domingo, 16 de julho de 2023

CAMPO PEQUENO: O MESMO NOME PRÓPRIO, O MESMO APELIDO, O MESMO SONHO!

Por: Catarina Bexiga
40 anos separam as datas de Alternativa de António Ribeiro Telles e António Ribeiro Telles filho. O mesmo nome próprio, o mesmo apelido, o mesmo sonho… e a mesma casaca – azul de veludo, bordada a prata – vestida pelo patriarca da Torrinha, Mestre David Ribeiro Telles, no dia do seu douctoramento, e posteriormente pelos seus filhos e netos aquando das suas Alternativas.

21 de Julho de 1983. Data em que Mestre David deu a Alternativa ao seu filho António. Passam agora 40 anos. E em que se tornou António Ribeiro Telles? Expoente máximo do Toureio a Cavalo à Portuguesa. Um TOUREIRO que, nos anos 80 e 90, alcançou o auge da sua carreira com o “Tupi-Lupi”, o “Gabarito” ou o “Sal e Pimenta”; que também passou pela dureza do “deserto” quando esses mesmo cavalos desapareceram; mas que tem sido fiel a um conceito e ganhou o respeito dos Aficionados. A sua actuação, na passada Sexta-feira, no Campo Pequeno exprimiu o que é nosso, o que é português, o que é o António Ribeiro Telles. Não foi uma actuação redonda, mas toda a sua mensagem estava lá para quem a quis entender e desfrutar. Montado no “Hibisco” o primeiro comprido foi em “sorte à tira”, perfeita, reduzindo a velocidade na abordagem e oferendo a espádua do cavalo, para cobrar de forma cingida, no alto da cruz. Com o segundo, António teve a intenção de recrear a “sorte da Morte”, da autoria de António Luís Lopes, mas o toiro arrancou pronto, a “pirueta” foi executada lentamente, e no momento da reunião o adversário ainda alcançou o cavalo. Foi pena, mas houve mérito. Para os curtos, António foi buscar o “Alcochete”. O toiro começou-se a reservar e a procurar o refúgio dos terrenos de dentro. A lide tornou-se exigente, porque exigia disponibilidade, sabedoria e maturidade. E na arena do Campo Pequeno não estava um toureiro qualquer, estava um TOUREIRO chamado António Ribeiro Telles. Lidar um toiro é aquilo. Ser grande é aquilo. Deixar uma mensagem importante é aquilo. A “equação” teve terrenos, distâncias e tempos… tudo feito com uma classe e uma torería singular. Os cinco curtos que cravou no toiro reavivou-nos a memória e o entusiasmo. No último também sofreu um toque, mas ficaram a vontade e a superação. Nos dias de hoje já raramente se vê tourear assim!

14 de Julho de 2023. Data em que António deu a Alternativa ao seu filho António de Jesus com um Campo Pequeno esgotadíssimo. O toiro levava o N.º 70 e chamava-se “Montura”, vindo a menos com o decorrer da actuação. Com o “Embuçado”, recebeu com poderio o toiro “à porta gaiola”, sendo o terceiro comprido o melhor do conjunto. António de Jesus é um cavaleiro sobrado de capacidades, com uma visão lidadora herdada do seu pai, cujo tempo ajudará a consolidar melhor as suas intenções. Com o “Sherpa” imprimiu determinação em todos os momentos e uma vontade enorme em ultrapassar os desafios. Afinal, este foi o primeiro dia do resto da sua vida!

Do cartel fizeram ainda parte os toureiros da família. E de todos vimos coisas importantes. Manuel Telles Bastos (com um toiro manso parado) apontou três tiras correctas e com o “Ipanema” preparou superiormente dois curtos, destacando-se a consumação do quarto. João Ribeiro Telles (com um exemplar que acabou em tábuas) esteve convincente com o “Gaiato” e impactou com um duplo quiebro com o “Ilusionista. E Tristão Telles Queiroz (com um sobrero, que teve mobilidade e duração) alimentou a expectativa que nele se deposita. Depois de um extraordinário segundo comprido, montado no “Moita” terminou a actuação com um grande curto. O último toiro (com falta de entrega) foi lidado “à moda da Torrinha”. Manuel TB recebeu-o, João e Tristão cravaram os primeiros curtos e António pai e filho remataram a actuação. Apoteose total!

O curro com o ferro de David Ribeiro Telles saiu rematadíssimo, com três toiros que mereciam ser aplaudidos pelo seu trapio, o primeiro, segundo e sexto. O sobrero lidado em quinto lugar foi o que ofereceu melhor jogo.

Para os homens da jaqueta de ramagens a noite não foi fácil. Pelos Amadores de Santarém pegaram Francisco Graciosa à segunda, Joaquim Grave também à segunda e de cernelha João Manoel e Miguel Tavares. Pelo grupo de Vila Franca concretizaram Vasco Pereira à primeira superiormente ajudado por Diogo Duarte, e dois nomes que começam a dar nas vistas dentro do grupo: Rafael Plácido à terceira e Guilherme Dotti à primeira também superiormente ajudado por Rodrigo Dotti.

Noite marcante para a Dinastia Ribeiro Telles e para a história do Toureio a Cavalo!

FOTO: PEDRO BATALHA

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