quarta-feira, 6 de outubro de 2021

4.ª DA FEIRA DE VILA FRANCA: SALGUEIRO DA COSTA COLOCA OS PONTOS NOS “I´S”


Por: Catarina Bexiga

João Salgueiro da Costa tem feito um final de temporada surpreendente! É caso para dizer que, em Vila Franca, colocou os pontos nos “I´s”. Depois do triunfo de Quinta-feira o seu nome foi anunciado, pela empresa Tauroleve, para substituir o cavaleiro Francisco Palha na nocturna de Terça-feira. Repto arriscado. E logo com três toiros. Mas Da Costa acreditou em si e nas suas capacidades e voltou, ontem, à Palha Blanco. Se houve alguém que procurou dar importância aos ferros compridos foi João Salgueiro da Costa. No segundo e no sexto, montado no “Xacal” e no quarto com o “L ´Amorino” procurou sempre dar relevância ao toureio de saída, apoderando-se das investidas e impondo-se aos toiros, inclusive preparando as sortes com intencionalidade. Depois do que tenho visto, e no conjunto das actuações, apetece-me escrever que João Salgueiro da Costa vem disposto a restaurar a verdade do Toureio a Cavalo. Esteve superior a lidar com o de Veiga Teixeira, e com o “Chinoca” apontou as suas intenções. Depois com o toiro de Passanha, a actuação foi em crescendo. Foi ele que mandou na arena, praticamente sem a intervenção dos bandarilheiros, e montado no “Alba” a serie de curtos foi verdadeira e explosiva, com a exigente afición vilafranquense rendida à sua obra. A encerrar a noite, com o de Palha, de saída surpreendeu com uma gaiola, e depois com a “Princesa” voltou a colocar em prática um toureio sério, sem enganos, cheio de interesse. Acredito que o nome de João Salgueiro da Costa dê que falar em 2022!
João Telles Jr. teve uma noite mais intermitente que o seu colega de cartel. Foi fiel ao conceito cambiado e também sofreu as consequências da sua escolha. De saída, menosprezou, uma vez mais, os compridos. Depois no seu primeiro, de Pinto Barreiros (o melhor da noite!), de curtos, montado no “Gran Duque” preparou as sortes com ligação e gosto (gostei de o ver a lidar); todavia, as duas passagens em falso, efeito das entradas ao pitón contrário, roubaram força à actuação. Com o toiro de Prudêncio, Telles Jr. conseguiu os melhores momentos da sua passagem pela Palha Blanco, montado no “Guardiola” com dois curtos a quiebro, cingidos e impactantes. Com o exemplar de Canas Vigouroux, montado no “Gaiato”, o primeiro curto foi convincente, mas depois os resultados vieram a menos, porque o toiro começou a esperar e deixou de empurrar. Por fim, com o “Ilusionista”, e já com o toiro nas tábuas e a raspar, perdeu a noção do óbvio, e as sortes saíram comprometidas, sem lograr o seu desejo.
Noite importante para os Amadores de Vila Franca, onde os forcados novos voltaram a ter uma palavra a dizer. Foram caras Ivo Carvalho à primeira tentativa superiormente ajudado, Rafael Plácido também à primeira, João Luz à terceira, João Matos à segunda também superiormente ajudado, o cabo Vasco Pereira à primeira e Guilherme Dotti à quarta. Mais uma noite de superação e afirmação dos forcados da terra!
Tratando-se de um Concurso de Ganadarias, do meu ponto de vista cometeu-se uma injustiça grande. O toiro de Pinto Barreiro teve mobilidade e durabilidade e foi um toiro enraçado. Para mim, o melhor da noite! Estranhei o público da Palha Blanco não o aplaudir quando recolhia aos curros. O de Veiga Teixeira deixou-se; o de Prudêncio cedo revelou a sua conduta de manso; o de Passanha foi um toiro fácil; o de Canas Vigouroux veio a menos; e o de Palha não teve complicações, mas doeu-se à ferragem. No entanto, no fim o prémio Apresentação e Bravura foi entregue à ganadaria de Palha. Critérios…
Foto: Pedro Batalha

 

domingo, 3 de outubro de 2021

3.ª DA FEIRA DE VILA FRANCA: “JUANITO” COM DIMENSÃO DE FIGURA!


