segunda-feira, 26 de agosto de 2024

CARTA ABERTA A RUI SALVADOR

Caro Rui Salvador,

Permita-me que o trate assim. Deixei passar alguns dias, após a noite de Quinta-feira, no Campo Pequeno, para poder amadurecer o que lhe queria transmitir. Acima de tudo, transmitir o meu agradecimento, o nosso agradecimento, o agradecimento da afición portuguesa.

Volvidos 40 anos de Alternativa, querer despedir-se na Monumental do Campo Pequeno, com um curro do Dr. António Silva, à beira de cumprir cinco anos de idade, sério por onde o mirássemos, diz tudo de si!

O Rui Salvador leva tantos anos de Alternativa quase como eu de aficionada. E como diz aquela conhecida frase, “El mejor aficionado es aquel al que le caben más toreros en la cabeza”; habituei-me a vê-lo como um guerreiro, um toureiro de máxima entrega, nunca acomodado a nada, ousado, provocador, valente…

O Rui Salvador é um daqueles toureiros que todos devemos de admirar e respeitar; porque para estar na cara de certos toiros é, muitas vezes, preciso fazer um esforço sobrehumano, que sentados nas bancadas, muitas vezes, não imaginamos…

Lembro-me de várias actuações suas. Ainda apanhei a fase final do “Napoleão” e do “Crufta”, da “Ratona” ou do “Renegado”, mas é do “Atlas” e do “Importante” dos que mais recordo. E que actuações!

Os anos 80 e 90, foram épocas importantes do nosso Toureio a Cavalo, de projecção e valorização; para mim, o tempo em que melhores se toureou e em que mais se rivalizou nas nossas arenas. E o Rui Salvador também contribuiu, com o seu conceito, e com a sua forma de ser, para que fossemos reconhecidos como a Pátria do Toureio a Cavalo.

Suponho que as suas lágrimas, na passada Quinta-feira, no Campo Pequeno, tenham sido difíceis de conter. Afinal, para trás ficaram tantos momentos, tantas lembranças, tantas amizades… uma história de vida!

Os aficionados, esses, quiseram marcar presença. E até foi arrepiante a forma como o acarinharam.

Rui, não chore porque tudo terminou, sorria porque tudo aconteceu!

Aceite, um abraço, de apreço.

Catarina Bexiga

FOTO: PEDRO BATALHA

sábado, 10 de agosto de 2024

CAMPO PEQUENO: CABIA-NOS MOSTRAR AO MUNDO QUEM SOMOS…

 

Por: Catarina Bexiga

Ontem, no Campo Pequeno – Catedral do Toureio a Cavalo – estava em causa muita coisa. Ao ser transmitido pelo canal Onetoro, o espectáculo teve uma projecção mundial enorme. E cabia-nos a responsabilidade de aproveitar a ocasião para divulgar e defender a nossa Festa de Toiros, uma realidade distinta dos demais países taurinos; mas, sobretudo, no que diz respeito ao Toureio a Cavalo, com uma reputação que vem de longa data. Por outras palavras: Cabia-nos mostrar ao mundo quem somos. Cabia-nos, defender o que é nosso, o que é português!

E é por aqui que começo. De todos, Ana Batista foi o nome mais português. Pelo conceito que defendeu e pelas intenções que mostrou. O seu Vinhas foi exigente, pois no momento do ferro surpreendia de forma perigosa. De saída, com o novato “Ónix”, Ana marcou a diferença, com um toureio sério. Desenhou perfeitamente a sorte no primeiro comprido, mas infelizmente errou o alvo, seguindo-se dois compridos de nota elevada. Montada no “Hermoso”, a actuação teve muito, mas muito mérito. O toiro foi sempre tardo e a cavaleira atacou sempre muito. Com atitude. Com decisão. Com risco. O primeiro e o quarto sobressaíram do conjunto.

João Moura Caetano teve a sorte do seu lado, com o Vinhas que lhe tocou no sorteio. Começou por dar nas vistas com o segundo comprido, montado no “Pidal”; pois, o toiro arrancou-se de largo e o ferro teve impacto. De seguida, com o “Campo Pequeno” privilegiou as cercanias e a harmonia do toureio que ambos sentem.

Manuel Telles Bastos assinou no Campo Pequeno uma exibição demasiado modesta. É verdade que o seu Vinhas adiantava-se, mas a sua quadra também não ajudou a superar o problema. Montado no “Ipanema”, o quinto curto foi o mais convincente.

Duarte Pinto também foi vítima do mesmo mal. Outro Vinhas que se adiantava. Sobretudo, montado no “Cesário”, vencer o pitón da sorte foi a sua principal dificuldade. A sua prestação nunca chegou a convencer.

