terça-feira, 4 de julho de 2023

CARTA ABERTA AO MAESTRO JOSÉ JÚLIO

Maestro José Júlio,

Sei que levou Vila Franca no seu coração. Mas também tenho a certeza que os vilafranquenses continuam a tê-lo dentro do peito. Como o poderíamos esquecer, Maestro? Pela sua trajectória, pela paixão que despertou entre nós e por tudo o que nos fez desfrutar. Como o poderíamos esquecer? A “sua” Palha Blanco (onde o Maestro toureou 87 tardes e noites) esgotou no passado Domingo de Colete Encarnado. Ambiente contagiante, com um público disposto a sentir o toureio. Acredito que à memória de muitos aficionados veio o seu nome. Aliás, era inevitável!  Era a tarde de apresentação de um toureiro que também nasceu em Vila Franca e que tem nas veias o seu sangue. O Tomás Bastos não o esconde. E quero acreditar que a faena de muleta brindada ao céu foi dirigida a si. O Tomás Bastos tem “hechuras” toreras, tem umas capacidades superiores para a idade e um querer onde cabem “1000” quereres. Arrisco mesmo a dizer que tem o dom dos predestinados. Os lances à Verónica ganhando terreno com um selo próprio; os dois grandes pares de bandarilhas que cravou “asomándose al balcón”; e a faena de argumentos com um novilho de Calejo Pires que ao terceiro muletazo protestava, mas onde não foi indiferente a forma como baixou a mão e quebrou a cintura, rematando as series com “pelisco”… fez com que o coração dos Vilafranquense voltasse a bater mais forte.

Mas era Domingo de Colete Encarnado, sempre um dia diferente… com vários brindes aos Campinos! Esses homens que vivem e sentem o toiro bravo como poucos.

Dos toiros de Alves Inácio (dispares de apresentação, sem trapio para a Palha Blanco, sobretudo, o segundo) destacou-se o último. O primeiro foi distraído e tardo no momento do ferro; o segundo também distraído, trotón, sem se empregar; o terceiro reservado; e o quarto, embora não estando sobrado de força, teve mobilidade.  O cavaleiro Manuel Telles Bastos substituiu João Salgueiro que apresentou atestado médico no próprio dia. Telles Bastos teve uma passagem demasiado modesta pela Palha Blanco. Por outro lado, a presença de João Telles Jr. por Vila Franca resume-se ao momento em que montou o “Ilusionista” no seu segundo, com o habitual tremendismo, mas com relevo para o primeiro curto.

Pelos Amadores de Vila Franca pegaram Vasco Pereira à primeira tentativa, Lucas Gonçalves à terceira, Guilherme Dotti superiormente à primeira e também uma grande pega de Rafael Plácido à primeira.

A comparência de Morante de la Puebla na Palha Blanco dá-lhe um ambiente único. Todavia, os dois toiros de Garcia Jiménez resenhados para o diestro espanhol deveriam ter sido repensados. Diferentes, mas ambos com mau tipo. O primeiro ainda investiu, mas sem classe; e o segundo não transmitiu. José António procurou dar o que os aficionados esperam de si. Com ternura e carícia (muito próprio do seu toureio) explorou o que o seu primeiro tinha para oferecer. E ainda sofreu uma feia voltareta de capote, que rapidamente superou. Com o segundo houve apenas vontade de agradar.  

Maestro, a história do Tomás Bastos começou no passado Domingo de Colete Encarnado. Porque foi uma tarde importante para ele e para nós, aficionados. Afinal, todos voltámos a acreditar. Como aconteceu naqueles anos 50 e 60, com o Maestro no seu cume. Afinal, todos voltámos a sonhar!

FOTO: PEDRO BATALHA

 

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