sábado, 28 de setembro de 2019

CAMPO PEQUENO: AS MODAS PASSAM…


Por: Catarina Bexiga

Sou optimista por natureza. Acredito na máxima do escritor William Arthur: “Para o optimista todas as portas têm maçanetas e dobradiças, para o pessimista todas as portas têm trincos e fechaduras”. Mas não deixo de ser uma pessoa inquieta e preocupada com o que vejo nas nossas arenas… Não vou escrever sobre as actuações de ontem no Campo Pequeno. Prefiro reflectir sobre o que poderia ser o nosso Toureio a Cavalo. João Moura Jr., João Telles Jr. e Francisco Palha são três dos nomes mais falados do momento. Entendeu a empresa do Campo Pequeno juntá-los no mesmo cartel, acreditando eu (e julgo que a maioria dos aficionados) que o fez para criar competição (a serio!), sentido de responsabilidade (a sério!) … a pensar no futuro!

Hoje querem-nos fazer acreditar num “toureio a cavalo” diferente do que é o TOUREIO A CAVALO. Já o disse várias vezes, que entendo (está escrito nos livros) que cada toiro tem a sua lide… e que é preciso saber interpretar o seu comportamento e depois revelar capacidade para, num jogo de terrenos e distâncias, actuar com intencionalidade, se possível corrigindo-lhes os defeitos e aproveitando-lhes as virtudes, etc... Por outras palavras, ter recursos para dar a volta a cada toiro. Todavia, actualmente, parte dos nossos cavaleiros entendem tourear todos os toiros da mesma maneira, como se o Toureio a Cavalo fosse uma ciência tão exacta e tão precisa como a Matemática… A moda chegou ao ponto de dar a mesma distâncias a todos os toiros, de citar de largo, de praça a praça, mesmo quando estes evidenciam que se distraem ou que exigem menos intervalo... A moda chegou ao ponto de pedir aos bandarilheiros para colocar o toiro nas tábuas, quando muitos se reservam ou se defendem nesse terreno… Como escreveu Fernando de Sommer d’Andrade “Qualquer sorte do toureio para sair perfeita e com mérito, para não ser por mera casualidade, tem que ser preparada. E a preparação da sorte resulta do estudo do toiro. Esta preparação constitui a lide do toiro.” A moda chegou ao ponto de que enganar a investida de um toiro, mandá-lo para fora da sua trajetória natural, e depois ter que passar em falso ou ter que cravar à garupa… merece a aclamação do público!!!??? A moda chegou ao ponto de o conceito do ferro ao estribo deixar de existir… Vencer o piton. Ter o centro da sorte dominado. Reunir de alto a baixo. Volto a recorrer às sábias palavras de Sommer d´Andrade “A reunião é o momento culminar do toureio!”

Escrevi inicialmente que preferia reflectir sobre o que poderia ser o nosso Toureio a Cavalo. Reconheço enorme valor em muitos dos nossos cavaleiros. É preciso saber valorizar e promover o que é nosso! O que nos torna distintos. O que nos torna grandes! As modas passam, os princípios e as regras estão inventados. Esses são intemporais!
Os toiros de Pinto Barreiros saíram justos de apresentação. O quarto da ordem foi o melhor do curro, teve mobilidade e prontidão; e o sexto o pior, não escondendo a sua conduta de manso. Os restantes cumpriram.

A noite de ontem teve a assinatura do grupo de Lisboa, que comemorou as suas Bodas de Diamante. Todas as pegas foram concretizadas à primeira tentativa. Foram solistas José Luís Gomes (quem sabe não esquece), Pedro Gil, Francisco Mira, João Maria Bagão, João Varanda e Pedro Maria Gomes. Mais uma noite para a história do grupo.

Foto: João Silva

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

MOITA: ROUXINOL JR. VOLTA A DAR A CARA…


Por: Catarina Bexiga

DECISÃO. RECURSOS. ENTREGA. PODERIO. MÉRITO. AMBIÇÃO. Seis palavras que definem na íntegra a actuação de Luís Rouxinol Jr., ontem, na Moita. Ao jovem de Pegões tocou em sorte um manso complicado de Prudêncio. De saída, montado no “Aquiles”, Rouxinol Jr. apresentou logo as suas intenções…  Um segundo comprido poderoso e um terceiro, a sesgo, extraordinário. Para os curtos sacou o “Amoroso”. Com o adversário a agravar cada vez mais o seu comportamento, a serie de curtos teve um mérito do “tamanho do mundo”. Deu a cara, entrou ao toiro sem medo, de forma atrevida, de forma arriscada, inclusive sofrendo um toque no terceiro ferro, a sesgo, mas daqueles que não desvalorizam em nada a actuação… Se tudo o que fez teve valor – com decisão, recursos e entrega – o segundo, quatro e sexto foram de nota elevada.