Por: Catarina Bexiga


Uma encerrona é sempre um desafio pessoal e profissional. Um desafio que exige preparação e motivação. Um desafio que pode mudar o futuro! Dois anos depois de se tornar matador de toiros, João Silva “Juanito” escolheu a Palha Blanco para se encerrar com seis toiros de várias ganadarias. Uma tarde que resultou com a saída em ombros do jovem toureiro…

A mensagem deixada por “Juanito” é simples de escrever; mas muitas vezes difícil de alcançar por parte de um toureiro. É preciso ter capacidade para aguentar toda a responsabilidade de uma só tarde; ter capacidade para se inventar e reinventar toiro após toiro; ter capacidade para dizer estou aqui! À arena da Palha Blanco saíram toiros de Falé Filipe, Palha, Varela Crujo, Murteira Grave, Calejo Pires e Ribeiro Telles. A mensagem deixada por João Silva foi a de um toureiro cuajado, com a disposição e a ambição “pelas nuvens”, com firmeza e poderio, mas também com recursos quando os toiros exigem outros predicados… Logo com o primeiro da tarde, da ganadaria de Falé Filipe (um toiro com várias virtudes), colocou o público da Palha Blanco de acordo, e a sua disposição e determinação foram fundamentais para o que se seguiu…Com o toiro de Palha, a faena foi menos intensa que a anterior, mas o toureiro soube manter o enlace… até que saiu o quarto da função, um exemplar de Murteira Grave, que investiu com raça, que repetiu as investidas, e surgiu a faena da tarde! Impactante e criativa. Curiosamente, “Chocolate”, assim se chamava, era filho de um novilho indultado por “Juanito” na sua encerrona, como novilheiro, em Villanueva del Fresno. Coisas do destino...

Na Palha Blanco, viu-se um “Juanito” com dimensão de figura!

2.ª DA FEIRA DE VILA FRANCA: A FIRMEZA DE FERREIRA E A ENTREGA DE “CUQUI”!

Por: Catarina Bexiga

A aposta era arriscada por um lado, mas motivadora por outro. Porém, com o propósito de homenagear os toureiros vilafranquenses e servir de "empurram" para quatro jovens matadores de toiros portugueses. No cartel, António João Ferreira, Nuno Casquinha, Joaquim Ribeiro “Cuqui” e João Diogo Fera anunciados para a Palha Blanco com oito toiros de Oliveira, Irmãos. Uma noite com várias matizes, em que sobressaíram dois nomes: Ferreira e “Cuqui”.

António João Ferreira é um toureiro que continua a surpreender pelo seu valor. A mesma serenidade, a mesma tranquilidade, a mesma quietude… como se toureasse todos os dias. Em ambos do lote, esteve, claramente, por cima das circunstâncias. E se o vimos com as virtudes que lhe são características no primeiro da noite; foi ele que inventou (agigantando-se e superando-se) a faena no quinto da função. Um toureiro com pureza e firmeza, cuja carreira merecia encontrar outro rumo…

Joaquim Ribeiro “Cuqui” atravessa o seu melhor momento. O seu primeiro “oliveira” prometeu, inicialmente investiu com motor, mas durou pouco… contudo, enquanto durou, “Cuqui” aproveitou-lhe as investidas. A primeira serie de derechazos foi intensa e colocou o público da Palha Blanco a seu favor. O seu segundo, foi um toiro que não terminou de convencer (inclusive, houve divisão de opiniões, aquando da intenção de chamar o ganadero à arena), mas investiu pelos dois pitóns e o moitense voltou a estar decidido e entregue.

Nuno Casquinha teve uma passagem discreta por Vila Franca. Poucas horas depois, anunciou a sua retirada das arenas. Suponho que a decisão mais difícil da sua vida, porque Casquinha sempre foi um toureiro persistente e resiliente, um toureiro que teve a capacidade de atravessar o Atlântico, à procura de melhor sorte, um toureiro que sempre acreditou que “o sonho comanda a vida”.

