quinta-feira, 6 de outubro de 2022

VILA FRANCA: A TORERÍA DE MORANTE E O QUERER DE JUANITO!

 


Por: Catarina Bexiga

Palha Blanco, 5 de Outubro: uma tarde com aromas a romero. José António “Morante de la Puebla” é um toureiro obstinado pelo passado; que nos faz recuar no tempo; que nos faz viver outra época… e que sempre que se veste de luces apaixona, porque em cada gesto há um propósito e em cada detalhe sobra torería. Especialmente, com o segundo da tarde, um Veiga que teve nobreza, mas faltou-lhe empurre; José António andou a gosto. Normalmente, nos “inícios” e nos “finais” de cada faena, é quando a sua concepção e a sua personalidade são ainda mais acentuadas. E na Palha Blanco isso também se viu. Pelo meio, aproveitou o melhor pitón do toiro, e com profundidade e templanza surgiram os melhores momentos. O quinto revelou-se berreón e violento; apesar do esforço do diestro de La Puebla, o toiro foi pouco agradecido.

A presença de João Silva “Juanito” veio de mais a menos. Tocou-lhe o toiro da tarde, um Veiga que investiu com transmissão, mas que no fim quis ir embora. Concentrado e poderoso, João Silva construiu uma faena que colocou a Palha Blanco de acordo. Faena intensa, sobretudo pelo pitón direito, com ritmo e ligação. Outra versão (mais acelerada e menos convincente) apresentou “Juanito” com o sexto. Depois de um arrebatador começo, com quatro largas cambiadas de joelhos e um quite por lopezinas; o de Monforte quis bandarilhas, mas não esteve à altura do desafio. Conclusão, arrefeceu o ambiente e o entusiasmo. O Veiga ainda prometeu, investindo largo no primeiro muletazo, mas ficando-se curto nos restantes. 

O toureio a cavalo esteve a cargo de João Telles Jr., mas a sua passagem pela Palha Blanco foi comedida. O primeiro e quarto foram lidados pelo cavaleiro da Torrinha; servindo, mas com pouca transmissão um e reservado o outro, um burraco, que era uma estampa. Com o primeiro do seu lote, apostou no “Marfim” e com o segundo no “Gaiato”; andou sobrado com os toiros à garupa; mas faltou-lhe pisar os terrenos que marcam a diferença e pôr ele o que faltava aos toiros. Foi apenas com o “Ilusionista” no seu segundo, que mais empolgou as bancadas da Palha Blanco.

Pelos Amadores de Vila Franca pegaram Luís Valença à primeira tentativa, saindo lesionado e recolhendo directamente à enfermaria; e Rafael Plácido também à primeira.  

Palha Blanco, 5 de Outubro: esta foi uma tarde com um perfume diferente. Toureou Morante de la Puebla!

quarta-feira, 5 de outubro de 2022

VILA FRANCA: ANTÓNIO TELLES, INSPIRAÇÃO E MAESTRIA!

Por: Catarina Bexiga

Mais um triunfo de António Ribeiro Telles na Palha Blanco. Mais um triunfo do Toureio a Cavalo na sua verdadeira dimensão. Mais uma noite para a história a que tivemos o privilégio de assistir na passada Terça-feira. António procurou ser ele próprio – tão simples como pessoa quanto grande como TOUREIRO – e voltou a sentir o bater do coração da sua Palha Blanco. Podia escrever muito; explicar “tintim por tintim” todos os pormenores; mas no papel nunca seria o mesmo que na arena. Faltaria sempre aquela emoção, aquele calor do momento e aquela paixão. O que apenas se sente “in loco”. Especialmente no primeiro e quinto da noite, António revelou a dimensão do seu conceito. Foram duas lições de como tourear (não apenas cravar ferros!) que devem ser percebidas e absorvidas por todos. Porque António é TOUREIRO de toureiros. Arrisco em dizer que a primeira actuação foi de inspiração e a segunda de maestria. Com o toiro de Vale Sorraia (ao qual faltou empurre), montado no “Hibisco” reproduziu a sorte da morte (feita ao ralenti) no segundo comprido e apontou uma grande tira no terceiro. Montado no “Embuçado” manteve-nos pendentes do que lhe saia da alma, destacando-se um grande ferro curto, o terceiro da serie. A sua segunda actuação, com um voluntarioso toiro de Passanha, foi menos definida, mas contou sempre com o calor humano da Palha Blanco. Por fim, com o toiro de Ribeiro Telles (que teve querença junto à porta dos cavalos), a sua obra tocou as nuvens. Não se pode ser mais TOUREIRO. Não se pode entender melhor um toiro. Não se pode explicar melhor o que é o Toureio a Cavalo. Montado no “Alcochete”, António lidou na perfeição, pôs ele tudo, com uma elegância e uma harmonia insuperáveis, com conhecimento dos terrenos e das distâncias, de onde tirar o toiro e de onde pô-lo, por onde passar, como passar… etc. A serie de curtas teve sabor para quem entendeu a mensagem. Tudo como uma Maestria que até arrepiou!

De gerações distantes e conceitos diferentes, do outro lado esteve João Moura Jr. A noite custou a romper ao cavaleiro de Monforte. Com o toiro de Vale Sorraia, pronto e alegre de investidas, as coisas não lhe saíram. Frente ao de Ribeiro Telles (de pouca transmissão), com o “Jet-Set”, só a espaços convenceu. E por fim, com mais um voluntarioso toiro de Passanha, montado no “Neco da Ermida” cravou um grande terceiro curto e com o “Hostil” chegou às bancadas com duas empolgantes mourinas.

