domingo, 29 de agosto de 2021

SALVATERRA DE MAGOS: ANA BATISTA MOSTROU QUEM É!


Por: Catarina Bexiga

O nome de Ana Batista e a vila de Salvaterra de Magos são, praticamente, inseparáveis. Foi aqui que Ana nasceu para a Vida e para o Toureio; e foi aqui que ela e o seu pai (João Batista) sonharam juntos, lutaram juntos e ambicionaram juntos. O brinde de ontem foi, certamente, um "Obrigado por acreditar em mim!". O seu percurso como cavaleira de Alternativa já soma duas décadas, um caminho construído por conquistas obtidas e dificuldades superadas; um percurso de aprendizagem constante e maturidade somada ano após ano. Ontem, a actuação de Ana Batista em Salvaterra de Magos foi a compilação que resume o mais indispensável da sua carreira: a classe que continua inacta, a disposição que mantém; mas, acima de tudo - porque os toiros difíceis (este era manso e bruto) também têm lide - pelos recursos que mostrou, por nunca abdicar do toureio frontal e pelo mérito que alcançou. Ana Batista, montada no Obélix III - filho de um cavalo histórico na sua quadra - deixou, mais uma vez, plasmado, na arena da sua terra, a torería que leva dentro!
Quem também dividiu o protagonismo da noite foi Marcos Tenório e Luís Rouxinol Jr. Tenório esteve sensacional de saída, montado no Danone, apontando dois compridos poderosos e um curto extraordinário, mas depois mudou de estratégia e "deitou tudo a perder". O seu toiro foi bravo, teve mobilidade, não teve querenças, foi alegre, empurrou e teve som. Um grande toiro que mereceu a chamada do ganadero. Por outro lado, Rouxinol Jr. está cada vez mais cuajado. Tem um conceito sério e um querer enorme; e quando se concentra consegue marcar a diferença, como aconteceu, montado no Girassol, na recta final da actuação. Três grandes curtos!
João Moura andou eficiente com o primeiro da noite; o praticante António Telles Jr. viu-se com soltura, mas tem que melhorar o momento do ferro; e o amador Tristão Guedes de Queiroz andou desembaraçado e comunicativo.
O curro de Condessa de Sobral saiu díspar de apresentação, sobressaindo o terceiro, um burraco com grande qualidade. O segundo foi manso, com investidas brutas; e os restantes, com virtudes e defeitos, deixaram-se tourear.
Pelos Amadores de Lisboa pegaram Duarte Mira à primeira tentativa, com o grupo a ajudar superiormente, Nuno Fitas à primeira e Vitor Epifâneo também à primeira. Pelos Amadores de Vila Franca de Xira concretizaram o cabo Vasco Pereira à primeira, seguindo-se dois novos valores do grupo: Guilherme Dotti e Rafael Plácido, ambos ao primeiro intento, prova de uma convincente renovação no grupo.
📷 Pedro Batalha

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

CAMPO PEQUENO: A FORÇA DE UM NOME!

Por: Catarina Bexiga

João Moura foi luz do Toureio a Cavalo naquela década de 70 e seguintes... Quantas conquistas? Quantas tardes históricas? Quantas manchetes nos jornais e nas revistas? A carreira do "Niño Moura", como o apelidaram em Espanha, teve impacto na sociedade portuguesa, pelo que aportou ao Toureio a Cavalo e pelo que representou para as gerações futuras. Um nome grande!

É verdade que o tempo passou, mas aquele desgaste próprio dos anos e das "cornadas" da vida é superado por uma intuição natural, por um querer próprio, por uma ambição desmedida. Isto é João Moura! Um Toureiro que continua a ter partidários, que uma vez aqui, outra acolá - e ao fim deste tempo todo - continua a reacender a paixão em seu redor e a nutrir o entusiasmo dos seus seguidores. Ontem, em Lisboa, foi assim!