João Diogo Fera apresentou-se no seu pais, e na sua terra, como matador de toiros. Porém faltou-lhe argumentos para se impor ao seu lote. Sobretudo com o sobrero, que saiu em último lugar, os aficionados mereciam ver, da sua parte, mais entrega e maior esforço, o que não aconteceu.

Quem conseguiu aproveitou a oportunidade...

Fotos: Pedro Batalha
 

sexta-feira, 1 de outubro de 2021

1.ª DA FEIRA DE VILA FRANCA: UMA NOITE DE “SECAR A BOCA”!

Por: Catarina Bexiga
É das mais bonitas do país. Senão mesmo, a mais bonita. Mas ontem, a Palha Blanco, estava como em mais nenhum dia. Orgulhosa da sua história. Orgulhosa da sua terra. Orgulhosa dos seus aficionados. Não foi “mais uma” noite de toiros na Palha Blanco. Foi a noite comemorativa do seu 120.º Aniversário. E porque “A Fé é a Força da Vida" , o desfile de campinos à luz das velas e a presença de Nossa Senhora de Alcamé no centro da arena, tornou o ambiente ainda mais especial!
Foi uma noite diferente em muitos aspectos. De imprevisibilidade. De perigo. Até de medo. A começar pelos toiros. Um curro de Palha que impôs respeito perante os problemas que apresentou. Excepto o primeiro, um toiro encastado, sem querenças, que serviu; os restantes estiveram longe de ser o “protótipo” do toiro actual. Na generalidade, esperaram muito, cortaram caminho, taparam-se nos ferros, etc, etc, etc…
Dos seis cavaleiros anunciados, o nome de João Salgueiro da Costa é o que fica escrito a letras maiúsculas na história da noite de 30 de Setembro. O seu “palha” também teve dilemas, mas Da Costa colocou disposição e determinação em tudo o que fez. Não se intimidou com o que vira antes, entendeu o toiro… e a actuação foi subindo de tom ferro após ferro. Mais importante do que procurar a estética (tão na moda e tão padronizada nos tempos actuais, e que estes toiros não permitem), foi revelar ofício e técnica para se conseguir sobrepor aos enigmas. Os três últimos curtos tiveram o reconhecimento do público da Palha Blanco.
A Rui Salvador tocou o “palha” menos exigente. Todavia, Salvador apoderou-se das suas investidas e esteve à altura do desafio.
Apesar do esforço, Luís Rouxinol sentiu dificuldades em encontrar soluções para o seu toiro. Um “palha” que desde o início fez estranhos, que se orientou, que se defendeu nos médios… Um toiro de tirar o sono a qualquer cavaleiro!
Quase sempre, os “palhas” são toiros que não consentem o toureio enganoso. E isso também ficou uma vez mais provado. Dificuldades é a palavra que hoje mais vou utilizar; porque na realidade elas existiram. Filipe Gonçalves sentiu dificuldades em dar a volta ao seu adversário; e Francisco Palha sentiu na pele a dureza dos “palhas”, inclusive, sendo colhido no segundo ferro curto.
Tristão Guedes de Queiroz prestou provas para praticante em Vila Franca. O seu “palha” foi manso, com querença em tábuas… e Tristão teve desembaraço e desparpajo, como dizem os espanhóis.
Se a noite foi dura para os cavaleiros, o que dizer para os forcados? Grande noite de pegas. Grande noite de forcados de caras. Grande noite de ajudas. Pelos Amadores de Vila Franca de Xira concretizaram o cabo Vasco Pereira à terceira, seguindo-se Guilherme Dotti à primeira e João Matos (enorme na cara do toiro) também à primeira. Destacaram-se como ajudas, respectivamente, Diogo Duarte, João Maria Santos e Francisco Calçada. Pelo Aposento da Moita foram solistas Leonardo Mathias à primeira, Martim Cosme à segunda, com braços de ferro, e Tiago Valério à terceira.
Uma noite diferente! Uma noite de “secar a boca”!

 

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