de hoje e a serie de cinco curtos manteve-nos pendentes do que se estava a passar na arena. Com o seu segundo, conservou a sua postura, e com o “Litri” os dois últimos curtos foram os mais impactantes. Noite importante de Salgueiro da Costa!

Luís Rouxinol Jr. teve que colocar a cabeça a funcionar e a disposição ON para dar a volta ao seu primeiro. O toiro era imprevisível, emparelhava-se com o cavalo, mas sem estar fixo, chegando mesmo a procurar as tábuas. Montado no “Girassol”, atacou com poderio, impôs-se às adversidades e a actuação teve muito mérito. Com o segundo do seu lote, andou muito ligado, mas o toureio cambiado do “Jamaica” comprometeu o início da serie de curtos. Só quando enganou menos o toiro é que surgiram os melhores ferros.

Muito acarinhada pelo seu público, Ana Rita viu-se determinada e desembaraçada; mas em ambos do seu lote, sentiu dificuldades em ultrapassar os “enigmas” apresentados pelos toiros de Vale Sorraia.

As pegas estiveram a cargo de dois grupos, que também tiveram que se agigantar com os de Vale Sorraia. Pelos Amadores de Azambuja Ruben Santos dobrou Claúdio Carvalho, seguiu-se Hugo Mendes à primeira tentativa e João Gonçalves à terceira. Pelo grupo do Cartaxo pegaram Fábio Beijinho à primeira, Bernardo Sá também à primeira e a encerrar Tiago Fonseca à terceira.

Termino como comecei. É assim que entendo e defendo o nosso Toureio a Cavalo! Sem monotonia. Sem repetibilidade. Fica a mensagem…


 


 

terça-feira, 11 de junho de 2024

A PROPÓSITO DA 2.ª TARDE DA FEIRA DE SANTARÉM

Por: Catarina Bexiga

O que foi - o dia 10 de Junho - e o que poderá ser o resto da temporada)? Esta é a questão que coloco a mim própria, após a segunda tarde de toiros da Feira de Santarém.

A Monumental Celestino Graça é, actualmente, a nossa maior praça, com lotação para cerca de 12.000 espectadores. Esgotou dois dias antes, o que revela que existem muitas pessoas receptivas ao espectáculo taurino, assim lhes apresentem aliciantes… A Corrida Mista jamais pode ser olhada como “enteada”, pois chegou a preencher parte significativa nas temporadas dos anos 60 e 70 com grande êxito. O que precisa, actualmente, é de provocar interesse; ao mesmo tempo, que seja estimada e promovida. Como o fez a Associação Sector 9 em Santarém!

E agora o que esperar da restante temporada?

Com a “concorrência” que existe, hoje em dia, ao espectáculo taurino, defendo a ideia de que o mesmo não pode ser um simples negócio para quem o monta e a contar com a caridade dos aficionados. Mais do que nunca, tem que ser pensado com muita afición e tratado com “gosto”.

O nosso espectáculo taurino precisa de intensidade, traduzida em emoção dentro da arena e paixão nas bancadas; e jamais de triunfos fingidos, daqueles que ninguém se lembra no dia seguinte. Esses nunca terão força para mover os aficionados. Todos sabemos que foi Andrés Roca Rey quem esgotou Santarém. Aconteceu, porque se arrima, porque impacta com a quietude e as cercanias do seu toureio, porque tem triunfado nas grandes feiras de todo o mundo… Por isso, é Figura do Toureio!

Não vou aqui fazer considerações profundas sobre a tarde de toiros propriamente dita. Fico-me com a primeira faena do toureiro peruano a um toiro de Álvaro Nuñez que revelou mais nobreza que transmissão; preocupa-me o triunfalismo vivido com o que se viu de Toureio a Cavalo; recordo o “Capelista”, com o N.º 19, da ganadaria de Murteira Grave; e torna-se sempre interessante ver a eterna rivalidade entre os Amadores de Santarém e Montemor-o-Novo. Foi ainda merecida a alternativa bonita que teve o bandarilheiro escalabitano Duarte Silva.