Hoje com mais de 60 anos temos que reconhecer, a João Moura, um enorme valor e um gigantesco mérito. Actualmente, o seu toureio resume-se à concretização das sortes; mas a verdade é que em ambos os toiros mostrou que ainda é ele quem manda; pois mesmo partilhando cartel com os seus dois filhos, não lhes ofereceu de bandeja o triunfo...foi ele (João Moura) quem mais arriscou, quem mais pisou os terrenos, quem mais se expôs! Como reconhecimento por tudo, no final da noite, João Moura saiu a ombros pela porta grande do Campo Pequeno.

Dentro do seu conceito, com ligeiras entradas ao pitón contrário a meio da viagem, João Moura Jr. saiu-se melhor no segundo da noite, montado no Jet-Set. Com o quinto da ordem, um toiro manso encastado, a contra-estilo, com o Juventus faltou chama ao que fez e com o Hostil as "mourinas" também não impactaram.

Miguel Moura foi o que melhor andou de saída. Montado no Xarope, quer no terceiro, quer no sexto, deu importância aos compridos e, inclusive, foi autor de uma sorte de gaiola de nota elevada. Depois praticou um toureio dinâmico e vibrante, tirando partido da preparação e remate das sortes; mas mais convincente e menos enganoso no seu primeiro com o Marega, em contraste com a exuberância dos quiebros no último com o Quite.

Aos toiros de Veiga Teixeira, superiormente apresentados, voltei a notar, outra vez, alguma falta de "personalidade". Com defeitos e virtudes, os quatro primeiros saíram dispostos a colaborar com os toureiros; os dois últimos foram mansos encastados, com mais complicações.

A noite também foi dos forcados. Pelos Amadores de Santarém pegaram António Taurino à primiera, Salvador Ribeiro de Almeida (na melhor pega do grupo) também à primeira e Francisco Graciosa à terceira. Pelos Amadores de Montenmor-o Novo concretizaram João da Câmara e Francisco Borges com duas grandes pegas à primeira e Brancisco Bissaya Barreto à segunda, não menos brilhante.

Para além do que se passou na arena (do meu ponto de vista é sempre o que vale) a noite lisboeta ficou marcada por uma mega manifestação dos "anti 's" à porta do Campo Pequeno; à qual os aficionados responderam da única maneira possível: civismo!

Foto: Pedro Batalha
 

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

CORUCHE: 50 ANOS DE HISTÓRIA!

Por: Catarina Bexiga
Há efemérides e EFEMÉRIDES. E aquela que os Amadores de Coruche comemoraram, ontem, na praça de toiros da sua terra está escrita com letras maiúsculas. São 50 anos a pegar toiros. Uma história transmitida de geração em geração e que, felizmente, chegou até aos nossos dias. Uma história que agora fica perpetuada com um elemento escultórico alusivo à data como forma de homenagear todos aqueles que vestiram a jaqueta de ramagens do grupo. Uma história que teve passado, tem presente e terá, seguramente, futuro!
José Tomás, cabo do grupo, pegou o primeiro da tarde. Não foi a pega sonhada, apenas concretizando à quinta tentativa; mas depois o grupo agigantou-se e a tarde veio a mais. Foram solistas Fábio Casinhas à primeira, Miguel Raposo também à primeira, Tiago Gonçalves com uma grande primeira ajuda, António Tomás também à primeira e a encerrar uma grande pega de uma grande forcado chamado João Prates ao segundo intento. Tarde de despedida do cara Miguel Raposo e do ajuda Francisco Prancha.
A Associação Nossa Praça (com uma cuidada organização), promoveu mais um Concurso de Ganadarias do Sorraia, com a presença das divisas de António Silva, Lopes Branco, Ribeiro Telles, Veiga Teixeira, Vale Sorraia e Cunhal Patrício. Os dois primeiros não se revelaram sobrados de raça, mas deixaram-se tourear; o de Ribeiro Telles foi o mais bonito e o melhor, com mobilidade, inclusive, veio a mais; ao de Veiga Teixeira faltou empurre; o de Vale Sorraia foi típico em apresentação, mas saiu desinteressado; e o de Cunhal Patricio raspou muito.
João Ribeiro Telles substitiu o seu tio António, actuando ao lado de Francisco Palha e António Prates. O Toureio a Cavalo que vi praticar, na tarde de ontem, leva-me a uma reflexão. Se é verdade que todas as sortes têm o seu valor, não é menos verdade que todas as sortes têm os seus "tempos". A reunião (ao estribo) é o momento culminante de todo o toureio, o momento mais difícil, o mais emocionante, o mais perigoso... o momento que, afinal, é tudo no toureio! O conceito (em moda) do toureio enganoso (com inflexões ao pitón esquerdo do toiro, que podem ser mais ou menos pronunciadas, e que conduz sempre ao desequilíbrio da investida) leva a maioria dos nossos cavaleiros a comprometer o momento da reunião. Vencer a cara do toiro sem o enganar não é para todos e é cada vez mais raro! Fico-me por aqui. Posso ter que ver, mas não tenho que aceitar.
Para mim, a tarde valeu pelos 50 anos dos Amadores de Coruche!
Os toiros foram recolhidos a cavalo pelos campinos João Inácio e Mário Gordo.
Foto: Pedro Batalha

