quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

MAGISTRAL LIÇÃO DE TOUREIO A CAVALO!


Por: Catarina Bexiga

Tão importante quanto colocar em prática na arena o Toureio a Cavalo é saber explica-lo, transmiti-lo e valorizá-lo! Essa é uma “herança” importantíssima que, com o passar dos anos, se tem vindo a desaproveitar… Perdeu-se o hábito de ouvir, de falar e de ler sobre o que é o Toureio a Cavalo. E isso nota-se cada vez mais por todo o lado! Como escreveu Fernando Sommer d’Andrade “Para que o público não se aborreça é necessário que entenda os «pequenos nadas» de que é feita a lide e, só assim, lhe será dado a verificar que não há duas actuações iguais por as condições dos toiros diferirem de uns para outros, por a disposição do cavalo e, até o estado de espírito do cavaleiro, variarem de dia para dia.”

O colóquio de ontem no Montijo sobre o Toureio a Cavalo, com a presença de Emídio Pinto e António Ribeiro Telles – magistrais nas suas explicações – acompanhados pelos testemunhos de Luís Rouxinol Jr., foi uma abordagem conhecedora, concreta e clara sobre o tema. O “ABC do Toureio a cavalo”, aquele que a maioria do público (entre entusiastas e aficionados) deve saber…
Por considerar de extrema importância, partilho (embora resumidamente) os 10 pontos analisados na noite de ontem:

1 – INICO DE CADA CARREIRA: Cada um dos intervenientes apresentou a sua história de vida e falou de quem os marcou nas suas origens. Emídio Pinto referiu-se a Frederico Cunhas, e aos irmãos Manuel e Alfredo Conde, bem como D. José d’Atayde; António Ribeiro Telles ao seu pai Mestre David Ribeiro Telles; e Luís Rouxinol Jr. ao seu pai Luís Rouxinol.

2 – A IMPORTÂNCIA DA EQUITAÇÃO: Todos defenderam a ideia de que ter equitação permite mais facilmente tirar partido de cada cavalo; saber pô-los, saber aproveitá-los, saber corrigi-los, etc. Mas que uma coisa é o bom cavaleiro e outra é o cavaleiro bonito.
3 – BREGAR/LIDAR/TOUREAR: O significado é o mesmo e de máxima importância. Entender o toiro (terrenos, distancias, etc.) para mais brilhantemente atingir o culminar do toureio, cravar o ferro ao estribo!

4 – OS MARCOS NA EVOLUÇÃO DO TOUREIO A CAVALO: Para além de outros nomes que aportaram história à própria história do Toureio a Cavalo foram referenciados como os grandes “revolucionários”: João Núncio, José Mestre Batista e João Moura.

5 – AS GRANDES DUPLAS DO TOUREIO A CAVALO: Foram sem dúvida épocas importantes. As grandes duplas formadas por João Núncio/Simão da Veiga, José Mestre Batista/Luís Miguel da Veiga e António Telles/João Salgueiro enriqueceram de sobremaneira a nossa identidade.  

6 – O TOIRO BOM E O TOIRO MAU: Todos defenderam a ideia de que o toiro bom é o que vai pelo seu caminho. Até pode ter raça. Até pode empurrar. O toiro mau é o que se adianta, é o que se atravessa, é o que desconfia os cavalos (e até os cavaleiros).

7 – O CAVALO DE TOUREIO: Para além das capacidades naturais (força, habilidade, etc.), o mais importante no cavalo de toureio é ter boa cabeça. Capacidade para perceber o que se lhe quer ensinar e capacidade para todos os dias “dar a cara”. A ilusão com os cavalos novos marca cada Inverno. Mas todos defenderam que em casa, com as vacas, todos os cavalos parecem funcionar; o problema é quando o toiro aparece, e quando se toureia hoje, amanhã e depois de amanhã. 

8 – AS COUDELARIAS NO TOUREIO: Nos últimos tempos os Lusitanos melhoraram muito; mas o mercado dos cavalo que tinham uma percentagem de cruzamente (exemplo de Coudelarias como Gama, Atalaya ou Rio Frio), o que lhes permitia ter outras capacidades físicas, é o mais apetecido pelos toureiros. No entanto, esse mercado tem vindo a desaparecer e hoje é cada vez mais difícil encontrar o cavalo ideal.

9 – SORTES DO TOUREIO: Todas as sortes têm o seu valor. Uma “gaiola” tem muito valor mesmo, e uma “tira” também! Foi defendida a verdade do toureio como o corredor formado por duas linhas paralelas, que saem dos pitons do toiro, até ao peito do cavalo. E foi clarificado que, antes da reunião, se existir um desvio à direita, desequilibra-se o toiro; e se existir um desvio à esquerda, o cavalo atravessa-se… O termo “carregar a sorte ao pitón contrário” – muito na moda nos templos actuais – foi questionado até que ponto não é “descarregar a sorte”, visto que manda o toiro para fora da sua trajetória natural…

10 – QUAL O FUTURO? Para além da preocupação com os movimentos animalistas, que cada fez asfixiam mais o espectáculo taurino, falou-se no diminuto número de cavaleiros amadores que fazem parte do actual escalafón; e no regresso do toiro que transmita emoção, para que seja dado valor à obra do toureiro.

Em suma, uma grande noite de Toureio a Cavalo fora das arenas!

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