Por: Catarina Bexiga
A renovação da Festa de Toiros passa, sobretudo, pelo
aparecimento de novos toureiros, capazes de levantar expectativas; e, nos
últimos tempos, o novilheiro vila-franquense Tomás Bastos tem devolvido à nossa
afición um entusiasmo que há muito não se sentia.
Com a colhida, na véspera, do matador de toiros David de
Miranda - oportunamente contratado pela empresa, após os seus mais recentes
triunfos - a mesma optou pelo caminho “mais fácil”, e obrigou-nos a ver mais
duas lides a cavalo, o que não é a mesma coisa. Longe disso!
Da Galeana vieram dois toiros atacados de carnes, bastotes,
para o toureio a cavalo; e outros dois, mais harmoniosos, que estavam
destinados ao toureio a pé, mas que tiveram um destino bem diferente. Dos
maiores, o lidado em primeiro lugar por Tristão Ribeiro Telles veio a menos; e
o segundo lidado por Francisco Palha acabou em tábuas. Dos outros dois, chamou
a atenção a forma humilhada como investiu nos capotes o primeiro da tarde, mas
lidado a cavalo, esperou muito no momento do ferro; e o quinto sendo o melhor,
com mais “picante”.
Francisco Palha teve uma tarde discreta na Palha Blanco, com
duas actuações irregulares, sendo evidente o “cansaço” da sua actual quadra. De
nota superior, recordo o segundo comprido, no seu primeiro toiro, montado no “Estrondo”,
um grande ferro!
Tristão Ribeiro Telles tem facilidade em comunicar com as
bancadas, as suas actuações são marcadas pela disposição e determinação que
imprime, mas o seu conceito ainda não está completamente definido. O público
não lhe perdoou o facto do bandarilheiro lhe tocar o toiro duas vezes nas
tábuas. Aliás, uma moda que persiste actualmente entre a maioria dos nossos
cavaleiros, e que desvirtua as lides; porque o interesse do Toureio a Cavalo
está em entender o toiro e agir de acordo com o seu comportamento; e agora,
para a grande parte, deixou de haver terrenos e distâncias, deixou de se ter cuidado
com as querenças, deixou de se evitar dar o braço esquerdo aos curros de saída…
Enfim, muitas vezes falta sentido ao que se vê! Mas voltando às actuações do
mais novo dos Ribeiro Telles; com o “Formigo” no seu primeiro, começou melhor
do que terminou; e com o “Nureyev” no seu segundo, praticou um toureio mais
sincero, sobressaindo o segundo e quarto curtos.
Pelos Amadores de Vila Franca de Xira, Rodrigo Camilo
concretizou à primeira tentativa, Lucas Gonçalves sentiu a dureza do Grave e
apenas se fechou à terceira, Guilherme Dotti fez uma grande pega à primeira e
Rodrigo andrade também concretizou à primeira.
O novilheiro Tomás Bastos confirmou na sua terra o bom
momento que atravessa a sua carreira; e a prova está também (e sobretudo) nos
seus mais recentes triunfos em Espanha. Os seus dois Graves tinham acabado de
completar três anos de idade, e para a Palha Blanco, de apresentação, mereciam
outra seriedade. De capote, Tomás Bastos andou variado, por um lado com verónicas,
por outro com saltilleras ou chicuelinas mais vistosas. O seu primeiro Grave
foi uma “máquina de investir”, aguentando a ligação e o poderio conferido pelo
toureio vila-franquense. A faena baseou-se no pitón direito, com várias series
de derechazos, cingindos e profundos, quase sempre rematados com personalíssimos
passes de peito. O último da tarde não tinha força, e não aguentava mais do que
dois ou três muletazos seguidos, inviabilizando o ritmo da faena. A resposta de
Tomás Bastou foi perentória, “não investiu o novilho, investiu ele”, optando
pelo toureio de cercanias e pelos desplantes, fazendo o público da Palha Blanco
(casa cheia) explodir de entusiasmo. Nova saída em ombros. E Vila Franca volta
a ter um Toureiro!
FOTO: PEDRO BATALHA