segunda-feira, 13 de maio de 2024

SALVATERRA: A GRANDE DIMENSÃO DE ANA BATISTA, E O QUE PODERIA SER A OUTRA DIMENSÃO DE BASTINHAS!


 Por: Catarina Bexiga

Ver tourear bem a cavalo já é quase um milagre. E ver tourear bem, várias vezes, numa só tarde, já são dois milagres seguidos! Tivemos sorte os que fomos, ontem, a Salvaterra de Magos.

Começo pelo nome mais sonante. Das muitas que já toureou na sua terra natal, acredito que esta tarde de Ana Batista lhe irá ficar na memória e no coração. Ana foi autora de duas actuações completamente distintas, mas que revelam a grande dimensão do seu toureio. O toiro de João Ramalho foi fácil e permitiu à cavaleira desfrutar do momento. Montada no “Pérola”, a serie de curtos foi o protótipo da perfeição, pela importância que deu a todos os tempos da sorte: mostrando-se no cite, abordando lentamente, entrando ao toiro sem enganos, reunindo ao estribo e rematando o ferro. Tudo feito com temple e classe. Tudo feito com harmonia. Só faltou que o adversário transmitisse um pouco mais, para que a actuação chegasse mais às bancadas. Fica para quem entendeu a mensagem. Com o toiro de Prudêncio a história foi outra. Como dizem os espanhóis, um toiro “con muchas teclas para tocar”, com tendência para cortar caminho e bruto nas investidas. Ana recorreu ao “Hermoso” e não podia ter estado mais valente e decidida. Era o que o toiro pedia e essa foi a grande virtude da actuação. No dia-a-dia, as conquistas por mérito têm muito valor, nas no toureio têm ainda mais, porque na arena “joga-se” a vida de verdade!

Depois da grande dimensão de Ana Batista, apetece-me escrever que Marcos Tenório também poderia dar outra dimensão ao seu toureio. Assim o quisesse, porque tem audácia e capacidade que sobram para isso. Tocou-lhe o vencedor do concurso, pertencente à ganadaria do Dr. António Silva, um toiro com mobilidade e transmissão. Marcos quis “mostrar” o adversário – aliás, como deveriam fazer todos os cavaleiros nas corridas concurso – e montado no “Danone” os dois compridos e os dois curtos que fizeram parte da fase inicial da actuação, foram “de lhe tirar o chapéu”. De poder a poder, com emoção. Dos que já se vêm poucas vezes. Deu gosto bater-lhe palmas. Após mudar de montada, seguiu-se uma versão muito mais populista. Com o último do lote, um Ribeiro Telles que veio de mais a menos com o decorrer da lide, voltou a dar nas vistas quando recorrer novamente ao “Danone” para um grande um bom par de bandarilhas. 

Luís Rouxinol valeu-se da sua larga experiente para também deixar o seu nome escrito nesta primeira tarde da temporada de Salvaterra de Magos. Com o exigente toiro do Eng. Jorge de Carvalho, que foi incomodo nos cites, porque raspou várias vezes e doeu-se outras tantas, montado no “Girassol” temos que lhe reconhecer valor, pela forma como superou os problemas, que não foram poucos. Com o sobrero da mesma ganadaria, um toiro mais agradável, montado no “Jamaica” a actuação resultou menos consistente.

Tarde com um significado especial para os Amadores do Ribatejo, com a presença de antigos e actuais elementos do grupo. Porque se encerraram com seis toiros e pela despedida do seu cabo, que escolheu para a sua última pega o toiro mais sério da tarde. Pegaram André Laranjinha à terceira tentativa; Fábio Casinhas à primeira; Pedro Espinheira à primeira; o novo cabo Rafael Costa, numa grande pega, à primeira; Dário Silva à segunda e Ricardo Regueira à primeira.

A tarde terminou com a entrega dos prémios do Concurso de Ganadarias. O prémio Apresentação recaiu no exemplar do Eng. Jorge de Carvalho e o prémio Bravura no toiro do Dr. António Silva.

FOTO: PEDRO BATALHA

sexta-feira, 10 de maio de 2024

CHAMUSCA: FERRERA “GOZOU COM O PAGODE”!