Para os Amadores de Vila Franca foi mais uma noite importante. Estão a comemorar 90 anos de existência, mas o grupo está renovado, cheio de sangue novo e com futuro garantido. Foram caras Rodrigo Andrade à primeira tentativa, Rafael Plácido à primeira, Lucas Gonçalves à segunda, Pedro Silva à primeira, o cabo Vasco Pereira à primeira e Guilherme Dotti à primeira com uma grande ajuda do seu irmão Rodrigo Dotti. Noite emotiva pela despedida do rabejador Carlos Silva, um nome que fica na história do grupo vilafranquense.

Fixem a data, 4 de Outubro de 2022, António Ribeiro Telles escreveu com letras de oiro mais uma página brilhante na sua carreira e na história da Palha Blanco!

Foto: Pedro Batalha
 

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

VILA FRANCA: SUPERAÇÃO E MÉRITO…

Por: Catarina Bexiga
Superação e Mérito são as palavras que melhor definem a tarde do último Domingo em Vila Franca. A corrida de Palha foi decepcionante, na generalidade, com dificuldades acrescidas; mas foram dos dois matadores portugueses os momentos da tarde. Embora com argumentos diferentes, António João Ferreira e Joaquim Ribeiro “Cuqui” quiseram justificar a aposta da empresa - e ainda bem que assim aconteceu; mas o mesmo não se passou com o matador espanhol Manuel Escribano.
A corrida de Palha saiu desigual de apresentação, com um único toiro com hechuras para investir, o sexto da tarde, o único mesmo que teve virtudes para com ele se lograr construir uma faena sem que o toureiro passasse um “mal rato”.
Manuel Escribano apresentou-se na Palha Blanco com uma postura defensiva. Embora esteja cuajado em corridas deste tipo no seu país, não foi o Escribano que se esperava. Inclusive, nas bandarilhas, poupou-se, dividindo o tércio com “Cuqui” e com João Ferreira. O seu primeiro Palha investia melhor pelo pitón esquerdo e acabava com a cara por cima do estaquillador pelo direito, mas o público ainda tentou “empurrar” a faena, que não passou de uns naturais mais ostentosos. Com o seu segundo, sem raça e sem repetir, mas menos perigoso que os restantes, o diestro de Gerena andou em plano vulgar e incomodado pela música não tocar…
Para mim, António João Ferreira e Joaquim Ribeiro “Cuqui” acabaram por tomar conta da tarde. Acima de tudo, pela entrega que mostraram, pela superação frente às exigentes investidas dos Palhas e pelo mérito que alcançaram. Deram a cara como "gente grande"!
Ferreira sorteou um lote complicado e perigoso; mas a sua quietude e firmeza são de um toureiro que parece tourear todos os dias, quando sabemos que é, exactamente, o contrário. Tem um valor enorme, os toiros passam-lhe a milímetros da taleguilla e é pena que a sua carreira nunca tenha tomado outros voos. Do meu ponto de vista, Vila Franca esteve fria consigo. Duas faenas de entrega e muito mérito!
Joaquim Ribeiro “Cuqui” conheceu o lado mau e o lado bom dos Palhas. No tércio de bandarilhas que partilhou com Escribano cravou um grande par. O seu primeiro, com quase seis anos de idade (!) e um par de pitóns de meter respeito, investiu com muito génio, mas “Cuqui” esteve laborioso e insistente. O seu esforço não passou despercebido, mas foi, praticamente, inglório. Todavia, a sorte sorriu-lhe no último da tarde. Pela porta dos curros saiu um Palha com qualidade, “Cuqui” aproveitou as virtudes por ambos os pitóns, construiu uma faena com “corpo” e o público entregou-se!
Vestido de prata, merece uma palavra de reconhecimento João Ferreira. Sobretudo, os dois pares de bandarilhas que cravou no segundo da tarde, foram sensacionais. Acredito que o seu nome vai dar que falar! Pelo menos, também ele contribuiu para a história da tarde deste último Domingo na Palha Blanco.
Foto: Miguel Calçada

 

sábado, 1 de outubro de 2022

VILA FRANCA: SALGUEIRO DA COSTA, SERIEDADE E AFIRMAÇÃO!

