Por: Catarina Bexiga
O verdadeiro Mérito é como o fogo vivo: ainda que o
abafem rebenta. Depois do que vivemos e sentimos nos últimos tempos – com todas
as dificuldades que nos preocuparam e com todas as incertezas que nos rodearam –
a palavra Mérito é a que melhor define a recém-terminada Feira do Toiro,
anunciada para os dias 7 e 8 de Maio, na Palha Blanco. Porque houve Mérito da
empresa (Tauroleve), sabendo que apenas poderia preencher 30% da lotação; e
houve Mérito por parte dos intervenientes nos espetáculos, sabendo que pela “porta
dos sustos” iam sair dois curros sérios… e aquelas duas tardes na Palha Blanco foram
as suas primeiras tardes da temporada 2021. Sejamos justos!
Todavia, para uns este Mérito inicial não transcendeu
na arena; para outros ganhou dimensão maior e é uma conquista importante. Na Sexta-feira,
a Corrida do Dr. António Silva saiu díspar de jogo; e teve dois toiros que, do
meu ponto de vista, foram privilegiados pelo entusiasmo (e “fome” de toiros)
dos aficionados. O terceiro, que inicialmente apertou com Duarte Pinto, mas que
depois nos curtos esperou muito no momento do ferro; e o quarto, que teve um
comportamento sui-generis, sem se empregar atrás do cavalo de António Ribeiro
Telles, andarillo, mas nos três últimos curtos investir em contra querença
natural. Verdadeiros enigmas. E a ganadera foi à arena….
De Toureio a Cavalo, há pouco para dizer. Luís
Rouxinol andou a meio gás. Na generalidade, Duarte Pinto esteve aquém das suas
capacidades. E deixei para o fim António Ribeiro Telles, porque na realidade
foi o único que empolgou os amantes do Toureio a Cavalo. Montado no “Alcochete”,
cravou três curtos de eleição.
Quanto à segunda tarde na Palha Blanco, sublinho,
novamente, o Mérito de ambos os cavaleiros ao se deixarem (logo no início da
temporada) anunciar mano-a-mano com uma Corrida de Veiga Teixeira, com um
trapio impressionante. Houve de tudo… o pior saiu em primeiro lugar, reservadíssimo;
e o melhor em último, com raça… e chamada do ganadero à arena.
Porque sou apologista do Mérito, para mim, a
actuação da tarde esteve a cargo de Luís Rouxinol Jr. frente ao primeiro. Já
escrevi várias vezes, que o interesse do Toureio a Cavalo não está em cravar
ferros (muito em moda nos tempos actuais); o interesse do Toureio a Cavalo está
em tourear… e tourear é resolver os “mistérios” (querenças, terrenos, distâncias,
etc.) de cada toiro e inclusive superar as dificuldades. Rouxinol Jr. começou
com uma sorte de gaiola, com o toiro a ficar à espera, que teve um valor incalculável!
O segundo comprido voltou a ser superior. Logo a seguir, o toiro foi acentuando
ainda mais as suas complicações. No segundo curto, surgiu a colhida, mas o
toureiro encastou-se, veio para cima, destemido e determinado, e com o “Amoroso”
apontou mais dois curtos de boa nota. Actuação suada, mas que dá crédito! O
mesmo propósito manteve nos dois toiros que se seguiram, voltou a convencer,
novamente, com o “Amoroso” no terceiro, e andou animoso com o “Douro” no quinto.
António Prates também superou o desafio. Deu a cara
com os argumentos que possui, viu-se desembaraçado, procurou resolver, e até
empolgou (com sortes a quiebro) os exigentes aficionados de Vila Franca, na
recta final da segunda e terceira actuação.
Resta dizer que as duas tardes na Palha Blanco foram,
literalmente, para forcados de barba rija. Houve um Mérito (lá está de novo a
palavra) enorme por parte de todos. Na Sexta-feira, pelo grupo de Vila Franca
pegaram Luís Valença à segunda tentativa, David Moreira à terceira e Guilherme
Dotti à segunda. Por Alcochete concretizaram Vitor Marques à segunda tentativa,
João Belmonte à primeira com uma grande ajuda e Manuel Pinto à segunda. No Sábado,
pelo grupo de Montemor-o-Novo, esteve enorme Francisco Borges que se fechou ao
terceiro intento, Francisco Bissaia Barreto à segunda com outra grande ajuda e
Bernardo Dentinho também à segunda. Por Vila Franca foram caras Vasco Pereira à
primeira tentativa, Pedro Silva também à primeira com uma outra colossal ajuda
e João Matos à segunda. Justiça seja feita a todos eles!
Foto: Tauroleve / João Silva