Passada que está a segunda tarde de toiros da Feira de Santarém – um dia que ficará para a história, pela resposta dada pelos aficionados – agora que temos uma temporada pela frente, precisamos que nos voltem a dar motivos… para voltar a encher as nossas praças!

FOTO: PEDRO COSTA

segunda-feira, 10 de junho de 2024

A PRÓPOSITO DA 1.ª TARDE DA FEIRA DE SANTARÉM

Por: Catarina Bexiga

Assisti à primeira tarde de toiros em Santarém; mas, passadas mais de 24 horas sobre o acontecimento, tendo já amadurecido sobre o que vi, prefiro ser menos concreta e muito mais ampla na minha abordagem.

Do meu ponto de vista, o cartel estava interessantíssimo e rematadíssimo: Duas ganadarias sérias; Três cavaleiros que precisam de se consolidar e, ao mesmo tempo, dar seguimento ao que de bom têm conseguido mostrar aos aficionados; Um grupo de Forcados de renome.

Porque conheço as particularidades do nosso público, questionei-me, no Sábado, quantas pessoas teriam ido atraídas pelo cartel no seu todo? Quantas, pelas duas ganadarias? Quantas, pelos três cavaleiros? E quantas pela encerrona do grupo de forcados da terra? Foi fácil perceber…

Os Amadores de Santarém tiveram uma grande tarde e não restam dúvidas que o Forcado é o elemento que mais leva pessoas à praça. Os de Santarém foram autores dos momentos de maior expectativa, dos momentos mais emocionantes, dos momentos que despertaram maior paixão.  Os “VeigaTeixeiras” e os “AntónioSilvas” foram exigentes para os forcados e foram toiros para “homens de barba rija”. Das seis pegas destaco as três últimas: a de João Faro com uma enorme ajuda de João Manoel; a de António Queiroz e Mello e a de Francisco Cabaço. Diferentes, mas extraordinárias. Na primeira parte, foram solistas o cabo Francisco Graciosa; Joaquim Grave que dobrou Francisco Paulos; e Salvador Ribeiro de Almeida. No fim, o grupo deu uma apoteótica volta à arena. Merecida!

A seriedade do toiro deveria ser sempre a base de tudo. E nunca ser subjectiva. No Sábado, saíram toiros de ambas as ganadarias que mereciam ser aplaudidos pela sua apresentação e não foram… O N.º 829, de nome “Colete”, da ganadaria de Veiga Teixeira, foi um grande toiro, as suas hechuras não mentiam, revelando muitas virtudes, mas, essencialmente, prontidão nos cites. O ganadero foi premiado com volta à arena. Ao primeiro da tarde de Veiga Teixeira faltou entrega; o seguinte de António Silva careceu de som; o terceiro da ordem também de Veiga Teixeira foi o toiro da corrida; o quarto de António Silva saiu manso com querença em tábuas, ao quinto oriundo do Pedrogão também faltou entrega e o sobrero lidado em sexto lugar de António Silva investia por alto no momento do ferro.

Sou consciente que faço parte de uma minoria (em vias de extinção) que vai à praça, essencialmente, pelo Toureio a Cavalo, pelo nosso Toureio a Cavalo! Pois, hoje, perdeu-se o hábito de falar sobre o tema: o que se deve fazer em função do comportamento do toiro; a querença que manifesta; o terreno onde se deve colocar; a distância que se deve dar; a forma como ganhar o piton da sorte; etc. São essas “variáveis” que tornam apaixonante a modalidade. Pelo menos, para mim. Apesar de em Portugal “se cantarem” sempre grandes triunfos; fico-me com o toureio de saída de Francisco Palha e a sua entrega; com a boa-vontade de Miguel Moura em ambos do seu lote; e com a sinceridade e pureza do toureio de João Salgueiro da Costa no seu primeiro. O Toureio a Cavalo no nosso país precisa, urgentemente, de despertar o interesse do público. Mas também é preciso que o mesmo entenda o que vê. Cada dia passado é um dia perdido. Esta temporada vai ser decisiva!