 

domingo, 15 de agosto de 2021

ARRUDA DOS VINHOS: TARDE IMPORTANTE DE SALGUEIRO DA COSTA!

Por: Catarina Bexiga
Ninguém sabe quando acontece. Mas hoje em Arruda dos Vinhos aconteceu. O protagonista foi João Salgueiro da Costa. O que vimos foi Toureio a Cavalo sério; Toureio bom; Toureio do nosso! As suas duas actuação conservaram o aficionado preso à arena da “José Marques Simões”. Salgueiro da Costa deu importância aos ferros compridos – o que actualmente é raro ver-se – e depois com os curtos, quer com a “Princesa” no toiro de Canas Vigouroux, quer com o “Alba” no sobrero de José Dias; fez as coisas com intencionalidade, quebrou a monotonia do toureio mecanizado que hoje reina nas nossas arenas, atacou os toiros com rectidão, deu importância a todos os tempos das sortes… e até improvisou. Tarde importante. Deu gosto ver!
Duarte Pinto teve uma passagem apagada. No seu primeiro toiro, o segundo comprido e o primeiro curto, montado no “Vigo”, foram bons de verdade, mas depois não conseguiu manter o nível.
O rejoneador Andrés Romero praticou um toureio animoso no seu primeiro, terminando com um sesgo meritório; mas encerrou com um toureio demasiado enganoso e com muitas passagens em falso no seu segundo.
Excepção ao segundo da tarde, que acabou em tábuas, dos toiros de Canas Vigouroux não se podem queixar os cavaleiros. De comportamento sobressaiu o terceiro e de apresentação o quarto da ordem. O curro foi remendado com um exemplar de José Dias que também cumpriu.
Pelos Amadores de Azambuja pegaram Ruben Branco (vencedor do prémio em disputa) e João Gonçalves, ambos à primeira tentativa. Pelos Forcados do Clube Taurino Alenquerense concretizaram Jaime Mendes à terceira e Diogo Trindade à segunda. Pelos Amadores de Arruda dos Vinhos foram solistas Hélder Silva e Rodolfo Costa, ambos ao primeiro intento.
A temporada ainda agora começou, mas da tarde importante de João Salgueiro da Costa hoje em Arruda dos Vinhos não vou esquecer!
Foto: Pedro Ruas

 

ARRUDA DOS VINHOS: DECEPCIONANTE!

