Maestro
José Júlio,
Sei
que levou Vila Franca no seu coração. Mas também tenho a certeza que os
vilafranquenses continuam a tê-lo dentro do peito. Como o poderíamos esquecer,
Maestro? Pela sua trajectória, pela paixão que despertou entre nós e por tudo o
que nos fez desfrutar. Como o poderíamos esquecer? A “sua” Palha Blanco (onde o
Maestro toureou 87 tardes e noites) esgotou no passado Domingo de Colete
Encarnado. Ambiente contagiante, com um público disposto a sentir o toureio. Acredito
que à memória de muitos aficionados veio o seu nome. Aliás, era inevitável! Era a tarde de apresentação de um toureiro que
também nasceu em Vila Franca e que tem nas veias o seu sangue. O Tomás Bastos não
o esconde. E quero acreditar que a faena de muleta brindada ao céu foi dirigida
a si. O Tomás Bastos tem “hechuras” toreras, tem umas capacidades superiores para
a idade e um querer onde cabem “1000” quereres. Arrisco mesmo a dizer que tem o
dom dos predestinados. Os lances à Verónica ganhando terreno com um selo próprio;
os dois grandes pares de bandarilhas que cravou “asomándose al balcón”; e a
faena de argumentos com um novilho de Calejo Pires que ao terceiro muletazo
protestava, mas onde não foi indiferente a forma como baixou a mão e quebrou a
cintura, rematando as series com “pelisco”… fez com que o coração dos
Vilafranquense voltasse a bater mais forte.
Mas
era Domingo de Colete Encarnado, sempre um dia diferente… com vários brindes
aos Campinos! Esses homens que vivem e sentem o toiro bravo como poucos.
Dos
toiros de Alves Inácio (dispares de apresentação, sem trapio para a
Palha Blanco, sobretudo, o segundo) destacou-se o último. O primeiro foi distraído
e tardo no momento do ferro; o segundo também distraído, trotón, sem se empregar;
o terceiro reservado; e o quarto, embora não estando sobrado de força, teve mobilidade.
O cavaleiro Manuel Telles Bastos
substituiu João Salgueiro que apresentou atestado médico no próprio dia. Telles
Bastos teve uma passagem demasiado modesta pela Palha Blanco. Por outro lado, a
presença de João Telles Jr. por Vila Franca resume-se ao momento em que montou
o “Ilusionista” no seu segundo, com o habitual tremendismo, mas com relevo para
o primeiro curto.
Pelos
Amadores de Vila Franca pegaram Vasco Pereira à primeira tentativa, Lucas
Gonçalves à terceira, Guilherme Dotti superiormente à primeira e também uma
grande pega de Rafael Plácido à primeira.
A comparência
de Morante de la Puebla na Palha Blanco dá-lhe um ambiente único. Todavia, os dois
toiros de Garcia Jiménez resenhados para o diestro espanhol deveriam ter
sido repensados. Diferentes, mas ambos com mau tipo. O primeiro ainda investiu,
mas sem classe; e o segundo não transmitiu. José António procurou dar o que os
aficionados esperam de si. Com ternura e carícia (muito próprio do seu toureio)
explorou o que o seu primeiro tinha para oferecer. E ainda sofreu uma feia
voltareta de capote, que rapidamente superou. Com o segundo houve apenas
vontade de agradar.
Maestro,
a história do Tomás Bastos começou no passado Domingo de Colete Encarnado.
Porque foi uma tarde importante para ele e para nós, aficionados. Afinal, todos
voltámos a acreditar. Como aconteceu naqueles anos 50 e 60, com o Maestro no
seu cume. Afinal, todos voltámos a sonhar!
FOTO: PEDRO BATALHA