FOTO: PEDRO BATALHA

 

segunda-feira, 13 de maio de 2024

SALVATERRA: A GRANDE DIMENSÃO DE ANA BATISTA, E O QUE PODERIA SER A OUTRA DIMENSÃO DE BASTINHAS!


 Por: Catarina Bexiga

Ver tourear bem a cavalo já é quase um milagre. E ver tourear bem, várias vezes, numa só tarde, já são dois milagres seguidos! Tivemos sorte os que fomos, ontem, a Salvaterra de Magos.

Começo pelo nome mais sonante. Das muitas que já toureou na sua terra natal, acredito que esta tarde de Ana Batista lhe irá ficar na memória e no coração. Ana foi autora de duas actuações completamente distintas, mas que revelam a grande dimensão do seu toureio. O toiro de João Ramalho foi fácil e permitiu à cavaleira desfrutar do momento. Montada no “Pérola”, a serie de curtos foi o protótipo da perfeição, pela importância que deu a todos os tempos da sorte: mostrando-se no cite, abordando lentamente, entrando ao toiro sem enganos, reunindo ao estribo e rematando o ferro. Tudo feito com temple e classe. Tudo feito com harmonia. Só faltou que o adversário transmitisse um pouco mais, para que a actuação chegasse mais às bancadas. Fica para quem entendeu a mensagem. Com o toiro de Prudêncio a história foi outra. Como dizem os espanhóis, um toiro “con muchas teclas para tocar”, com tendência para cortar caminho e bruto nas investidas. Ana recorreu ao “Hermoso” e não podia ter estado mais valente e decidida. Era o que o toiro pedia e essa foi a grande virtude da actuação. No dia-a-dia, as conquistas por mérito têm muito valor, nas no toureio têm ainda mais, porque na arena “joga-se” a vida de verdade!

Depois da grande dimensão de Ana Batista, apetece-me escrever que Marcos Tenório também poderia dar outra dimensão ao seu toureio. Assim o quisesse, porque tem audácia e capacidade que sobram para isso. Tocou-lhe o vencedor do concurso, pertencente à ganadaria do Dr. António Silva, um toiro com mobilidade e transmissão. Marcos quis “mostrar” o adversário – aliás, como deveriam fazer todos os cavaleiros nas corridas concurso – e montado no “Danone” os dois compridos e os dois curtos que fizeram parte da fase inicial da actuação, foram “de lhe tirar o chapéu”. De poder a poder, com emoção. Dos que já se vêm poucas vezes. Deu gosto bater-lhe palmas. Após mudar de montada, seguiu-se uma versão muito mais populista. Com o último do lote, um Ribeiro Telles que veio de mais a menos com o decorrer da lide, voltou a dar nas vistas quando recorrer novamente ao “Danone” para um grande um bom par de bandarilhas. 

Luís Rouxinol valeu-se da sua larga experiente para também deixar o seu nome escrito nesta primeira tarde da temporada de Salvaterra de Magos. Com o exigente toiro do Eng. Jorge de Carvalho, que foi incomodo nos cites, porque raspou várias vezes e doeu-se outras tantas, montado no “Girassol” temos que lhe reconhecer valor, pela forma como superou os problemas, que não foram poucos. Com o sobrero da mesma ganadaria, um toiro mais agradável, montado no “Jamaica” a actuação resultou menos consistente.

Tarde com um significado especial para os Amadores do Ribatejo, com a presença de antigos e actuais elementos do grupo. Porque se encerraram com seis toiros e pela despedida do seu cabo, que escolheu para a sua última pega o toiro mais sério da tarde. Pegaram André Laranjinha à terceira tentativa; Fábio Casinhas à primeira; Pedro Espinheira à primeira; o novo cabo Rafael Costa, numa grande pega, à primeira; Dário Silva à segunda e Ricardo Regueira à primeira.

A tarde terminou com a entrega dos prémios do Concurso de Ganadarias. O prémio Apresentação recaiu no exemplar do Eng. Jorge de Carvalho e o prémio Bravura no toiro do Dr. António Silva.