Depois desta actuação na Daniel do Nascimento volto a repensar sobre a valorização do nosso Toureio a Cavalo. Luís Rouxinol Jr. foi o que melhor toureou, mas o que menos palmas levou. É imprescindível que o público tenha a noção das coisas. O valor de cada actuação acontece em função do comportamento do toiro. Quanto maior a dificuldade, tanto maior é o mérito em superá-la. E o nosso Toureio a Cavalo vive disso. De saber entender um toiro. De saber lidá-lo. De procurar os melhores terrenos e as melhores distâncias para a consumação das sortes. De saber superá-lo! Ontem na Moita, Rouxinol Jr. esteve gigante!

Completaram o cartel, António Ribeiro Telles, que lidou com sabor e toreria o primeiro da noite; da voluntariosa actuação de Luís Rouxinol destacaram-se o segundo e quatro curto; João Moura Jr. deixou sempre o toiro na querença e a opção não surtiu efeito;  Andrés Romero cravou os ferros sem transcender; e António Prates voltou a andar irregular.  

Tratou-se de um Concurso de Ganadaria: o do Eng. Jorge de Carvalho foi manso encastado, o de Condessa de Sobral gazapón e faltou-lhe entrega; o de Ascensão Vaz revelou-se manso, com querença em tábuas; o de Passanha veio a menos; e o de Prudêncio foi manso complicado e o de Mata-o-Demo deixou-se ou... foi o menos manso. Por isso, lhe deram o prémio (Apresentação e Bravura). Em terras lusas há sempre necessidade de outorgar os prémios. De Apresentação destacaram-se também o primeiro, segundo e quatro.  

Noite dura para o Aposento da Moita, mas com “caras” valentes a superarem as dificuldades. Pegaram Rúben Serafim à terceira tentativa, João Ventura à segunda, Martim Cosme à primeira, Leonardo Mathias à primeira, Marco Ventura (que dobrou Martim Afonso) à terceira e João Gomes à terceira. Apesar de pegas diferentes, tiveram enormes João Ventura e o cabo Leonardo Mathias.

Foto: Pedro Batalha

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

MOITA: TRIUNFALISMO NA DIANIEL DO NASCIMENTO!


Por: Catarina Bexiga

Há uns tempos, escreveu António Lorca que, actualmente, "la emoción ha sido sustituida por la diversión"… e acrescentou “y los espantados aficionados serios y exigentes por un público festivo”. Concordo em absoluto. Sobretudo, isto de ser exigente entrou em desuso. Isto de achar que deveria ser diferente, que deveria ser melhor, que deveria ter outra dimensão…é impensável!

A nível de toiros, a Daniel do Nascimento merece outra importância. De apresentação, os de David Ribeiro Telles “deixaram a desejar”. Sem trapio! De comportamento, os dois destinados ao toureio a cavalo foram voluntariosos (de Pueblo, o primeiro), mas sem transmitir… O quarto foi excessivamente premiado com o lenço azul. Para o toureio a pé, destacou-se o sexto da ordem.

João Telles Jr. apenas fez “acordar” as bancadas da Daniel do Nascimento com o “Ilusionista” na recta final da segunda actuação. Até lá pouco convenceu. Deu duas voltas no quarto.

Pelos Amadores da Moita pegaram David Solo à primeira tentativa e Fábio Silva à segunda.

O regresso do matador de toiros António Ferrera foi triunfal com saída em ombros. O seu primeiro foi um dos que não teve trapio para a Moita. Todavia, a pouco e pouco, Ferrera foi construindo a sua faena, aproveitando a nobreza do adversário. Assinou pelo pitón direito os seus melhores muletazos. Com o seu segundo, houve ofício e mérito na obra do pacense. Inicialmente, o toiro custou-lhe a romper, mas quando se centrou com ele, Ferrera sacou-lhe os muletazos que tinha e não tinha. Deu três voltas à arena! Fica a questão: Se Ferrera cuaja um toiro de verdade, com a grandeza que lhe temos visto este ano, então qual seria o prémio?

De capote, Ginés Marín protagonizou o melhor da noite, um verdadeiro recital de toureio à verónicas no último. O terceiro não teve classe e não deu opções de luzimento. Por outro lado, o sexto humilhou, investiu largo, mas veio a menos. Faena harmoniosa de Marín, com suavidade, temple e gosto por ambos os pitóns. Deu duas voltas à arena.


Foto: João Silva

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

DA NAZARÉ AO SOBRAL… O TRIUNFO DO FUTURO!

Por: Catarina Bexiga


Menos de 24 horas separaram as duas corridas. De ambas guardo (entre outras coisas…) o Triunfo do Futuro! Porque, especialmente, do triunfo dos novos valores depende o futuro da Festa de Toiros!
NAZARÉ: A primeira actuação de Luís Rouxinol Jr. e a segunda faena de Nuno Casquinha marcaram a última da temporada nazarena. Rouxinol Jr. mantem a disposição que sempre teve, mas está cada vez mais cuajado como toureiro. Depois de um grande segundo comprido com o “Aquiles”; a serie de curtos, montado no “Douro”, teve ligação, intencionalidade e vibração. Com o seu segundo, manteve a entrega; mas, montado no “Girassol”, os resultados foram menos brilhantes. Nuno Casquinhas deixou ambiente na Nazaré. O seu primeiro teve pouca força e pouco recorrido e Casquinha andou esforçado; mas o último de Falé Filipe investiu com classe, e a faena do vila-franquense veio a mais, com ligação e ritmo, ganhando maior expressão pelo piton esquerdo. No fim, Casquinha deu volta com o ganadero Carlos Falé Filipe.  Completou o cartel o cavaleiro João Moura Jr. O seu primeiro revelou problemas de visão, que o cavaleiro superou com ofício; enquanto o segundo serviu para Moura Jr. basear a sua actuação nos ladeios.  Pelos Amadores de Coruche pegaram João Prates à primeira tentativa (muito bem a receber e a reunir o toiro que teve problemas de visão) e Bruno Matias à terceira. Pelos Amadores das Caldas da Rainha concretizaram Duarte Manuel à terceira e Duarte Palha à segunda. O curro de Falé Filipe saiu díspar de comportamento. Dos destinados ao toureio a cavalo o que melhor serviu foi o quarto; e para o toureio a pé (com boas hechuras) destacou-se o sexto.