Andrés Romero quis “vender” uma actuação que não teve clientela; apostando num toureio enganoso, com muitas passagens em falso e reuniões na paralela. No mínimo, caricato, foi querer sacar os cavalos para a volta a arena. Todavia, o público “parou-lhe os pés”.

A noite terminou com a actuação de Luís Rouxinol Jr. Ao seu Vinhas faltou entrega, mas montado no “Jamaica”, praticou um toureio animoso, que muitas vezes transmite, mas que, sobretudo, no momento do ferro, carece de argumentos mais sólidos.

Em noite de Concurso de Pegas, foi o grupo de Monsaraz o justo vencedor da Melhor Pega, através de André Mendes. Pelo grupo alentejano também pegou João Ramalho, à primeira tentativa. Pelos Amadores de Coimbra concretizaram Pedro Casalta à primeira e André Macedo à segunda. Pelos Académicos de Coimbra foram caras Francisco Gonçalves à terceira e João Tavares à primeira.

Termino, com a questão que me tirou o sono. Conseguimos mostrar uma imagem válida do nosso Toureio a Cavalo actual? Convido-vos a deixar a V. opinião nos comentários…

FOTO PEDRO BATALHA


segunda-feira, 5 de agosto de 2024

NAZARÉ: BORJA JIMÉNEZ, UM DOS NOMES DA TEMPORADA!

Por: Catarina Bexiga

APOSTA, COMPLETAMENTE, GANHA. A noite, de ontem, na Nazaré, rompeu todos os “tabus” em relação à receptividade do Toureio a Pé em Portugal. Depois de tudo o que, o matador de toiros Borja Jiménez, vem “dizendo” no seu país, inclusive, com duas saídas em ombros da Monumental de Las Ventas, uma em Outubro e outra em Maio; Rui Bento foi o único que teve visão taurina, para, de imediato, contratar o diestro de Espartinas para a praça de toiros da Nazaré. E quando à gosto em fazer as coisas… o esforço, normalmente, tem recompensa; pois pouco faltou para esgotar o papel. Que sirva de exemplo!

Borja Jiménez está num momento cumpre. E veio à Nazaré com a mesma entrega, com que o temos visto, quer em praças de menor como de maior importância. As suas duas faena foram muito similares a nível do que é o seu conceito. Ocorrem, agora mesmo, três palavras: Convicção, muito Firmeza e um toureio Poderosíssimo; deixando passar os toiros muito perto da taleguilla, baixando muito a mão e rematando os muletazoz atrás das costas. Completamente entregue e responsabilizado. Merecida a saída em ombros.

Ao novilheiro Tomás Bastos tocou um lote exigente. Templadas e cadenciadas foram as verónicas no seu primeiro e cingidas as chicuelinas no segundo. Aliás, ambos os toureiros responderam aos quites, o que tornou a noite ainda mais interessante. De bandarilhas, cumpriu com soltura. Apesar da sua facilidade em estar na cara dos novilhos, as suas duas faenas ficaram comprometidas pela falta de entrega dos exemplares de Manuel Veiga. O primeiro era tardo a investir, e roubou ritmo à faena; e o segundo apenas permitia ligar dois muletazos, embora o começo de faena tenha sido vibrante, de joelhos em terra. Tomás valeu-se do seu querer para dar a volta à “tortilla”.  

A cavalo, as lides estiveram a cargo de pai de filho. De António Ribeiro Telles o melhor que se viu foram os três ferros à tira, montado no “Hibisco”, com que recebeu o seu primeiro toiro de Condessa de Sobral. Daí para a frente, a sorte não lhe sorriu…

António Ribeiro Telles filho foi à Nazaré marcar pontos. No toiro a sós, montado no “Jesuita” apontou dois compridos de frente, vencendo o pitón da sorte e cravando com impacto. Com o “Sherpa”, houve dinâmica e propósito no que fez, mas o auge da actuação surgiu com o terceiro e quarto curto. 

Na lide a duo, que encerrou a noite, voltou a ser António filho o mais interventivo.

Pelos Amadores de Vila Franca de Xira, rija pega de André Câncio que dobrou Rafael Plácido; seguindo-se outras duas grandes intervenções de Vasco Carvalho (com uma grande primeira ajuda) e Lucas Gonçalves, ambos à primeira tentativa.

No fim, saíram em ombros Borja Jiménez e Tomás Bastos, bem como António Telles filho.

Uma noite que fica na história da temporada de 2024!

P.S.: A simpática praça de toiros da Nazaré tem um ambiente sui generis, mas não deverá cair em exageros… entre eles, a intervenção demasiado efusiva do “locutor” de serviço. 

 FOTO: FERNANDO JOSÉ

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