Por: Catarina Bexiga
Decepcionante de se ver…. Complicados de se tourear. O curro de toiros (todos com 4 anos de idade) que o Eng. Jorge de Carvalho enviou para a praça de toiros da sua terra natal condicionou, de sobremaneira, o resultado da noite de ontem. O problema é que não foram só mansos. Foram mansos e perigosos. Na generalidade sem fijeza, reservados e a piorar com o decorrer das lides. O primeiro de António Ferrera ainda prometeu, pelas hechuras harmoniosas, começou por investir humilhado, mas rapidamente se ficou curto… Tudo o que um ganadero não sonha que aconteça na praça de toiros da sua terra. Mas às vezes acontece…
A postura de Luís Rouxinol salvou a noite arrudense. Em ambos do seu lote, teve o que muitas vezes falta aos novos. Atitude. Disposição. Argumentos. Não procurou tourear bonito; procurou tourear bem; pois era isso que os toiros exigiam… para que fosse Rouxinol a ganhar a peleja.
João Moura Caetano também se debateu com os mesmos problemas do companheiro de cartel. Todavia, os recursos foram diferentes e o corolário também.
Pelos Amadores de Lisboa pegaram Nuno Santos à quarta tentativa e Nuno Fitas à primeira. Pelos Amadores de Arruda dos Vinhos foram caras Nuno Miguel à primeira e Pedro Belbute à terceira.
Da presença do matador de toiros António Ferrera em Arruda dos Vinhos o melhor foi a quadrilha, composta por dois portugueses – João Ferreira e Filipe Gravito – que bandarilharam os dois toiros de forma superior. Seis grandes pares que merecem ser reconhecidos pelos aficionados. E se é verdade que os toiros não serviram, não é menos verdade que Ferrera também não se pôs para tourear… destapou-lhes ainda mais os defeitos. Abreviou. E saiu assobiado.
Enfim, noite decepcionante!
Foto: Facebook Lélio Lourenço

 

LISBOA: NOITE DE REENCONTROS!!!

Por: Catarina Bexiga
Finalmente… esta Quinta-feira houve toiros em Lisboa!!! Depois de restrições e mais restrições, datas adiadas e expectativas goradas; tudo parece agora tomar o seu caminho natural… Mas a noite de 5 de Agosto foi superior ao que se passou na arena do Campo Pequeno; pois resultou numa noite de reencontros… o principal – e mais importante neste momento em que oscilamos entre a sobrevivência e a resistência – o reencontro da afición com a "sua" Monumental do Campo Pequeno. Uma história com mais de 125 anos, que muitos querem apagar, mas que dificilmente conseguirão!
Todos cinqueños e quase a completar 6 anos de idade (situação que deve acontecer mais vezes durante a presente temporada, devido aos toiros que ficaram no campo), o curro de Canas Vigouroux saiu díspar de apresentação, rematado de carnes e com média de 600 Kg de peso. De comportamento sobressaiu o terceiro da noite, um toiro diferente a todos os níveis e com mais classe nas investidas. O primeiro “Canas” não teve fijeza e esperou muito no momento do ferro; na minha opinião o segundo não terminou de se definir; o quarto saiu reservado e reservado permaneceu; o quinto foi manso, pareceu mal-visto, desinteressado e acabou em tábuas; e o sexto também não teve fijeza e pouco empurrou. Como denominador comum, quase todos rasparam, embora para muitos adeptos dos “novos conceitos”, já não seja um defeito…
Do cartel, destaco uma actuação de cada cavaleiro.
A abrir, António Ribeiro Telles veio de mais a menos. Começou com duas tiras relevantes, mas acabou sem história. Contudo, no quarto da noite, montado no “Alcochete”, a serie de curtos teve eco. O toiro saiu reservado e obrigou o cavaleiro a expor-se muito. Houve mérito nos terrenos que pisou e mérito nos resultados que alcançou.
De Marcos Tenório fico com a primeira actuação. Principalmente, porque tentou dar importância ao que fez. Com o “Danone”, o segundo comprido marcou a diferença, pois o toiro parou a meio do caminho, tendo o cavaleiro aguentado com valor e concretizado com poderio. Levou as boas-intenções até ao fim. A segunda actuação, foi mais barulhenta e mais enganosa. Um conceito oposto ao praticando no primeiro do seu lote. Nitidamente, querer agradar a “gregos e troianos”.
Também de Francisco Palha fico com a primeira actuação. Todavia, disposição não faltou em ambos, tendo recebido os seus dois toiros com duas sortes de gaiola. Na primeira actuação, procurou realizar um toureio sério, sobretudo de ataque, pois quando o toiro não investiu, investiu ele. Montado no “Roncalito”, cravou quatro curtos com impacto. A encerrar a noite, o ferro mais convincente foi o último da actuação.
A data de 5 de Agosto também foi de pegas importantes. Pelos Amadores de Lisboa pegaram Vitor Epifanio à primeira tentativa, enquanto João Varandas e Duarte Mira foram autores de duas grandes pegas também ao primeiro intento. Pelos Amadores de Coruche concretizaram António Tomás à primeira, Miguel Raposo à segunda e João Prates enorme, também à primeira.
Em suma, uma noite de reencontros e com um significado especial!
Foto: Pedro Batalha

 

sábado, 14 de agosto de 2021

ARRUDA DOS VINHOS: OBRIGADA STO ANTÓNIO!

