Caro Rui Salvador,
Permita-me que o trate assim. Deixei passar alguns dias,
após a noite de Quinta-feira, no Campo Pequeno, para poder amadurecer o que lhe
queria transmitir. Acima de tudo, transmitir o meu agradecimento, o nosso
agradecimento, o agradecimento da afición portuguesa.
Volvidos 40 anos de Alternativa, querer despedir-se na
Monumental do Campo Pequeno, com um curro do Dr. António Silva, à beira de
cumprir cinco anos de idade, sério por onde o mirássemos, diz tudo de si!
O Rui Salvador leva tantos anos de Alternativa quase como
eu de aficionada. E como diz aquela conhecida frase, “El mejor aficionado es
aquel al que le caben más toreros en la cabeza”; habituei-me a vê-lo como
um guerreiro, um toureiro de máxima entrega, nunca acomodado a nada, ousado,
provocador, valente…
O Rui Salvador é um daqueles toureiros que todos devemos de
admirar e respeitar; porque para estar na cara de certos toiros é, muitas
vezes, preciso fazer um esforço sobrehumano, que sentados nas bancadas, muitas
vezes, não imaginamos…
Lembro-me de várias actuações suas. Ainda apanhei a fase
final do “Napoleão” e do “Crufta”, da “Ratona” ou do “Renegado”, mas é do
“Atlas” e do “Importante” dos que mais recordo. E que actuações!
Os anos 80 e 90, foram épocas importantes do nosso Toureio
a Cavalo, de projecção e valorização; para mim, o tempo em que melhores se
toureou e em que mais se rivalizou nas nossas arenas. E o Rui Salvador também contribuiu,
com o seu conceito, e com a sua forma de ser, para que fossemos reconhecidos
como a Pátria do Toureio a Cavalo.
Suponho que as suas lágrimas, na passada Quinta-feira, no
Campo Pequeno, tenham sido difíceis de conter. Afinal, para trás ficaram tantos
momentos, tantas lembranças, tantas amizades… uma história de vida!
Os aficionados, esses, quiseram marcar presença. E até foi
arrepiante a forma como o acarinharam.
Rui, não chore porque tudo terminou, sorria porque tudo aconteceu!
Aceite, um abraço, de apreço.
Catarina Bexiga
FOTO: PEDRO BATALHA