SOBRAL DE MONTE AGRAÇO: Luís Rouxinol e Luis Rouxinol Jr. assinaram duas grandes actuações na tarde de homenagem a Francisco Penedo. Esta foi, sem dúvida, a melhor forma de lhe retribuírem a amizade e cumplicidade que existia entre eles. Rouxinol marcou a diferença de saída, destacando-se um grande primeiro comprido, montando o “Aquiles”. Depois sem perder a sua personalidade toureira, com o “Douro”, teve uma actuação muito intencional e com muito conteúdo. Luís Rouxinol Jr. voltou a confirmar o seu grande momento. Toureou o sexto da ordem e encerrou com “chave de oiro” a tarde. Se é verdade que a sorte de gaiola, com que começou a actuação, resultou muito traseira, soube depois remontar com os curtos, montando o “Amoroso”. A serie de curtos foi intensa, entrando ao toiro com determinação e cravando com impacto. E um bom par de bandarilhas a fechar! Mais uma grande actuação, para um grande fim-de-semana de Rouxinol Jr. Decepcionante foi o curro de Canas Vigouroux., sem raça, sem entrega. Completaram o cartel, Ana Batista esforçada com o mais parado do curro; António Maria Brito Paes cumpriu, Manuel Telles Bastos resolveu com ofício; e Duarte Pinto procurou praticar o bom toureio, destacando-se em dois bons curtos com o “Hábito”. Pelos Amadores de Lisboa pegaram Mário Real, Daniel Batalha e Nuno Santos, todos à primeira tentativa. Pelos Amadores de Coruche concretizaram António Tomás à primeira, Luís Carvalho resolveu depois das tentativas frustradas de João Prates e Vitor Cardante e a encerrar o cabo José Tomás fechou-se à primeira. 

Fotos: Pedro Batalha

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

CAMPO PEQUENO: “EL ESPECTÁCULO SIN EMOCIÓN, NO SIRVE!”

Por: Catarina Bexiga

A frase é sobejamente conhecida: "El espectáculo sin emoción, no sirve!” (Victorino Martín) Porque a emoção é o motor da Festa. Porque a emoção é o que nos entusiasma. Porque a emoção é o que nos faz regressar. A corrida de Passanha, para a apresentação de Guillermo Hermoso de Mendoza, ontem, na Monumental do Campo Pequeno, ficou aquém do desejado…

Ultimamente, sempre que se deixou anunciar para Portugal, o rejoneador de Navarra escolheu as ganadarias a “su estilo”. Chegar a Figura é poder. Chegar a Figura é mandar. Sempre assim foi! Mais do que nunca, a Tauromaquia de Pablo é baseada no cavalo e na estética; e essa Tauromaquia é mais facilmente praticada com o toiro descastado, que não empurra, que não incomoda, etc… Mas que quando não colabora, torna o espectáculo aborrecido! Por isso, dou mérito aos nossos cavaleiros, que toureiam tudo!

A noite de ontem teve pouca história…. E os Passanhas goraram o desejo dos artistas. Por cortesia de António Ribeiro Telles, foi Pablo que confirmou a Alternativa ao seu filho Guilhermo. O cavaleiro da Torrinha teve o lote menos apetecível. Com o seu primeiro – distraído, tróton e que raspou – a actuação de António veio de mais a menos; e com o seu segundo – sem entrega – teve que ser o cavaleiro a fazer tudo, com destaque para o último curto. Pablo Hermoso de Mendoza não teve muita possibilidade de entusiasmar os seus seguidores. Mas foi mais Pablo com o primeiro (sonson) do que com segundo (parado). Guillermo esteve asseado no seu primeiro; e entusiasmou mais com o segundo, graças ao craque da casa – o “Disparate” – com um toureio mais ligado, com maior vibração.

Ambos os grupos têm o seu futuro assegurado…Pelos Amadores de Alcochete pegaram António José Cardoso à primeira, Diogo Timóteo à segunda e Manuel Pinto (com muito querer) também à segunda. Pelo Aposento da Moita concretizaram Leonardo Mathias (a pega da noite) à primeira, João Gomes à segunda e Martim Cosme à primeira.

Uma Festa sem emoção será sempre uma Festa que não serve!

Foto: João Silva

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