Por: Catarina Bexiga
13 de Junho. Acredito na inspiração de Sto António para o resultado do espectáculo desta tarde em Arruda dos Vinhos. Viu-se Tourear a Cavalo! E viu-se, por parte de todos os toureiros, disposição e argumentos para dar resposta ao curro de Vale Sorraia que saiu à arena da “José Marques Simões”. O primeiro e o sexto foram diferentes, mas foram os mais complicados; o terceiro e quarto manifestaram querenças mais evidentes, mas deixaram-se; e os restantes colaboraram.
Como escrevi anteriormente: Hoje viu-se Tourear a Cavalo! E quando assim acontece… tudo tem outro sabor! Rui Salvaldor agigantou-se perante as dificuldades do primeiro da tarde. Mérito é a palavra que melhor define a sua actuação. Ana Batista apostou na frontalidade do seu toureio, com destaque para o terceiro e quarto curtos. Parreirita Cigano surpreendeu com uma convincente actuação. A serie de curto manteve-nos pendentes do que se estava a passar na arena. A praticante Mara Pimenta entendeu o seu adversário, contrariando a querença, apostando na intencionalidade… e também teve uma passagem muito positiva. Joaquim Brito Paes assinou uma actuação que veio a mais, com destaque para os dois últimos ferros curtos. E por fim, António Telles filho viu-se sobrado na forma como entendeu e toureou o último da tarde. Uma prestação que teve mais mérito do que pode parecer.
Em disputa estava o prémio para a melhor pega. Pelo grupo de Azambuja pegaram Fábio Tomás e Fábio Nunes (que dobrou Diogo Nunes), ambas as pegas concretizadas à quarta tentativa. Pelo grupo de Alenquer foram caras Diogo Francisco à primeira e Pedro Lourenço também à primeira. E pelo grupo de Arruda dos Vinhos foram solistas Pedro Belbute e Hélder Silva, ambos à primeira tentativa. O troféu com o nome da Junta de Freguesia de Arruda dos Vinhos foi entregue ex-equo a Pedro Lourenço (Alenquer) e Hélder Silva (Arruda dos Vinhos), autores das duas melhores pegas.
Uma vez mais, Obrigada Sto António!

Foto: Pedro Batalha

AZAMBUJA: UMA TARDE… DE INTERROGAÇÕES

Por: Catarina Bexiga
Durante a tarde de ontem, sentada nas bancadas da praça de toiros “Dr. Ortigão Costa”, interroguei-me, várias vezes, sobre o futuro de tudo aquilo que ia observando na arena… Nem vou escrever sobre o vazio com que regressei a casa…
Todavia, confesso – e não é de hoje – que me preocupa e que me inquieta, a falta de exigência (e talvez, ambição) com que se norteia a maioria dos nossos toureiros; tratando-se de uma Corrida Mista, na falta de noção do que são dois toiros com “hechuras” para investir…e a complacência e passividade com que a maioria das pessoas assistem ao espectáculo. E preocupa-me, agora, mais do que nunca! Porque se os ataques que “vêm de fora” são perigosos e constante (e vão continuar…), a nossa resposta tem que ser muito diferente!
Como escreveu, recentemente, o João Queiroz no seu editorial na Revista Novo Burladero: “A melhor defesa (da Festa de Toiros) está dentro da praça: A qualidade do espectáculo; a sua capacidade de atrair aficionados às bancadas, enchendo-as; a categoria dos intérpretes; o nível do toureio exibido; o despertar de paixões; o verdadeiro toureio!” Concordo plenamente.
Se a tarde de ontem resultou frustrante; a contrapor, julgo merecido enaltecer o Município de Azambuja pela organização (dentro dos moldes possíveis) do Mês da Cultura Tauromáquica e a empresa Ovação e Palmas pelo Ciclo de Novilhadas que decorreu nos dois anteriores fins-de-semana. A esperança (de que tudo pode ser diferente) é a última coisa a morrer!
Foto: Pedro Batalha

SALVATERRA DE MAGOS: O TOUREIO DE ANTÓNIO “HA BAJADO DEL CIELO”!