Por: Catarina Bexiga
João Salgueiro da Costa dispôs-se a viver na Palha Blanco uma noite histórica. Aceitou o desafio de se encerrar com seis toiros; de acreditar em si próprio, na quadra que tem preparado; e nos argumentos do seu toureio. Será sempre uma noite marcante na sua trajectória. E quem assistiu tem a obrigação de chegar a uma conclusão: foi uma noite de seriedade e afirmação a de Salgueiro da Costa!
Se algo o seu toureio nos transmite é seriedade e pureza. E foi isso que procurou fazer toda a noite. Talvez, seja demasiado sério e demasiado puro para os tempos actuais (anti moda), porque não é baseado em “especialidades”; e, provavelmente, por isso a Palha Blanco tenha apenas registado meia casa envergonhada. É o preço que Salgueiro da Costa terá que pagar por ser fiel as suas ideias e ao seu conceito; pois já somos poucos os que vamos ver Tourear a Cavalo na sua verdadeira dimensão.
Se algo o seu gesto nos transmite é de toureiro grande. Porque uma verdadeira encerrona é assim! Foi Salgueiro da Costa que toureou exclusivamente, sem recorrer a nenhuma ajuda, toureando os seis toiros “de cabo a rabo”. E mais, a maioria da quadra leva o ferro da casa Salgueiro e foram postos por si próprio. Mérito acrescido e prazer redobrado.
Não vou pormenorizar as actuações. Mas se exceptuarmos a terceira, com o toiro de Canas Vigouroux, que deu poucas opções; todas as outras tiveram conteúdo e interesse.
De saída marcou a diferença com o “Litri”, recebendo o segundo superiormente, o quarto e o sexto da ordem. Porque à tira também se pode tourear bem! E as duas que apontou no segundo foram empolgantes. Ainda de saída sacou o “Chacal”, mas as entradas ao pitón contrário tiraram brilho às sortes.
Durante toda a noite não faltou a Salgueiro da Costa disposição, nem o foco que levava na cabeça. Com o de Vinhas, que veio de menos a mais, entendeu perfeitamente o toiro, e montado no “L’Amorino” cobrou dois grandes curtos. Com o de Veiga Teixeira, que teve raça a galopar atrás do cavalo, mas esperou no momento do ferro, esteve valente com ele, e com o “Chinoca” levou um toque no quarto curto, mas um toque dos que não mancham, porque arriscou de mais, violando os terrenos. Com o toiro de António Silva, que também se reservou no momento do ferro, numa primeira fase, Salgueiro da Costa esteve precipitado, mas depois o terceiro e quinto curto foram de boa nota. Montado no “Alba”, insistiu em citar de praça a praça, com o toiro junto a tábuas, o que me pareceu uma “lotaria”, porque se o toiro não sai da querença… Todavia, houve dois ferros que salvaram a aposta. Com o de Palha foi a vez que mais sentiu a Palha Blanco. O toiro teve “picante” e pediu um toureiro com recursos e coração. Novamente, com o “L´Amorino” (que no final acompanhou o cavaleiro na volta) a actuação foi em crescendo de expectativas e de resultados, com um quarto curto enorme! Para finalizar o de Passanha foi suavón, e montado na “Princesa” teve que invadir os terrenos para que os ferros surtissem efeito. Em suma, para quem gosta de ver Tourear a Cavalo foi uma noite importante. Disso Salgueiro da Costa pode ficar descansado!
Pelos Amadores de Santarém pegaram Caetano Gallego à primeira tentativa, Francisco Cabaço à quarta e Francisco Paulos à segunda. Pelos Amadores de Vila Franca concretizaram Rodrigo Andrade à primeira, Lucas Gonçalves também à primeira e Rafael Plácido à segunda ajudado superiormente por Rodrigo Dotti.
Em mais um aniversário da Palha Blanco, a noite começou com a imagem de Nossa Senhora de Fátima em procissão com os intervenientes do cartel e com a participação da voz inconfundível de Teresa Tapadas. Uma noite bonita!

Foto: Pedro Batalha

sexta-feira, 9 de setembro de 2022

CAMPO PEQUENO: E QUEM ESTÁ COM OS AFICIONADOS?


Por: Catarina Bexiga

Não basta dizer “Este é o momento! Estamos com o Campo Pequeno!” Sei que o momento é complicado e imagino, inclusive, as voltas e reviravoltas que implica organizar uma noite de toiros em Lisboa. Não queria estar no papel do Luís Miguel Pombeiro. Mas hoje, em frente ao computador, e com a cabeça mais despejada, questiono-me: E quem está com os Aficionados que vão ao Campo Pequeno e a tantas outras praças? Em prol do slogan criado para a temporada de 2022, não podemos admitir tudo, consentir tudo, calar a tudo… Porque esse é o caminho para o precipício.
Para a última noite de toiros em Lisboa estava resenhado um curro da ganadaria Charrua, com esqueleto, a maioria altos e média aproximada de 650 Kg. Acho muito bem que se queira dar categoria ao Campo Pequeno; que se chame de Catedral do Toureio a Cavalo; que se queira marcar a diferença… mas aproveitarem-se (escrevo no plural, propositadamente, porque há vários envolvidos) do público “fácil” e de passagem que vai a Lisboa, já não tolero! Saberão o que se impõe para a praça mais importante do país? Saberão que peso não é sinónimo de trapio? Saberão o que significa trapio? O curro saiu díspar de apresentação, a maioria longe do exigido, e quanto ao primeiro e terceiro da função até vou poupar com palavras os responsáveis. Entre muitas definições apresentadas nos livros e, claramente, convergentes, escolhi estas: “El Trapío debería de ser un compromiso ético con la Fiesta y con la afición que paga una entrada por ver un espectáculo digno.” "Buena planta y gallardía del toro de lidia". “La palabra Trapío se refiere a la estampa del toro, al fenotipo, que ha de tener unas determinadas características, las cuales le aportan seriedad. Trapío es “tener cara de hombre”. Pode ser que os ajude!
Considerações à parte, o curro teve a virtude de se mexer, de sair ao gosto dos toureiros, suavões, sem raça, um par deles sem força, sem incomodar, autênticas tourinhas; mas, por outro lado, de pouco transmitir ou emocionar. O segundo foi premiado com a chamada do ganadero à arena, o que foi motivo de protestos e “frenou” o que poderia vir a acontecer mais vezes. Para mim, o quinto foi o toiro que teve mais “picante” nas investidas.
Apesar de tudo, de todos os cavaleiros guardo um ou outro registo que marcaram a noite. Francisco Núncio apresentou-se no Campo Pequeno e confirmou a mensagem que deixara há cerca de quinze dias atrás na Nazaré, tem bom conceito e boas intenções. António Ribeiro Telles rubricou uma actuação interessante e surpreendeu de saída com a “sorte da morte”, em desuso, montado no “Hibisco”, mas que às vezes coloca em prática, resultando impactante e empolgante. João Moura Caetano sofreu uma aparatosa colhida com o terceiro da noite, mas encastou-se, colocando a harmonia do seu toureio à disposição das investidas “mórbidas” do adversário. Marcos Tenório teve um grande início de actuação, com dois compridos sensacionais, montado no “Danone”, mas depois optou por outro conceito. A prestação de Duarte Pinto teve duas partes distintas, muito mais válida a primeira do que a segunda. E por fim, Miguel Moura protagonizou uma actuação entonada.
Pelos Amadores de Vila Franca de Xira pegaram Vasco Pereira à terceira tentativa, Rafael Plácido à segunda e Guilherme Dotti à primeira. Pelos Amadores de Azambuja foram solistas Rúben Branco à segunda, João Branco à segunda e João Gonçalves à primeira.
Antes do início do espectáculo, foram homenageados os ganaderos Luís Rocha e João Ramalho e o forcado José Jorge Pereira; e “In Memoriam”, os cavaleiros José Zúquete e Vasco Taborda e o aficionado Rui Casqueiro. A noite foi intitulada de Real com a presença no palco de D. Isabel de Héredia, Duquesa de Bragança.
Para o ano haverá mais se Deus quiser e se os homens tiverem as virtudes suficientes para o conseguir. O desejo de todos os Aficionados é que a próxima temporada seja maior e melhor que esta que agora finda!
Foto: João Silva / solesombra.net


