sexta-feira, 22 de julho de 2022

CAMPO PEQUENO: UMA ALTERNATIVA E A SUPREMA DIMENSÃO DO TOUREIO DE ANTÓNIO RIBEIRO TELLES!

Por: Catarina Bexiga

O TOUREIO A CAVALO (escrevo, propositadamente, com letra maiúscula) sempre implicou ter conhecimento do toiro. Da sua investida, dos seus terrenos, das suas distâncias, das suas querenças, das suas reações, etc, etc, etc… Quando há um cavaleiro que procura desvendar o “enigma” que o toiro apresenta, mesmo que esse toiro não se preste ao sonhado, podemos sempre ver TOUREAR A CAVALO (escrevo, novamente, com letra maiúscula). Reconheço que nem todos os toiros podem permitir tourear bonito (actualmente, em moda); mas uma coisa é tourear bonito, outra é tourear bem. E tourear bem é entender o toiro no seu conjunto! Ontem, em Lisboa, só me recordo de o ver fazer a ANTÓNIO RIBEIRO TELLES. Ontem, em Lisboa, ficou bem vincado a importância de saber lidar um toiro. Com um manso desinteressando, que chegou mesmo a fugir para as tábuas, sem entrega, sem fijeza; António inventou a actuação, com conhecimento, com maestria e com muito mérito! São as actuações de mérito que fazem parte da história do nosso Toureio a Cavalo. São essas que nos tornam grandes, enquanto Pátria do Toureio a Cavalo. São essas que temos que saber valorizar e aclamar. Montado no generoso “Alcochete”, António foi-se acoplando e superando ferro após ferro; e, sobretudo, a forma como preparou os dois últimos curtos foram um deleite. Cinco ferros intensos e uma mensagem que marca a primeira noite da temporada no Campo Pequeno. A Outra dimensão do Toureio!

Por outro lado, quando o cavaleiro não procura desvendar o “enigma” que o toiro apresenta; vê-se, claramente, que anda à deriva das investidas, ao acaso, à sorte. Depois, umas vezes a coisa resulta, outras não! Ontem, vimos isso várias vezes.

Noite histórica para a família Brito Paes no Campo Pequeno. Julgo que tanto Joaquim Brito Paes (que tomou a Alternativa) como António Maria Brito Paes guardarão o carinho com que foram recebidos em Lisboa, a garantia de continuidade de uma dinastia antiga e as emoções fortes de uma noite com o significado desta.

O veterano João Salgueiro viu-se fácil com a ajuda do preciso “Alba”; e de João Salgueiro da Costa esperava-se muito mais, sobretudo, depois das suas últimas grandes actuações.

O praticante António Telles filho teve “gacho” no público da capital e soube aproveitá-lo.

Aos toiros de António Raul Brito Paes faltaram raça e entrega. Dos seis sobressaíram o primeiro e terceiro que acabaram por cumprir.

Os Amadores de Lisboa protagonizaram a pega da noite. Foi autor Daniel Batalha ao quarto da tarde, uma grande pega, aguentando sozinho na cara do toiro, com muito querer. Foram ainda solistas Nuno Fitas à primeira e Duarte Mira à quinta. Pelos Amadores de Montemor-o-Novo pegaram Vasco Carolino, Vasco Ponce e José Maria Vacas de Carvalho, todos superiormente ao primeiro intento.

Da noite ficou a mensagem de António Ribeiro Telles para quem a entendeu!

Foto: Pedro Batalha
 

segunda-feira, 4 de julho de 2022

VILA FRANCA: UM COLETE DA COR DO CORAÇÃO!

Por: Catarina Bexiga
Foram vários os motivos que tornaram este Colete Encarnado especial. Mais aguardado que nunca; mais preenchido, mais intenso, mais movimentado, mais desfrutado… Vivido de forma única! Este foi um Colete da cor do coração – pelos 90 anos que se assinalaram e pelos sentimentos, que só cada Vilafranquense guarda – mas também do tamanho do coração que está por detrás de cada colete. Ao Campino, devemos, anualmente, essa homenagem!
Todas as iniciativas (a Câmara Municipal está de Parabéns!) foram preparadas com afecto; mas a tarde de Domingo, 3 de Julho, na Palha Blanco revelou a dimensão que o nosso toureio pode ter. Com um ambiente único, como há muito não vi-a. Com um calor humano, envolvente e transcendente. Uma Palha Blanco ainda mais bonita. Uma tarde que fica para a história. A tocar o sonho!
Como aficionada (e Vilafranquense), as palavras fogem-me, mas o coração está cheio! Não vou pormenorizar o que se passou na centenária arena. Porque há tardes que não se explicam, nem se descrevem… apenas se sentem, por quem tem o privilégio de as viver.
As actuações de João Telles e Francisco Palha foram das suas mais convincentes passagens pela Palha Blanco. Os toiros de Canas Vigouroux saíram sob o reservado, mas sem complicar. João Telles imprimou mais verdade ao seu toureio, quer montando o “Gaiato” no primeiro toiro, quer com o “Marfim” no segundo, assim queira continuar por este caminho. Francisco Palha pôs disposição e vibração em tudo o que fez. Ofereceu, o que faz falta, emoção! Para além de lidar, superiormente, o seu lote; é, actualmente, um cavaleiro mais cuajado e mais harmonioso. Com o “Rebelde” os dois últimos curtos marcaram a diferença e com o “Roncalito” houve entrega e impacto. Pelos Amadores de Vila Franca de Xira pegaram Vasco Pereira, Guilherme Dotti, Pedro Silva e David Moreira, que se despediu. Também uma tarde especial para o grupo da terra, que está a comemorar a mesma efeméride que o Colete Encarnado.
Mas a tarde de Domingo na Palha Blanco teve outro sentimento maior: a “explosão” do toureio a pé. Não me lembro de o sentir como ontem. O público esteve receptivo e os matadores dispostos a aproveitar o clima. Daniel Luque (em substituição de António Ferrera) e João Silva “Juanito” assumiram a responsabilidade do cartel. Luque confirmou o grande momento que atravessa e “Juanito” ofereceu a irreverencia da idade. Dos quatro de Murteira Graves que saíram à arena, o segundo (N.º 16) foi um grande toiro, com classe pelo pitón direito, mas mais exigente pelo esquerdo, proporcionando a chamada do ganadero. Toucou ao toureiro português. A intensidade da faena de “Juanito” e, sobretudo, a reacção do público; são a resposta inequívoca a muitas perguntas… Uma verdadeira “explosão” de entusiasmo! Com o seu segundo, “Juanito” sentiu mais dificuldades em entender o toiro. Daniel Luque também teve uma grande tarde na Palha Blanco. Com o seu primeiro andou insistente e meritório com um toiro que pouco ajudou; com o seu segundo, mostrou a sua verdadeira dimensão, novamente por cima do toiro, construindo uma faena inteligente, mais ligada e com chama pelo pitón direito, com virtudes que só o tempo confere.
Ontem na Palha Blanco, foi uma tarde para aficionados e de fazer aficionados!
Foto: Câmara Municipal de Vila Franca de Xira

 

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