Por: Catarina Bexiga
Rivalidade. Capacidades. Ambição. São
as três palavras que melhor definem o espírito com que Marco Pérez e Tomás
Bastos encararam a noite, de ontem, na praça de toiros “Daniel do Nascimento”,
na Moita. Uma noite, em que ambos, disputaram a supremacia; mas mais importante
do que isso, em que ambos, mostraram ser dois toureiros com horizonte. E é este
o espírito que alimenta paixões e move multidões. Todos ficámos a ganhar!
Dos campos de Olivenza, vieram dois
toiros com o ferro de Talavante, com melhores hechuras o segundo, mas sem
classe nas investidas. Por outro lado, aos dois novilhos de Calejo Pires (muito
fechados de cara), sobrou nobreza, mas faltou-lhes raça… Se com os “primeiros”
de cada lote, os dois toureiros tiveram argumentos para se sobreporem às
adversidades; com os “segundos”, viu-se uma outra dimensão do toureio de ambos,
mais profunda, mais templada… mais a gosto!
Logo de capote, Marco Pérez e Tomás
Bastos “picaram-se”. Houve competição e variedade, pois nenhum perdeu a
oportunidade de se luzir, respondendo aos quites um do outro.
Da primeira faena de Marco Pérez guardo
os doblones com que iniciou o trasteo de muleta. O de Talavante
protestou por ambos os pitóns, mas Pérez manteve-se insistente, e mesmo
que não acreditasse que o toiro poderia melhorar, nunca se cansou de dar muletazos.
O de Calejo Pires manseou para tábuas várias vezes, mas como tinha muita
nobreza, o jovem diestro de Salamanca praticou um toureio sempre muito ligado e
intuitivo.
Embalado pelos seus mais recentes (e
vários) triunfos, Tomás Bastos reencontrou-se com a Moita e continua a manter o
idílio. Com o seu toiro de Talavante respondeu em “novilheiro”, pois a meio da
faena pôs (ainda) mais entrega e mais chispa, conseguindo chegar ás bancadas.
Com o novilho de Calejo Pires, outro que voltou a procurar os terrenos de
dentro, Bastos esteve muito encajado, sobressaindo o toureio ao natural. Voltou
a marcar uma posição e a reforçar a imagem de que é um toureiro com quem
podemos contar.
Da parte do toureio a cavalo há pouco
para recordar. Com um toiro do Eng. Jorge de Carvalho, sem entrega e que
esperou no momento do ferro (inclusive, frenou), António Ribeiro Telles não se
entendeu com o “Murmullo” no primeiro curto e limitou-se a cumprir com o “Alcochete”.
O segundo com o mesmo ferro, deixou-se, mas sem ser claro; e com ele António
Ribeiro Telles filho andou sobrado a lidar, sempre com ligação e sentido, mas
sem romper na serie de curtos.
Pelos Amadores da Moita pegaram João
César à primeira tentativa e João Pombinho à segunda.
Noite de expectativa em redor de
Marco Pérez e Tomás Bastos, correspondida com uma grande entrada de público… e
no fim, saída em ombros de Tomás Bastos, após ter somado quatro voltas à arena
e conquistado o direito de abrir a porta grande que leva o nome de “Nossa
Senhora da Boa Viagem”, padroeira da Moita.
FOTO: PEDRO BATALHA