sexta-feira, 19 de agosto de 2022

CAMPO PEQUENO: 130 ANOS DE HISTÓRIA ASSINALADOS COM A PRESENÇA DE MORANTE DE LA PUEBLA

Por: Catarina Bexiga

18 de Agosto 1892 / 18 de Agosto de 2022. 130 anos de uma longa história, escrita temporada após temporada, transversal a gerações de aficionados, marcada por acontecimentos que abrilhantaram e engrandeceram a própria história do Toureio em Portugal; a Monumental do Campo Pequeno tornou-se referencia mundial, testemunho de um passado glorioso, e queremos acreditar (apesar das dúvidas) de um futuro com muito por contar…

Para assinalar a efeméride, a empresa Ovação e Palmas apostou num cartel misto, com a presença de Morante de la Puebla, aliciante maior para que as bancadas estivessem repletas de muito público em geral e aficionado em particular.

Os quatro toiros de Canas Vigouroux resenhados para o toureio a cavalo, de trapio condizente com a Catedral, acusaram em média mais de 580 Kg de peso, de bonitas hechuras o segundo e quinto, colaboradores q.b., visto que os outros dois se revelaram mais reservados.

De Marcos Tenório recordo a forma superior como recebeu o seu primeiro toiro, montado no “Danone”, um cavalo que marca a diferença na quadra de qualquer cavaleiro. No entanto, Marcos esteve sempre muito pendente do público, “encenou” o triunfo em ambos do lote, mas na verdade pouco ficou para relatar. Foi pena que não tivesse sido mais exigente consigo próprio. São opções…

Francisco Palha confirmou em Lisboa a sua “buena racha”. Recebeu os seus dois toiros montado no “Jaquetón”; mas se os dois compridos em sortes à gaiola causaram sururu; francamente empolgante, com verdade, sem qualquer desvio na trajectória do “canasvigouroux”, foi o segundo comprido no seu primeiro toiro. Pessoalmente, encontrei mais conteúdo na sua primeira actuação; mas reconheço que procurou sempre fazer tudo com seriedade e impacto. Guardo um grande curto (o 4.º) com o “Roncalito” no primeiro e um outro curto (o 2.º) com o “Gingão” no último.

Para os dois grupos de forcados a noite não foi propriamente afortunada. Pelos Amadores de Santarém pegaram Salvador Ribeiro de Almeida e Francisco Graciosa, ambos à terceira tentativa. Pelo Aposento da Chamusca concretizou o cabo Pedro Coelho dos Reis à quarta e João Saraiva, na pega da noite, à primeira, com uma grande ajuda do mesmo Coelho dos Reis.

Numa temporada histórica na sua trajectoria, o matador de toiros “Morante de la Puebla” quis brindar os aficionados portugueses com a sua presença na Monumental do Campo Pequeno. Para si foram resenhados dois toiros de Nuñez del Cuvillo, escasso de trapio, mas nobre, o primeiro; com poucas opções o segundo. O de La Puebla rubricou duas faenas distintas, mas que confirmam o seu grande momento. A sua primeira obra teve um cunho mais pessoal, aproveitando a nobreza do “nuñezdelcuvillo” para oferecer a cada muletazo gosto e carícia. A faena ao segundo foi construída com sentido de responsabilidade e sobrada disposição. O toiro pareceu querer, mas não poder, mas o de La Puebla entendeu-o, e com insistência e firmeza inventou a faena.

Assim, ficou assinalado o 130º Aniversário do Campo Pequeno. Que venham muitos mais!

Foto: Pedro Batalha

 

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

CAMPO PEQUENO: “PARA INGLÊS VER..."

 

Por: Catarina Bexiga

Para a primeira Quinta-feira de Agosto, o cartel anunciado pela empresa do Campo Pequeno foi “para inglês ver…” e bater palmas a tudo e a todos. Numa temporada em que é apenas possível a realização de quatro espectáculos, creio que é demasiado redutor a composição apresentada. A continuidade do Campo Pequeno, como praça de toiros – aliás, a razão da sua existência - aliada à seriedade e exigência que apregoamos para capital do Toureio a Cavalo tem que passar por argumentos mais convincentes...

O curro de Vinhas acusou muito peso na balança do Campo Pequeno, mas peso nunca será sinónimo de trapio. E foi o que aconteceu. Desiguais de apresentação, sem cara, destacaram-se o primeiro e o sexto, com mobilidade e encastados. Os demais contrastaram com os melhores, parado o terceiro e manso o quarto. O segundo e quinto deixaram-se.