FOTO: PEDRO BATALHA

sexta-feira, 10 de maio de 2024

CHAMUSCA: FERRERA “GOZOU COM O PAGODE”!

Por: Catarina Bexiga

O matador de toiros António Ferrera conhece a afición portuguesa. Quiçá como poucos toureiros. Sabe das suas “fragilidades e facilidades”; mas também deveria saber que há aficionados íntegros nas nossas bancadas e que a data de Quinta-feira da Ascensão na Chamusca tem história e merece respeito. Ferrera tem o seu estilo – inclusive, a sua trajetória tem imenso mérito – mas desta vez abusou. A exuberância do Ferrera que se viu, ontem, na centenária arena da Chamusca, roçou o desproposito e a loucura. Começou logo durante as pegas. Após as tentativas frustradas por parte dos dois grupos, saltou à arena, quando os “homens de seda e prata” estavam no seu lugar e a desempenhar o seu papel, numa tentativa clara de dar nas vistas. Mas não ficámos por aqui. Os toiros de Murteira Grave não tiveram classe, mas a sua atitude “de guerra” piorou ainda mais as condições dos exemplares oriundos da Galeana. Também não se mostrou disponível para bandarilhar. No seu primeiro deu duas voltas por conta própria; e no último, durante a faena, pressionou o Director de Corrida para lhe conceder a música… como o pasodoble não lhe agradava, mandou parar a banda e mandou trocar a pauta. Estava em Portugal, valeu tudo!

De toureio a cavalo também há pouco para escrever. Os toiros de Passanham saíram dispares de jogo. Os dois primeiros (mais pequenos) colaboraram, mas os dois últimos (maiores e bastos) foram mais reservados. De Francisco Palha recordo os dois compridos, de saída, no seu primeiro, e depois dois curto com o “Roncalito” no quarto da tarde. De António Telles filho guardo apenas a forma sobrada como lida os toiros.

Pelos Amadores da Chamusca pegaram Mário Ferreira (que se despediu) à segunda tentativa e Diogo Marques à terceira. Pelo Aposento da Chamusca concretizaram Francisco Barreiros à quarta (dobrou Tomás Duarte) e Vasco Coelho dos Reis à primeira.

O prémio para a Melhor Lide a Cavalo recaiu em Francisco Palha e o prémio para a Melhor Pega em Vasco Coelho dos Reis. 

 

quinta-feira, 2 de maio de 2024

CARTAXO: TOUREIROS CUMPRIRAM, MAS MESMO ASSIM SOBRARAM TOIROS!

 

Por: Catarina Bexiga

Para os toureiros serviram todos, para o ganadero depende do seu conceito e da sua exigência. Porque cada criador tem “um toiro” na cabeça.  Mas, a verdade é que, o interesse maior da tarde, de ontem, no Cartaxo esteve no curro enviado pelo Eng.º Jorge de Carvalho. Como denominador comum, tiveram mobilidade e até uma “bondade/facilidade” que não é apanágio na ganadaria. O primeiro foi suavón e teve ritmo na investida; o segundo foi pronto no momento do cite, inclusive, no fim investiu em contra-querença; o terceiro teve tendência para se distrair um pouco no momento do cite, mas também teve continuidade na investida e até um pouco mais de “som”; o quarto investiu, mas evidenciou pouca força; o quinto foi o de melhor tipo, e um toiro colaborador e obediente; e o último, o único que raspou e doeu-se, mas deu emoção à actuação. A filha do ganadero, Eng.ª Raquel Carvalho, deu volta no quinto da ordem.

O rejoneador Leonardo Hernández e o cavaleiro João Telles Jr. viram-se desafogados, com conceitos idênticos – já lá vai o tempo em que entre o rejoneio e o toureio a cavalo à portuguesa existiam diferenças significativas (a nosso favor!) – apresentando argumentos para todos os toiros, mas sem força para entusiasmar nos seus primeiros. As suas melhores actuações aconteceram nos dois últimos da tarde. Com o quinto, Leonardo com o “Calimocho” teve a prestação mais coesa, foi mais provocador nas abordagens e tirou partido dos remates; e, com o sexto, João Telles logrou os dois ferros da tarde, o terceiro curto com o “Gaiato” (um grande ferro) e o quarto montado no “Ilusionista”, aguentando e aproveitando uma arrancada brusca do adversário.

