Por: Catarina Bexiga
Definir
os 40 anos de Alternativa de António Ribeiro Telles em quatro palavras é um
risco. Mas vou corrê-lo. Ao longo destas quatro décadas, António tem-nos feito
perceber o que é o Toureio a Cavalo; dependendo de cada toiro e de cada
investida… o Toureio a Cavalo na sua complexidade bem como na sua simplicidade.
PORTUGALIDADE.
Porque António é o mais português de todos. Que preserva valores, defende regras
e procura pôr em prática um conceito (sobretudo, o lidar; e o conceito do ferro
de frente e ao estribo) que deu ao nosso país um elevado estatuto
além-fronteiras. António é (dos poucos) que nos faz lembrar que somos a Pátria
do Toureio a Cavalo!
CLASSICISMO.
Para o explicar gosto sempre de recorrer àquela frase de Rafael Gómez “El
Gallo”, quando um dos seus bandarilheiros lhe perguntou: “Maestro, qué es lo
clásico?” Respondeu o diestro: “Lo clásico es aquello que no se puede
hacer mejor!”
TORERÍA.
É algo que se tem ou não se tem. É ter uma forma especial de exteriorizar o que
se leva dentro. É pensar, falar, sentir e actuar, sempre em Toureiro!
MAESTRIA.
Ao longo destes 40 anos, pelo nível de actuações com que nos tem brindado, só
podemos estar a falar de uma Figura de Época, um Maestro de Maestros.
A
noite de 21 de Julho teve as suas exigências. Os toiros de Vale Sorraia saíram
superiormente apresentados; no entanto, os lidados na primeira parte
contrastaram com os da segunda. O primeiro mostrou-se indiferente e sem fijeza
; o segundo veio a menos e raspou muito; e o terceiro revelou-se distraído e
também sem fijeza. Depois do intervalo, a matéria-prima foi outra. Para
melhor. Mesmo parco de forças, o sexto da função investiu com motor e ritmo,
transmitindo muito.
António Ribeiro Telles foi ele próprio em Salvaterra de
Magos, a terra onde se estreou nas arenas. Com saber lidou superiormente o
primeiro, um mansarrão, que pedia contas com o “Lorde” de curtos; e com mais
sabor esteve frente ao segundo, montado no “Alcochete”, com um toureio continuo
e intencional, com destaque para o segundo e terceiro curto.
Luís Rouxinol e Miguel Moura superaram com disposição as complicações apresentadas pelos seus primeiros toiros. Posteriormente, o quinto e sexto toiro permitiu-lhes dar outra dimensão ao seu toureio. Rouxinol deu importância aos compridos com a “Libra”; e esteve sobrado e variado com o “Douro”. Miguel Moura surpreendeu com uma actuação diferente, montado no “Herói”; aproveitando de sobremaneira a transmissão do valesorraia, improvisando as sortes e chegando muito às bancadas. Uma actuação que marca a sua temporada!
Pelos Amadores de Santarém foram caras João Faro, à primeira tentativa; Vasco Salazar, autor de uma grande pega também à primeira; e Pedro Valério à segunda. Pelos Amadores do Ribatejo concretizaram André Laranjinha, valentíssimo, aguentando vários derrotes, à primeira; e Ricardo Regaleira, também à primeira. O sexto toiro da noite não foi pegado por se lesionar.
Aquelas palavras de Mestre David Ribeiro Telles dizem tudo:
“Tenho visto o meu filho António tourear toiros que, digo-o sinceramente, era
assim que eu gostaria de ter toureado!”
Quatro décadas se passaram, mas a essência permanece intacta!
FOTO: PEDRO BATALHA