O rejoneador Emiliano Gamero apresentou-se no Campo Pequeno e lidou o primeiro da noite. Nunca entendi as confirmações de Alternativa dos rejoneadores em Portugal. Exactamente, porque são rejoneadores e não cavaleiros de Alternativa, vestidos com casaca de tricórnio. Mais do mesmo. O brinde de Gamero teve contornos românticos: “Vengo a cumplir un sueño en la Patria del Toreo a Caballo. Por eso brindo por mí país y por Portugal”. Mas Gamero ficou-se pelo sueño; porque a sua actuação foi de paupérrimo conteúdo e com a complacência do Director de Corrida (João Cantinho), que caiu no ridículo e mandar tocar a música após o último curto e, inclusive, autorizar a volta à arena. Seriedade e exigência são duas palavras que não existem, definitivamente, no dicionário da maioria dos agentes taurinos deste país.

Em noite de aniversário de Alternativa, Rui Salvador sentiu o carinho do público de Lisboa. O cavaleiro de Tomar tem, actualmente, na quadra um cavalo que lhe permite estar a viver um momento dulce na sua carreira, chama-se “Hornazo”. A actuação foi vibrante, sobretudo, pela habilidade que o cavalo revela aquando da preparação e concretização das sortes. Destaco o terceiro curto, mais ajustado e impactante.

Manuel Telles Bastos sofreu uma aparatosa colhida logo no primeiro ferro curto. É certo que teve valor para voltar a “pôs o pé ao estribo”, mas daí para a frente as coisas nunca mais fluíram a seu favor.

Andrés Romero sorteou um “vinhas” manso, que esperava e atravessava-se na sorte. Romero imprimiu ânimo à actuação, mas a mesma veio a menos à medida que as dificuldades apresentadas pelo toiro também aumentavam.

Do meu ponto de vista, Miguel Moura protagonizou o melhor momento da noite. Montado no “Xarope” deu importância ao toureio de saída e apontou dois compridos (o primeiro, em sorte gaiola) superiores. A serie de curtos foi larga, mas nada que se equivalesse ao nível em que o vi na fase inicial.

A encerrar a noite, António Prates contruiu uma actuação fluente e com ritmo. Muito provavelmente, entre as melhores que logrou na sua carreira.  

Noite de concurso de pegas, entre três grupos. Pelos Amadores da Moita pegaram David Solo à segunda tentativa e Fábio Silva (com perseverança) à quinta. Pelos Amadores de Arronches concretizaram Luis Marques à quarta e Rafael Pimenta com uma rija pega à segunda, premiada com duas voltas à arena. Pelos Académicos de Elvas foram solistas Paulo Maurício à segunda e Gonçalo Machado à primeira, com a pega vencedora do trofeu em disputa.

Dia 18 de Agosto, voltamos ao Campo Pequeno, desta feita para um cartel à altura da primeira praça de toiros do país!

Foto: João Silva


sexta-feira, 22 de julho de 2022

CAMPO PEQUENO: UMA ALTERNATIVA E A SUPREMA DIMENSÃO DO TOUREIO DE ANTÓNIO RIBEIRO TELLES!

Por: Catarina Bexiga

O TOUREIO A CAVALO (escrevo, propositadamente, com letra maiúscula) sempre implicou ter conhecimento do toiro. Da sua investida, dos seus terrenos, das suas distâncias, das suas querenças, das suas reações, etc, etc, etc… Quando há um cavaleiro que procura desvendar o “enigma” que o toiro apresenta, mesmo que esse toiro não se preste ao sonhado, podemos sempre ver TOUREAR A CAVALO (escrevo, novamente, com letra maiúscula). Reconheço que nem todos os toiros podem permitir tourear bonito (actualmente, em moda); mas uma coisa é tourear bonito, outra é tourear bem. E tourear bem é entender o toiro no seu conjunto! Ontem, em Lisboa, só me recordo de o ver fazer a ANTÓNIO RIBEIRO TELLES. Ontem, em Lisboa, ficou bem vincado a importância de saber lidar um toiro. Com um manso desinteressando, que chegou mesmo a fugir para as tábuas, sem entrega, sem fijeza; António inventou a actuação, com conhecimento, com maestria e com muito mérito! São as actuações de mérito que fazem parte da história do nosso Toureio a Cavalo. São essas que nos tornam grandes, enquanto Pátria do Toureio a Cavalo. São essas que temos que saber valorizar e aclamar. Montado no generoso “Alcochete”, António foi-se acoplando e superando ferro após ferro; e, sobretudo, a forma como preparou os dois últimos curtos foram um deleite. Cinco ferros intensos e uma mensagem que marca a primeira noite da temporada no Campo Pequeno. A Outra dimensão do Toureio!

Por outro lado, quando o cavaleiro não procura desvendar o “enigma” que o toiro apresenta; vê-se, claramente, que anda à deriva das investidas, ao acaso, à sorte. Depois, umas vezes a coisa resulta, outras não! Ontem, vimos isso várias vezes.

Noite histórica para a família Brito Paes no Campo Pequeno. Julgo que tanto Joaquim Brito Paes (que tomou a Alternativa) como António Maria Brito Paes guardarão o carinho com que foram recebidos em Lisboa, a garantia de continuidade de uma dinastia antiga e as emoções fortes de uma noite com o significado desta.

O veterano João Salgueiro viu-se fácil com a ajuda do preciso “Alba”; e de João Salgueiro da Costa esperava-se muito mais, sobretudo, depois das suas últimas grandes actuações.

O praticante António Telles filho teve “gacho” no público da capital e soube aproveitá-lo.

Aos toiros de António Raul Brito Paes faltaram raça e entrega. Dos seis sobressaíram o primeiro e terceiro que acabaram por cumprir.

Os Amadores de Lisboa protagonizaram a pega da noite. Foi autor Daniel Batalha ao quarto da tarde, uma grande pega, aguentando sozinho na cara do toiro, com muito querer. Foram ainda solistas Nuno Fitas à primeira e Duarte Mira à quinta. Pelos Amadores de Montemor-o-Novo pegaram Vasco Carolino, Vasco Ponce e José Maria Vacas de Carvalho, todos superiormente ao primeiro intento.