Partilharam as pegas três grupos de forcados. Pelos Amadores do Ribatejo pegaram André Laranjinha à primeira tentativa e Fábio Casinhas à terceira. Pelos Amadores de Cascais concretizaram Afonso Tomás da Cruz à primeira e Francisco Pinto à quarta. Pelos Amadores do Cartaxo foram solistas Vasco Campino e José Oliveira, ambos ao segundo intento.

A praça de toiros do Cartaxo está a assinalar o seu 150º Aniversário e voltará a dar toiros no próximo dia 22 de Junho. Que seja uma noite com mais público e mais ambiente. Porque esta deixou pouco a desejar nesse capítulo.


quinta-feira, 28 de março de 2024

DE UM DOMINGO DE PÁSCOA SEM TOIROS À ESPERANÇA NOS RESTANTES “DOMINGOS”…


 Por: Catarina Bexiga

É utopia ambicionar um Campo Pequeno como o de antes. Mas esse mesmo Campo Pequeno faz parte da história, e o Aficionado tem o dever de conhecer a própria história.

Levou-me a curiosidade a ir “espreitar” o Campo Pequeno de há, precisamente, 50 anos. Temporada da revolução, com muitos ataques à Festa de Toiros e aos seus protagonistas, mas quem gostava continuou a frequentar o espectáculo e o Campo Pequeno manteve o seu calendário habitual. Para o ano de 1974 anunciaram-se 17 datas; com inauguração a 14 de Abril (Domingo de Páscoa) e o encerramento a 26 de Setembro. A maioria dos espectáculos foram corridas mistas – formato recorrente nos anos 70 – e dos cartéis fizeram parte nomes como os cavaleiros Manuel Conde, José Maldonado Cortes, Frederico Cunha, José Mestre Batista, David Ribeiro Telles, Fernando Salgueiro, Luís Miguel da Veiga, Gustavo Zenkl e José João Zoio, bem como do rejoneador Alvarito Domecq. Para as pegas, entre outros, pegaram os Amadores de Santarém, Montemor-o-Novo, Ribatejo, Alcochete e Évora. De seda e ouro, fizeram o paseíllo os matadores de toiros Mário Coelho, Amadeu dos Anjos, Armando Soares, José Falcão, Ricardo Chibanga, Francisco Ramón “Currillo”, José Júlio, Niño de la Capea, Carnecerito de Ubeda, Mariano Ramos, Fernando dos Santos e Santiago Lopéz. As ganadarias foram as de D. Maria Ana Passanha, Manuel e Carlos Veiga, Ortigão Costa, Cabral Ascensão, Porto Alto e António Brito Paes, entre outras.

A propósito do Domingo de Páscoa de 74 (segundo relato no livro do Campo Pequeno), recordava, com saudade, o conhecido crítico Leopoldo Nunes os “domingos de páscoa” de outros tempos, em que as bancadas eram embelezadas por damas elegantemente vestidas, ladeadas de cavalheiros de chapéu de palhinha. Mal sabia, Leopoldo Nunes, as mudanças muito mais profundas e severas que iria sofrer o próprio Campo Pequeno, na sua estrutura e organização.

Actualmente, sem toiros no Domingo de Páscoa e com quatro espectáculos apenas ao longo do ano, resta-nos a resignação; mas, ao mesmo tempo, a obrigação de dar exigência e importância às praças que ainda a têem.

A temporada de 2024 está a ganhar forma. Infelizmente, as condições meteorológicas impedem a realização dos seis espectáculos anunciados para o fim-de-semana de Páscoa; mas ainda há um longo caminho a percorrer… os cartéis parecem, em boa-hora, mais arejados e os cavaleiros da nova vaga têm uma oportunidade única de convencerem os aficionados. Arrimem-se de verdade. Está na hora!

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