quinta-feira, 6 de outubro de 2022

VILA FRANCA: A TORERÍA DE MORANTE E O QUERER DE JUANITO!

 


Por: Catarina Bexiga

Palha Blanco, 5 de Outubro: uma tarde com aromas a romero. José António “Morante de la Puebla” é um toureiro obstinado pelo passado; que nos faz recuar no tempo; que nos faz viver outra época… e que sempre que se veste de luces apaixona, porque em cada gesto há um propósito e em cada detalhe sobra torería. Especialmente, com o segundo da tarde, um Veiga que teve nobreza, mas faltou-lhe empurre; José António andou a gosto. Normalmente, nos “inícios” e nos “finais” de cada faena, é quando a sua concepção e a sua personalidade são ainda mais acentuadas. E na Palha Blanco isso também se viu. Pelo meio, aproveitou o melhor pitón do toiro, e com profundidade e templanza surgiram os melhores momentos. O quinto revelou-se berreón e violento; apesar do esforço do diestro de La Puebla, o toiro foi pouco agradecido.

A presença de João Silva “Juanito” veio de mais a menos. Tocou-lhe o toiro da tarde, um Veiga que investiu com transmissão, mas que no fim quis ir embora. Concentrado e poderoso, João Silva construiu uma faena que colocou a Palha Blanco de acordo. Faena intensa, sobretudo pelo pitón direito, com ritmo e ligação. Outra versão (mais acelerada e menos convincente) apresentou “Juanito” com o sexto. Depois de um arrebatador começo, com quatro largas cambiadas de joelhos e um quite por lopezinas; o de Monforte quis bandarilhas, mas não esteve à altura do desafio. Conclusão, arrefeceu o ambiente e o entusiasmo. O Veiga ainda prometeu, investindo largo no primeiro muletazo, mas ficando-se curto nos restantes. 

O toureio a cavalo esteve a cargo de João Telles Jr., mas a sua passagem pela Palha Blanco foi comedida. O primeiro e quarto foram lidados pelo cavaleiro da Torrinha; servindo, mas com pouca transmissão um e reservado o outro, um burraco, que era uma estampa. Com o primeiro do seu lote, apostou no “Marfim” e com o segundo no “Gaiato”; andou sobrado com os toiros à garupa; mas faltou-lhe pisar os terrenos que marcam a diferença e pôr ele o que faltava aos toiros. Foi apenas com o “Ilusionista” no seu segundo, que mais empolgou as bancadas da Palha Blanco.

Pelos Amadores de Vila Franca pegaram Luís Valença à primeira tentativa, saindo lesionado e recolhendo directamente à enfermaria; e Rafael Plácido também à primeira.  

Palha Blanco, 5 de Outubro: esta foi uma tarde com um perfume diferente. Toureou Morante de la Puebla!

quarta-feira, 5 de outubro de 2022

VILA FRANCA: ANTÓNIO TELLES, INSPIRAÇÃO E MAESTRIA!

Por: Catarina Bexiga

Mais um triunfo de António Ribeiro Telles na Palha Blanco. Mais um triunfo do Toureio a Cavalo na sua verdadeira dimensão. Mais uma noite para a história a que tivemos o privilégio de assistir na passada Terça-feira. António procurou ser ele próprio – tão simples como pessoa quanto grande como TOUREIRO – e voltou a sentir o bater do coração da sua Palha Blanco. Podia escrever muito; explicar “tintim por tintim” todos os pormenores; mas no papel nunca seria o mesmo que na arena. Faltaria sempre aquela emoção, aquele calor do momento e aquela paixão. O que apenas se sente “in loco”. Especialmente no primeiro e quinto da noite, António revelou a dimensão do seu conceito. Foram duas lições de como tourear (não apenas cravar ferros!) que devem ser percebidas e absorvidas por todos. Porque António é TOUREIRO de toureiros. Arrisco em dizer que a primeira actuação foi de inspiração e a segunda de maestria. Com o toiro de Vale Sorraia (ao qual faltou empurre), montado no “Hibisco” reproduziu a sorte da morte (feita ao ralenti) no segundo comprido e apontou uma grande tira no terceiro. Montado no “Embuçado” manteve-nos pendentes do que lhe saia da alma, destacando-se um grande ferro curto, o terceiro da serie. A sua segunda actuação, com um voluntarioso toiro de Passanha, foi menos definida, mas contou sempre com o calor humano da Palha Blanco. Por fim, com o toiro de Ribeiro Telles (que teve querença junto à porta dos cavalos), a sua obra tocou as nuvens. Não se pode ser mais TOUREIRO. Não se pode entender melhor um toiro. Não se pode explicar melhor o que é o Toureio a Cavalo. Montado no “Alcochete”, António lidou na perfeição, pôs ele tudo, com uma elegância e uma harmonia insuperáveis, com conhecimento dos terrenos e das distâncias, de onde tirar o toiro e de onde pô-lo, por onde passar, como passar… etc. A serie de curtas teve sabor para quem entendeu a mensagem. Tudo como uma Maestria que até arrepiou!