Da noite ficou a mensagem de António Ribeiro Telles para quem a entendeu!

Foto: Pedro Batalha
 

segunda-feira, 4 de julho de 2022

VILA FRANCA: UM COLETE DA COR DO CORAÇÃO!

Por: Catarina Bexiga
Foram vários os motivos que tornaram este Colete Encarnado especial. Mais aguardado que nunca; mais preenchido, mais intenso, mais movimentado, mais desfrutado… Vivido de forma única! Este foi um Colete da cor do coração – pelos 90 anos que se assinalaram e pelos sentimentos, que só cada Vilafranquense guarda – mas também do tamanho do coração que está por detrás de cada colete. Ao Campino, devemos, anualmente, essa homenagem!
Todas as iniciativas (a Câmara Municipal está de Parabéns!) foram preparadas com afecto; mas a tarde de Domingo, 3 de Julho, na Palha Blanco revelou a dimensão que o nosso toureio pode ter. Com um ambiente único, como há muito não vi-a. Com um calor humano, envolvente e transcendente. Uma Palha Blanco ainda mais bonita. Uma tarde que fica para a história. A tocar o sonho!
Como aficionada (e Vilafranquense), as palavras fogem-me, mas o coração está cheio! Não vou pormenorizar o que se passou na centenária arena. Porque há tardes que não se explicam, nem se descrevem… apenas se sentem, por quem tem o privilégio de as viver.
As actuações de João Telles e Francisco Palha foram das suas mais convincentes passagens pela Palha Blanco. Os toiros de Canas Vigouroux saíram sob o reservado, mas sem complicar. João Telles imprimou mais verdade ao seu toureio, quer montando o “Gaiato” no primeiro toiro, quer com o “Marfim” no segundo, assim queira continuar por este caminho. Francisco Palha pôs disposição e vibração em tudo o que fez. Ofereceu, o que faz falta, emoção! Para além de lidar, superiormente, o seu lote; é, actualmente, um cavaleiro mais cuajado e mais harmonioso. Com o “Rebelde” os dois últimos curtos marcaram a diferença e com o “Roncalito” houve entrega e impacto. Pelos Amadores de Vila Franca de Xira pegaram Vasco Pereira, Guilherme Dotti, Pedro Silva e David Moreira, que se despediu. Também uma tarde especial para o grupo da terra, que está a comemorar a mesma efeméride que o Colete Encarnado.
Mas a tarde de Domingo na Palha Blanco teve outro sentimento maior: a “explosão” do toureio a pé. Não me lembro de o sentir como ontem. O público esteve receptivo e os matadores dispostos a aproveitar o clima. Daniel Luque (em substituição de António Ferrera) e João Silva “Juanito” assumiram a responsabilidade do cartel. Luque confirmou o grande momento que atravessa e “Juanito” ofereceu a irreverencia da idade. Dos quatro de Murteira Graves que saíram à arena, o segundo (N.º 16) foi um grande toiro, com classe pelo pitón direito, mas mais exigente pelo esquerdo, proporcionando a chamada do ganadero. Toucou ao toureiro português. A intensidade da faena de “Juanito” e, sobretudo, a reacção do público; são a resposta inequívoca a muitas perguntas… Uma verdadeira “explosão” de entusiasmo! Com o seu segundo, “Juanito” sentiu mais dificuldades em entender o toiro. Daniel Luque também teve uma grande tarde na Palha Blanco. Com o seu primeiro andou insistente e meritório com um toiro que pouco ajudou; com o seu segundo, mostrou a sua verdadeira dimensão, novamente por cima do toiro, construindo uma faena inteligente, mais ligada e com chama pelo pitón direito, com virtudes que só o tempo confere.
Ontem na Palha Blanco, foi uma tarde para aficionados e de fazer aficionados!
Foto: Câmara Municipal de Vila Franca de Xira

 

segunda-feira, 6 de junho de 2022

SANTARÉM: UM REGRESSO MOVIDO PELA FÉ E PELO QUERER!

 

Por: Catarina Bexiga

A Monumental “Celestino Graça” foi palco do regresso às arenas de António Ribeiro Telles. Um regresso movido pela Fé, nos momentos mais difíceis; e pelo querer do Homem e do Toureiro. António regressou igual a si próprio. Com a simplicidade que o torna grande como pessoa. E com a torería que o agiganta dentro da arena. Acredito que o carinho com que foi recebido em Santarém guarde para sempre no coração. Foi um dia especial! Das suas duas actuações fico-me com a primeira. A lide foi primorosa – à António Ribeiro Telles – e para os Aficionados que gostam de ver lidar um toiro. Com conhecimento dos terrenos e das distâncias; preparando as sortes, umas vezes com a garupa do cavalo, outras com a espádua. Tudo com sentido. Tudo com harmonia. Simplesmente Toureio! Montado no Alcochete, a actuação foi em crescendo, terminada com dois grandes curtos. Com o quarto da tarde, montado no Sherpa, apontou, mas não disparou.

Rui Fernandes logrou na “Celestino Graça” uma das melhores actuações que lhe vi. O curro de Murteira Grave saiu sério, com cara, mas não terminou de se definir; alternando “feios” com coisas válidas. Mais “equilibrado” revelaram-se o sexto da ordem. Para mim, o segundo da tarde foi o toiro com mais interesse do conjunto. Raspou, fez intenções de procurar as tábuas; mas foi superiormente entendido por Rui Fernandes, sendo um toiro que tomou a iniciativa de investir, teve som… transmitiu muita emoção. Montado no “El Dorado”, Rui Fernandes deu-lhe primazia de investida, quarteou-se com sinceridade e reuniu com impacto. Com o último esteve num registo mais exuberante. Acrescentar ainda, que de saída, com o “Gucci”, esteve também superior, com duas grandes sortes de gaiola.

