segunda-feira, 6 de julho de 2020

ERA MADRUGADA DE COLETE ENCARNADO...

Por: Catarina Bexiga

Era madrugada de Colete Encarnado. Vila Franca estava despida de gente. Estava desbotada. Estava atípica. Estava nostálgica. As horas tardavam em passar e o sono em aparecer… Bastava esse ambiente, para nos deixar um vazio no coração…

Como vi escrito algures, não era dia, nem hora para se morrer… mas Mário Coelho – Toureiro poético, sonhador, apaixonado – deixou-nos, exactamente, na madrugada de Colete Encarnado. Quis o destino. Quis a “sorte”!

Mário Coelho nasceu em Vila Fraca a 25 de Março de 1936. Como é sabido, a primeira parte da sua trajectória nas arenas aconteceu vestido de “prata”. Prestou provas para praticante, 3 de Outubro de 1955, na Palha Blanco; e tomou a alternativa, a 13 de Setembro de 1958, na praça de toiros da Nazaré. Durante nove anos vestiu de “prata”, conquistando os mais importantes troféus em disputa. Ao lado de Andrés Vazquez, o seu nome foi cobiçado e enaltecido.

Atestam as palavras do Maestro de Zamora: “ El gran Mário, con quien compartí muchos de los momentos más grandes de mí vida (…) Com Mário me unen muchas cosas, personales y profesionales, que tanto me han enriquecido. Por eso nuestros nombres van unidos bajo el orgullo que supusieron para la afición en una gloriosa época del toreo, como fueron los años sessenta (…) Mário ha sido el banderillero más grande de todos los tempos. El más colossal y artista que ponía de pie a todos los tendidos com um par en sus manos. Qué memorables tardes ofreció en las mejores ferias! Qué recuerdos de los tércios compartidos cuando las plazas se venían abajo y arrancaban los sones de la banda de música! Se me humedecen los ojos de la emoción al recordar las cuatro tardes que salió comigo en hombros. Lo que no hizo jamás ningún torero de plata hasta entonces.”

Perseguido o sonho, Mário Coelho trocou a “prata” pelo “ouro”. A sua trajectoria como novilheiro foi curta, tomando a alternativa de Matador de Toiros, a 23 de Julho de 1967, na praça de toiros de Badajoz, tendo como padrinho Julio Aparicio e testemunha “El Pireo”. Estoqueou a “Granjero” da ganadaria de Sanchez Rico.

Entre outras tardes de glória, há uma de que todos falam. A 12 de Setembro de 1984, Mário Coelho estoqueou “Corisco”, da ganadaria de Ernestro de Castro, na “Daniel do Nascimento”, Moita.

Despediu-se das arenas a 20 de Setembro de 1990 na praça de toiros do Campo Pequeno, mas o seu nome continuou ligado à Festa de Toiros, quer como conselheiro de ganadarias portuguesas, quer no lançamento de jovens toureiros…

Entre outras distinções, em 1990 recebeu, do Secretário de Estado da Cultura, a Medalha de Mérito Cultural; em 2004 recebeu, da Câmara Municipal de Vila Franca, a Medalha de Valor Cultural; e em 2005 foi agraciado, pelo Presidente da República, com a Condecoração de Comendador da Ordem do Mérito.

Mário Coelho viveu intensamente o toureio. Dentro e fora das arenas. Quem o vi-a na rua, no seu dia a dia, não tinha dúvidas em afirmar: “Ali vai um Toureiro!” Viveu o que hoje não se vive. Defendeu uma ética que hoje poucos defendem. E viu, em vida, o reconhecimento merecido. Descanse em paz, Maestro!

domingo, 5 de julho de 2020

HOJE É DOMINGO DE COLETE ENCARNADO…

Por: Catarina Bexiga

Hoje é DOMINGO DE COLETE ENCARNADO. Não há movimento. Não cheira a sardinha assada. Não se ouvem os foguetes a anunciar o toiro nas ruas. Há até um certo vazio. Mas há muitas montras e varandas enfeitadas. Há uma coroa de flores no Monumento ao Campino e há – O MAIS IMPORTANTE – muitas memórias, muitas histórias vividas e uma terra orgulhosa da sua identidade cultural!

E uma terra orgulhosa da sua identidade cultural é uma terra com futuro. Que sabe o que tem. Que sabe o que vale. Que sabe o que quer. É uma terra com GENTE e não com gente. Porque escrito com maiúsculas significa todo o peso da herança deixada pelos seus antepassados e toda a responsabilidade na sua salvaguarda e preservação.

Hoje é Domingo de Colete Encarnado. Para trás ficou uma noite atípica. Sem que déssemos conta daquele cenário descrito por João Nobre e cantado por Amália Rodrigues (no ano das comemorações do seu nascimento merece ser lembrada como grande aficionada): “Vão um dia a Vila Franca, é meu conselho, vejam da ponte um por-de-sol tão vermelho ao longe no horizonte…”

Hoje é Domingo de Colete Encarnado. Não se vêm Campinos nas ruas, esses homens que nos enchem de orgulho enquanto ribatejanos e portugueses. Mas eles estão no nosso coração. Como diz o fado “Gente feliz, Gente sã. Não sabem como os invejam ao vê-los pela manhã. Quem vem assim confiado junto do gado é que está crente, que esses bravos animais são mais leais que muita gente…”

Hoje é Domingo de Colete Encarnado. É um dia que também pode ser vivido de recordações… Cada um terá as suas (os Vilafranquenses sabem do que falo…). Porque em cada recanto de Vila Franca há “passado, presente e também futuro”. Em cada Tertúlia há memórias e histórias que se repetem todos os anos e que são contadas a quem nos visita. Porque Vila Franca jamais esconderá a sua afición!

Hoje é Domingo de Colete Encarnado. O sol brilha e o calor aperta. A Palha Blanco estaria mais bonita que nunca. Como só ela sabe estar. Com aquele colorido. Com aquele ambiente. Com aqueles aplausos que sabem a eternidade… O cartel merecia casa cheia! Mas este ano é diferente. Porventura, o destino colocou-nos à prova e transformou-nos em mais fortes, mais unidos, ainda mais orgulhosos!

Domingo de Colete Encarnado de 2021 espera por nós!

COLETE ENCARNADO: Candidato 7 Maravilhas da Cultura Popular. Vote 760 207 828

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