De gerações distantes e conceitos diferentes, do outro lado esteve João Moura Jr. A noite custou a romper ao cavaleiro de Monforte. Com o toiro de Vale Sorraia, pronto e alegre de investidas, as coisas não lhe saíram. Frente ao de Ribeiro Telles (de pouca transmissão), com o “Jet-Set”, só a espaços convenceu. E por fim, com mais um voluntarioso toiro de Passanha, montado no “Neco da Ermida” cravou um grande terceiro curto e com o “Hostil” chegou às bancadas com duas empolgantes mourinas.

Para os Amadores de Vila Franca foi mais uma noite importante. Estão a comemorar 90 anos de existência, mas o grupo está renovado, cheio de sangue novo e com futuro garantido. Foram caras Rodrigo Andrade à primeira tentativa, Rafael Plácido à primeira, Lucas Gonçalves à segunda, Pedro Silva à primeira, o cabo Vasco Pereira à primeira e Guilherme Dotti à primeira com uma grande ajuda do seu irmão Rodrigo Dotti. Noite emotiva pela despedida do rabejador Carlos Silva, um nome que fica na história do grupo vilafranquense.

Fixem a data, 4 de Outubro de 2022, António Ribeiro Telles escreveu com letras de oiro mais uma página brilhante na sua carreira e na história da Palha Blanco!

Foto: Pedro Batalha
 

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

VILA FRANCA: SUPERAÇÃO E MÉRITO…

Por: Catarina Bexiga
Superação e Mérito são as palavras que melhor definem a tarde do último Domingo em Vila Franca. A corrida de Palha foi decepcionante, na generalidade, com dificuldades acrescidas; mas foram dos dois matadores portugueses os momentos da tarde. Embora com argumentos diferentes, António João Ferreira e Joaquim Ribeiro “Cuqui” quiseram justificar a aposta da empresa - e ainda bem que assim aconteceu; mas o mesmo não se passou com o matador espanhol Manuel Escribano.
A corrida de Palha saiu desigual de apresentação, com um único toiro com hechuras para investir, o sexto da tarde, o único mesmo que teve virtudes para com ele se lograr construir uma faena sem que o toureiro passasse um “mal rato”.
Manuel Escribano apresentou-se na Palha Blanco com uma postura defensiva. Embora esteja cuajado em corridas deste tipo no seu país, não foi o Escribano que se esperava. Inclusive, nas bandarilhas, poupou-se, dividindo o tércio com “Cuqui” e com João Ferreira. O seu primeiro Palha investia melhor pelo pitón esquerdo e acabava com a cara por cima do estaquillador pelo direito, mas o público ainda tentou “empurrar” a faena, que não passou de uns naturais mais ostentosos. Com o seu segundo, sem raça e sem repetir, mas menos perigoso que os restantes, o diestro de Gerena andou em plano vulgar e incomodado pela música não tocar…
Para mim, António João Ferreira e Joaquim Ribeiro “Cuqui” acabaram por tomar conta da tarde. Acima de tudo, pela entrega que mostraram, pela superação frente às exigentes investidas dos Palhas e pelo mérito que alcançaram. Deram a cara como "gente grande"!
Ferreira sorteou um lote complicado e perigoso; mas a sua quietude e firmeza são de um toureiro que parece tourear todos os dias, quando sabemos que é, exactamente, o contrário. Tem um valor enorme, os toiros passam-lhe a milímetros da taleguilla e é pena que a sua carreira nunca tenha tomado outros voos. Do meu ponto de vista, Vila Franca esteve fria consigo. Duas faenas de entrega e muito mérito!
Joaquim Ribeiro “Cuqui” conheceu o lado mau e o lado bom dos Palhas. No tércio de bandarilhas que partilhou com Escribano cravou um grande par. O seu primeiro, com quase seis anos de idade (!) e um par de pitóns de meter respeito, investiu com muito génio, mas “Cuqui” esteve laborioso e insistente. O seu esforço não passou despercebido, mas foi, praticamente, inglório. Todavia, a sorte sorriu-lhe no último da tarde. Pela porta dos curros saiu um Palha com qualidade, “Cuqui” aproveitou as virtudes por ambos os pitóns, construiu uma faena com “corpo” e o público entregou-se!
Vestido de prata, merece uma palavra de reconhecimento João Ferreira. Sobretudo, os dois pares de bandarilhas que cravou no segundo da tarde, foram sensacionais. Acredito que o seu nome vai dar que falar! Pelo menos, também ele contribuiu para a história da tarde deste último Domingo na Palha Blanco.
Foto: Miguel Calçada

 

sábado, 1 de outubro de 2022

VILA FRANCA: SALGUEIRO DA COSTA, SERIEDADE E AFIRMAÇÃO!