João Moura Jr. teve uma passagem discreta pela Capital do Ribatejo. Com o seu primeiro (mal visto) não se sentiu a gosto; e com o segundo veio a mais, especialmente, com as conhecidas “mourinas”. A última é para recordar.

Pelos Amadores de Santarém pegaram João Grave, à primeira tentativa, uma grande pega, seguindo-se Francisco Garcia, Francisco Paulos (à 6.º, com muita determinação), José Fialho, Salvador Ribeiro de Almeida e Francisco Cabaço.

Os toiros foram recolhidos a cavalos pelos campinos Gabriel Silva e Rui Silva. Afinal, também eles são parte da história do nosso Ribatejo!

Foto: João Silva / Sol e Sombra


ALCOCHETE: A DISPOSIÇÃO DE JULI NUMA NOITE QUE DÁ QUE PENSAR…

 

Por: Catarina Bexiga

O tema está em cima da mesa. E preocupa! Como se justifica a ausência/desinteresse do público em cartéis que, supostamente, são os mais fortes neste início de temporada? Recentemente, temos vários exemplos, o último dos quais Alcochete, quiçá, o mais misterioso. As reflexões podem ser várias e as conclusões outras tantas. Mas, a verdade é que, actualmente, o espectáculo taurino (pago) compete, fim-de-semana após fim-de-semana, com demais espectáculos (grátis). Na hora da escolha, o público divide-se; e, por mais afición que uma família tenha, a crise económica, em que o país está mergulhado, é uma realidade obscura!

Alcochete registou meia casa forte no Sábado, com um cartel taquillero, que não o foi. A noite conta-se em poucas palavras. As actuações de João Telles e Francisco Palha não tiveram força para entusiasmar. A primeira de João Telles resumiu-se ao quarto curto, momento em que se acoplou mais à investida do Passanha; a segunda – com o toiro sobrero – teve passagens válidas com o “Gaiato” e terminou com a vistosidade do “Ilusionista”. Francisco Palha logrou uma actuação de menos a mais com o “Rebelde” no seu primeiro; e apesar da irregularidade com o “Roncalito”, os primeiros curtos foram os mais convincentes no seu segundo.

Pelos Amadores de Alcochete pegaram João Dinis, João Maria Pinto e Vitor Marques, todos à primeira tentativa, terminando o grupo da terra com uma pega de cernelha a cargo de Joaquim Matos e João Ferreira de cernelha.

O matador de toiros Julian Lopez “El Juli” trouxe consigo dois toiros de Domingo Hernandez, dispares de apresentação. Sem trapio e feio o seu primeiro, que pouco humilhou, mas investia pelo seu caminho; mais aceitável o último, nobre. O madrileno esteve por cima dos dois exemplares, com recursos inegáveis e disposto a construir duas faena que “encheram o olho” a quem o foi ver.

A noite ficou marcada pela postura de Juli, numa noite que dá que pensar…

Foto: Pedro Batalha

 


segunda-feira, 2 de maio de 2022

FEIRA DO TOIRO: MOURAS PONTUAM NA PALHA BLANCO!

Um apelido marcou a segunda edição da Feira do Toiro que decorreu na Palha Blanco no último fim-de-semana. Se Miguel Moura somou créditos na Sábado; João Moura Jr. afirmou-se no Domingo.

A empresa Tauroleve reservou para o início de temporada na Palha Blanco um confronto de encastes, entre os “Atanásios Fernández” de Fernandes de Castro e os “Santa Coloma” de Vinhas. A nível de toiros foi um fim-de-semana com variedade e interesse. Um fim-de-semana também marcado pela homenagem ao ganadero Fernando Palha, um apaixonado pelo toiro, um HOMEM especial, que quem conheceu não esquece nunca. No Sábado, os Castros saíram dispares de apresentação e comportamento; o melhor lote tocou a Miguel Moura, e tanto Ana Batista como Duarte Pinto sortearam ambos um toiro para com eles se triunfar; por outras palavras, “tiveram o pássaro na mão e deixaram-no fugir”. Para as pegas, os “Castros” foram duros. No Domingo, os Vinhas saíram sobrados de carnes, muito no tipo da ganadaria, sendo o segundo e terceiro os toiros que menos colaboraram. O quinto, lidado por João Moura Jr. foi um bom toiro, investindo com alegria até ao fim.

Começando pelo início, no Sábado, a disposição e ambição de Miguel Moura não passaram indiferentes a ninguém. Recebeu os seus dois toiros com “sortes de gaiola”, praticou um toureio sincero, mostrou-se desembaraçado e colocou o seu nome na boca dos aficionados. No último da tarde, mesmo depois de deslocar o dedo polegar, prosseguiu a actuação, num gesto de “amor-próprio”.

À cavaleira Ana Batista tocaram dois toiros distintos. O primeiro burraco da tarde foi um toiro colaborador. A serie de curtos começou de forma promissora, mas a meio da actuação tudo mudou… O quarto não deixava a cavaleira concentrar-se no momento do cite e orientava-se nas viagens, Ana sentiu dificuldades em encontrar o luzimento.

Para mim, Duarte Pinto teve mais recursos frente ao seu primeiro, um toiro basto, sem entrega e sem continuidade nas investidas, com dois curtos de boa nota; do que com o quinto da tarde, um toiro bonito, que não rompeu atrás do cavalo, mas foi voluntarioso no momento do ferro. Houve mais toiro que toureio.

