Por: Catarina Bexiga
Assisti
à primeira tarde de toiros em Santarém; mas, passadas mais de 24 horas sobre o
acontecimento, tendo já amadurecido sobre o que vi, prefiro ser menos concreta
e muito mais ampla na minha abordagem.
Do
meu ponto de vista, o cartel estava interessantíssimo e rematadíssimo: Duas
ganadarias sérias; Três cavaleiros que precisam de se consolidar e, ao mesmo
tempo, dar seguimento ao que de bom têm conseguido mostrar aos aficionados; Um
grupo de Forcados de renome.
Porque
conheço as particularidades do nosso público, questionei-me, no Sábado, quantas
pessoas teriam ido atraídas pelo cartel no seu todo? Quantas, pelas duas
ganadarias? Quantas, pelos três cavaleiros? E quantas pela encerrona do grupo
de forcados da terra? Foi fácil perceber…
Os
Amadores de Santarém tiveram uma grande tarde e não restam dúvidas que o
Forcado é o elemento que mais leva pessoas à praça. Os de Santarém foram
autores dos momentos de maior expectativa, dos momentos mais emocionantes, dos
momentos que despertaram maior paixão. Os
“VeigaTeixeiras” e os “AntónioSilvas” foram exigentes para os forcados e foram
toiros para “homens de barba rija”. Das seis pegas destaco as três últimas: a
de João Faro com uma enorme ajuda de João Manoel; a de António Queiroz e Mello
e a de Francisco Cabaço. Diferentes, mas extraordinárias. Na primeira parte,
foram solistas o cabo Francisco Graciosa; Joaquim Grave que dobrou Francisco
Paulos; e Salvador Ribeiro de Almeida. No fim, o grupo deu uma apoteótica volta
à arena. Merecida!
A
seriedade do toiro deveria ser sempre a base de tudo. E nunca ser subjectiva. No
Sábado, saíram toiros de ambas as ganadarias que mereciam ser aplaudidos pela
sua apresentação e não foram… O N.º 829, de nome “Colete”, da ganadaria de
Veiga Teixeira, foi um grande toiro, as suas hechuras não mentiam, revelando
muitas virtudes, mas, essencialmente, prontidão nos cites. O ganadero foi
premiado com volta à arena. Ao primeiro da tarde de Veiga Teixeira faltou
entrega; o seguinte de António Silva careceu de som; o terceiro da ordem também
de Veiga Teixeira foi o toiro da corrida; o quarto de António Silva saiu manso
com querença em tábuas, ao quinto oriundo do Pedrogão também faltou entrega e o
sobrero lidado em sexto lugar de António Silva investia por alto no momento do
ferro.
Sou
consciente que faço parte de uma minoria (em vias de extinção) que vai à praça,
essencialmente, pelo Toureio a Cavalo, pelo nosso Toureio a Cavalo! Pois, hoje,
perdeu-se o hábito de falar sobre o tema: o que se deve fazer em função do
comportamento do toiro; a querença que manifesta; o terreno onde se deve
colocar; a distância que se deve dar; a forma como ganhar o piton da sorte;
etc. São essas “variáveis” que tornam apaixonante a modalidade. Pelo menos,
para mim. Apesar de em Portugal “se cantarem” sempre grandes triunfos; fico-me
com o toureio de saída de Francisco Palha e a sua entrega; com a boa-vontade de
Miguel Moura em ambos do seu lote; e com a sinceridade e pureza do toureio de
João Salgueiro da Costa no seu primeiro. O Toureio a Cavalo no nosso país
precisa, urgentemente, de despertar o interesse do público. Mas também é
preciso que o mesmo entenda o que vê. Cada dia passado é um dia perdido. Esta
temporada vai ser decisiva!
FOTO: PEDRO BATALHA