Por: Catarina Bexiga
João Salgueiro da Costa dispôs-se a viver na Palha Blanco uma noite histórica. Aceitou o desafio de se encerrar com seis toiros; de acreditar em si próprio, na quadra que tem preparado; e nos argumentos do seu toureio. Será sempre uma noite marcante na sua trajectória. E quem assistiu tem a obrigação de chegar a uma conclusão: foi uma noite de seriedade e afirmação a de Salgueiro da Costa!
Se algo o seu toureio nos transmite é seriedade e pureza. E foi isso que procurou fazer toda a noite. Talvez, seja demasiado sério e demasiado puro para os tempos actuais (anti moda), porque não é baseado em “especialidades”; e, provavelmente, por isso a Palha Blanco tenha apenas registado meia casa envergonhada. É o preço que Salgueiro da Costa terá que pagar por ser fiel as suas ideias e ao seu conceito; pois já somos poucos os que vamos ver Tourear a Cavalo na sua verdadeira dimensão.
Se algo o seu gesto nos transmite é de toureiro grande. Porque uma verdadeira encerrona é assim! Foi Salgueiro da Costa que toureou exclusivamente, sem recorrer a nenhuma ajuda, toureando os seis toiros “de cabo a rabo”. E mais, a maioria da quadra leva o ferro da casa Salgueiro e foram postos por si próprio. Mérito acrescido e prazer redobrado.
Não vou pormenorizar as actuações. Mas se exceptuarmos a terceira, com o toiro de Canas Vigouroux, que deu poucas opções; todas as outras tiveram conteúdo e interesse.
De saída marcou a diferença com o “Litri”, recebendo o segundo superiormente, o quarto e o sexto da ordem. Porque à tira também se pode tourear bem! E as duas que apontou no segundo foram empolgantes. Ainda de saída sacou o “Chacal”, mas as entradas ao pitón contrário tiraram brilho às sortes.
Durante toda a noite não faltou a Salgueiro da Costa disposição, nem o foco que levava na cabeça. Com o de Vinhas, que veio de menos a mais, entendeu perfeitamente o toiro, e montado no “L’Amorino” cobrou dois grandes curtos. Com o de Veiga Teixeira, que teve raça a galopar atrás do cavalo, mas esperou no momento do ferro, esteve valente com ele, e com o “Chinoca” levou um toque no quarto curto, mas um toque dos que não mancham, porque arriscou de mais, violando os terrenos. Com o toiro de António Silva, que também se reservou no momento do ferro, numa primeira fase, Salgueiro da Costa esteve precipitado, mas depois o terceiro e quinto curto foram de boa nota. Montado no “Alba”, insistiu em citar de praça a praça, com o toiro junto a tábuas, o que me pareceu uma “lotaria”, porque se o toiro não sai da querença… Todavia, houve dois ferros que salvaram a aposta. Com o de Palha foi a vez que mais sentiu a Palha Blanco. O toiro teve “picante” e pediu um toureiro com recursos e coração. Novamente, com o “L´Amorino” (que no final acompanhou o cavaleiro na volta) a actuação foi em crescendo de expectativas e de resultados, com um quarto curto enorme! Para finalizar o de Passanha foi suavón, e montado na “Princesa” teve que invadir os terrenos para que os ferros surtissem efeito. Em suma, para quem gosta de ver Tourear a Cavalo foi uma noite importante. Disso Salgueiro da Costa pode ficar descansado!
Pelos Amadores de Santarém pegaram Caetano Gallego à primeira tentativa, Francisco Cabaço à quarta e Francisco Paulos à segunda. Pelos Amadores de Vila Franca concretizaram Rodrigo Andrade à primeira, Lucas Gonçalves também à primeira e Rafael Plácido à segunda ajudado superiormente por Rodrigo Dotti.
Em mais um aniversário da Palha Blanco, a noite começou com a imagem de Nossa Senhora de Fátima em procissão com os intervenientes do cartel e com a participação da voz inconfundível de Teresa Tapadas. Uma noite bonita!

Foto: Pedro Batalha

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