A tarde foi dura para os homens da jaqueta de ramagens. Uma tarde para forcados valentes! Pelos Amadores de Vila Franca pegaram Pedro Silva à segunda tentativa, Rafael Plácido também à segunda e Luís Valença à quarta. Pelos Amadores do Ramo Grande concretizaram César Pires que dobrou José Sousa, Luís Valedão dobrou André Lourenço e a encerrar o cabo Manuel Pires, fechou-se à quarta tentativa.

A tarde de Domingo voltou a ficar marcada pelo apelido Moura. O quinto foi o toiro da tarde. Um bom toiro, pronto e com som nas investidas. Com ele João Moura Jr. protagonizou uma actuação vibrante que teve eco nas bancadas da Palha Blanco. Com o primeiro do seu lote, um manso que procurou as tábuas, por excesso de confiança, no segundo curto deixou o toiro na querença e foi violentamente colhido contra tábuas. A actuação não levantou voo.

A Manuel Telles Bastos tocou o lote mais equilibrado. Teve uma tarde com mais querer do que poder… Recebeu os seus dois toiros em sortes “à porta gaiola”; mas à quadra faltam opções, para voltar a ser aquilo que ainda acredito que venha ser.

João Telles Jr. teve que esperar pelo fim. O seu primeiro foi paradíssimo e não lhe deu opções. Para o último da tarde reservou as suas intenções. Recebeu superiormente o toiro à garupa, preparou as sortes com intencionalidade e da serie de curtos destacaram-se o primeiro e terceiro. No fim foi buscar o “Ilusionista” para o “aparato” do costume.

Mais uma tarde importante para os Amadores de Vila Franca, não só pelos forcados da cara, mas também pelas ajudas. Pegaram o cabo Vasco Pereira, João Matos e Guilherme Dotti, todos à primeira tentativa. Merece ainda uma palavra Carlos Silva, pela forma como rabejou o quinto da tarde. Pelos Amadores das Caldas da Rainha concretizaram Lourenço Palha, Duarte Palha e o cabo Duarte Manuel, todos à segunda tentativa.

Foi um fim-de-semana com variedade e interesse, mas com pouco publico nas bancadas. No Sábado cerca de ¼ de casa e no Domingo ½ casa envergonhada. Dá que pensar…

segunda-feira, 11 de abril de 2022

ALMEIRIM: O "SOL" DA NORMALIDADE E DA ESPERANÇA!

Por: Catarina Bexiga


Manda, quem pode! Sempre foi assim. E no toureio não é excepção. Todos sabemos, que pelo estatuto que conquistou, Pablo Hermoso de Mendoza só toureia o que quer e o que, do seu ponto de vista, mais garantias lhe oferece para que possa praticar o seu toureio. Faz Pablo e fazem todos os que podem! Mesmo que isso coloque em causa a sobrevivência do espetáculo, por excessiva aposta no mesmo encaste, como aconteceu na nossa vizinha Espanha, com as Corridas de Rejones, que têm vindo a diminuir ano após ano. Por cá, quando Pablo toureia já sabemos ao que vamos... Os toiros de Francisco Romão Tenório saíram dispares de apresentação: dentro do mesmo tipo (e bonitos) os dois primeiros, mais pequenote o terceiro, bizco o quatro e basto o quinto. Todavia, desta vez, a aposta não favoreceu o de Navarra. Embora distintos de comportamento, os seus toiros apresentaram mais complicações que o previsto. No entanto, a sua classe, a sua equitação e o seu conceito fazem dele, sobretudo para os amantes do cavalo, um fora de serie. Em ambos do lote (no primeiro com o "Disparate" e no segundo com o "Berlim", viu-se disposto a contornar os problemas e a dar ao seu público o que ele gosta de ver.

Com o melhor e o pior de Romão Tenório, o cavaleiro Luís Rouxinol andou em plano profissional; todavia, mais "confortável" com as investidas do seu primeiro, um toiro com nobreza, mobilidade e cadência. De longe, o toiro com mais qualidade da tarde. O de Pegões sacou o "Douro" para os ferros curtos, com o decorrer da lide acoplou-se, cada vez mais, às investidas, e o segundo e terceiro curto foram os seus melhores ferros, assim como o par de bandarilhas de nota alta. O seu segundo, revelou comportamento oposto, saiu distraído, sem entrega, de arreões... e montado no "Jamaica", Rouxinol teve que recorrer ao seu oficio para sair por cima.

António Telles filho viu-se, pela primeira vez, "apertado" entre gigantes. É um cavaleiro em crescimento, visivelmente mais cuajado e a caminho da Alternativa. Para além da sua intuição (também ela mais apurada); actualmente, tem um cavalo - o Sherpa - que marca a diferença e que o pode ajudar a escalar rapidamente na profissão. O seu primeiro toiro inicialmente prometeu , mas foi perdendo "gás" com o decorrer da actuação. O segundo e quinto curto foram dois grandes ferros, pelos terrenos que pisou e pela forma como reuniu. Os melhores e mais impactantes da tarde. Dos que fazem acreditar nele! A encerrar, montado no "Alcochete" (da quadra do seu pai) a serie de curtos foi menos convincente.

Pelos Amadores de Montemor-o-Novo pegaram Francisco Borges à primeira tentativa, numa pega tecnicamente perfeita; Vasco Ponce à primeira e José Maria Carvalho também à primeira, com uma grande primeira ajuda. Pelo Aposento da Moira foram solistas Tiago Valério à primeira, com o toiro a "furar" o grupo; André Silva à terceira e Diogo Gromicho à primeira.

Finalmente, parece que a normalidade chegou e que a vontade de ir aos toiros (Almeirim encheu!) está renovada em cada aficionado. Que assim seja!

Foto: Arena de Almeirim

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