Por: Catarina Bexiga

O matador de toiros António Ferrera conhece a afición portuguesa. Quiçá como poucos toureiros. Sabe das suas “fragilidades e facilidades”; mas também deveria saber que há aficionados íntegros nas nossas bancadas e que a data de Quinta-feira da Ascensão na Chamusca tem história e merece respeito. Ferrera tem o seu estilo – inclusive, a sua trajetória tem imenso mérito – mas desta vez abusou. A exuberância do Ferrera que se viu, ontem, na centenária arena da Chamusca, roçou o desproposito e a loucura. Começou logo durante as pegas. Após as tentativas frustradas por parte dos dois grupos, saltou à arena, quando os “homens de seda e prata” estavam no seu lugar e a desempenhar o seu papel, numa tentativa clara de dar nas vistas. Mas não ficámos por aqui. Os toiros de Murteira Grave não tiveram classe, mas a sua atitude “de guerra” piorou ainda mais as condições dos exemplares oriundos da Galeana. Também não se mostrou disponível para bandarilhar. No seu primeiro deu duas voltas por conta própria; e no último, durante a faena, pressionou o Director de Corrida para lhe conceder a música… como o pasodoble não lhe agradava, mandou parar a banda e mandou trocar a pauta. Estava em Portugal, valeu tudo!

De toureio a cavalo também há pouco para escrever. Os toiros de Passanham saíram dispares de jogo. Os dois primeiros (mais pequenos) colaboraram, mas os dois últimos (maiores e bastos) foram mais reservados. De Francisco Palha recordo os dois compridos, de saída, no seu primeiro, e depois dois curto com o “Roncalito” no quarto da tarde. De António Telles filho guardo apenas a forma sobrada como lida os toiros.

Pelos Amadores da Chamusca pegaram Mário Ferreira (que se despediu) à segunda tentativa e Diogo Marques à terceira. Pelo Aposento da Chamusca concretizaram Francisco Barreiros à quarta (dobrou Tomás Duarte) e Vasco Coelho dos Reis à primeira.

O prémio para a Melhor Lide a Cavalo recaiu em Francisco Palha e o prémio para a Melhor Pega em Vasco Coelho dos Reis. 

 

quinta-feira, 2 de maio de 2024

CARTAXO: TOUREIROS CUMPRIRAM, MAS MESMO ASSIM SOBRARAM TOIROS!

 

Por: Catarina Bexiga

Para os toureiros serviram todos, para o ganadero depende do seu conceito e da sua exigência. Porque cada criador tem “um toiro” na cabeça.  Mas, a verdade é que, o interesse maior da tarde, de ontem, no Cartaxo esteve no curro enviado pelo Eng.º Jorge de Carvalho. Como denominador comum, tiveram mobilidade e até uma “bondade/facilidade” que não é apanágio na ganadaria. O primeiro foi suavón e teve ritmo na investida; o segundo foi pronto no momento do cite, inclusive, no fim investiu em contra-querença; o terceiro teve tendência para se distrair um pouco no momento do cite, mas também teve continuidade na investida e até um pouco mais de “som”; o quarto investiu, mas evidenciou pouca força; o quinto foi o de melhor tipo, e um toiro colaborador e obediente; e o último, o único que raspou e doeu-se, mas deu emoção à actuação. A filha do ganadero, Eng.ª Raquel Carvalho, deu volta no quinto da ordem.

O rejoneador Leonardo Hernández e o cavaleiro João Telles Jr. viram-se desafogados, com conceitos idênticos – já lá vai o tempo em que entre o rejoneio e o toureio a cavalo à portuguesa existiam diferenças significativas (a nosso favor!) – apresentando argumentos para todos os toiros, mas sem força para entusiasmar nos seus primeiros. As suas melhores actuações aconteceram nos dois últimos da tarde. Com o quinto, Leonardo com o “Calimocho” teve a prestação mais coesa, foi mais provocador nas abordagens e tirou partido dos remates; e, com o sexto, João Telles logrou os dois ferros da tarde, o terceiro curto com o “Gaiato” (um grande ferro) e o quarto montado no “Ilusionista”, aguentando e aproveitando uma arrancada brusca do adversário.

Partilharam as pegas três grupos de forcados. Pelos Amadores do Ribatejo pegaram André Laranjinha à primeira tentativa e Fábio Casinhas à terceira. Pelos Amadores de Cascais concretizaram Afonso Tomás da Cruz à primeira e Francisco Pinto à quarta. Pelos Amadores do Cartaxo foram solistas Vasco Campino e José Oliveira, ambos ao segundo intento.

A praça de toiros do Cartaxo está a assinalar o seu 150º Aniversário e voltará a dar toiros no próximo dia 22 de Junho. Que seja uma noite com mais público e mais ambiente. Porque esta deixou pouco a desejar nesse capítulo.


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