Por: Catarina Bexiga
Procurei uma expressão portuguesa (longe das que, frequentemente, lemos) para definir a segunda actuação de António Ribeiro Telles, ontem, em Salvaterra de Magos, mas não encontrei. Porque, na verdade, a dimensão e a grandiosidade do Toureio praticado frente ao toiro de Canas Vigoroux “ha bajado del cielo”! Primeiro, porque é uma obra que só está ao alcance daqueles cuja sabedoria acumulada e a maestria conquistada se reflectem na arena. Segundo, porque é preciso ter sempre uma ambição e uma disposição fora do comum, independentemente da idade. E Terceiro, porque é preciso ser-se fiel ao conceito, ser-se Toureiro para o executar, e claro a providencia divida a ajudar. Montado no “Hibisco”, António recebeu o toiro à porta gaiola, poderosíssimo, e de seguida cravou dois compridos superiores. Depois foi buscar o “Alcochete” e o tempo parou. A forma como entendeu o toiro (porque Tourear a Cavalo é entender os toiros…); a ligação que imprimiu a tudo o que fez, porque ao toiro faltou romper; a ligeireza com que conduziu o cavalo, como colocou o adversário onde quis; e a harmonia com que tudo aquilo foi saltando à vista, minuto após minuto, ficou escrito na história da centenária arena! E para finalizar, os dois últimos curtos foram de antologia. Uma actuação para recordar! Na primeira, com um mansote de Fernandes de Castro, andou discreto no momento do ferro, mas sobressaiu, novamente, na forma de lidar.
À cavaleira Ana Batista tocou-lhe o “Euromilhões” no sorteio. O de Veiga Teixeira foi um toiro, acima de tudo, com ritmo de investida e nobreza extraordinária; e o de Vinhas um toiro, extremamente, colaborador. Na memória ficou a segunda actuação da cavaleira de Salvaterra de Magos. Com um “Pedro Artilheiro”, lazão, recente na sua quadra, Ana fez-nos acreditar em si! Tanto de compridos (porque as acuações começam, exactamente, aí…) como de curtos, a forma frontal como progrediu para o toiro, como recebeu a investida na espádua do cavalo e como teve o toiro debaixo do braço no momento de cravar…fez-nos também acreditar que ainda há ferros destes! No seu primeiro, começou superior com o mesmo cavalo, mas depois veio a menos nos curtos e “á chave vencedora” faltou-lhe acertar nas “duas estrelas”.
A Francisco Palha tocou um Murteira Grave com qualidade e um António Silva que não incomodou. Montado no “Desejado”, a sua primeira actuação é para apagar da memória. Todavia, com o último da tarde, andou mais dentro do que nos habituou… De saída esteve superior com o “Jaquetón” (com mais uma grande sorte de gaiola) e nos curtos destacaram-se os últimos ferros com o “Gingão”.
Quanto aos homens da jaqueta de ramagens, todas as pegas foram concretizadas ao primeiro intento com os dois grupos à altura do desafio. Pelos Amadores de Santarém pegaram Francisco Graciosa, António Taurino e Salvador Ribeiro de Almeida. Pelos Amadores de Coruche (que este ano assinalam o seu 50.º aniversário) concretizaram Miguel Raposo, Tiago Gonçalves e António Tomás.
Tratando-se de um Concurso de Ganadarias, no fim o prémio Bravura recaiu na ganadaria Veiga Teixeira e o prémio Apresentação na ganadaria de Vinhas.
📷 Pedro Batalha


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