Por: Catarina Bexiga
Ver
tourear bem a cavalo já é quase um milagre. E ver tourear bem, várias vezes,
numa só tarde, já são dois milagres seguidos! Tivemos sorte os que fomos,
ontem, a Salvaterra de Magos.
Começo
pelo nome mais sonante. Das muitas que já toureou na sua terra natal, acredito
que esta tarde de Ana Batista lhe irá ficar na memória e no coração. Ana foi
autora de duas actuações completamente distintas, mas que revelam a grande
dimensão do seu toureio. O toiro de João Ramalho foi fácil e permitiu à
cavaleira desfrutar do momento. Montada no “Pérola”, a serie de curtos foi o
protótipo da perfeição, pela importância que deu a todos os tempos da sorte:
mostrando-se no cite, abordando lentamente, entrando ao toiro sem enganos,
reunindo ao estribo e rematando o ferro. Tudo feito com temple e classe. Tudo
feito com harmonia. Só faltou que o adversário transmitisse um pouco mais, para
que a actuação chegasse mais às bancadas. Fica para quem entendeu a mensagem.
Com o toiro de Prudêncio a história foi outra. Como dizem os espanhóis, um
toiro “con muchas teclas para tocar”, com tendência para cortar caminho e bruto
nas investidas. Ana recorreu ao “Hermoso” e não podia ter estado mais valente e
decidida. Era o que o toiro pedia e essa foi a grande virtude da actuação. No
dia-a-dia, as conquistas por mérito têm muito valor, nas no toureio têm ainda
mais, porque na arena “joga-se” a vida de verdade!
Depois
da grande dimensão de Ana Batista, apetece-me escrever que Marcos Tenório
também poderia dar outra dimensão ao seu toureio. Assim o quisesse, porque tem audácia
e capacidade que sobram para isso. Tocou-lhe o vencedor do concurso,
pertencente à ganadaria do Dr. António Silva, um toiro com mobilidade e
transmissão. Marcos quis “mostrar” o adversário – aliás, como deveriam fazer
todos os cavaleiros nas corridas concurso – e montado no “Danone” os dois
compridos e os dois curtos que fizeram parte da fase inicial da actuação, foram
“de lhe tirar o chapéu”. De poder a poder, com emoção. Dos que já se vêm poucas
vezes. Deu gosto bater-lhe palmas. Após mudar de montada, seguiu-se uma versão
muito mais populista. Com o último do lote, um Ribeiro Telles que veio de mais
a menos com o decorrer da lide, voltou a dar nas vistas quando recorrer
novamente ao “Danone” para um grande um bom par de bandarilhas.
Luís
Rouxinol valeu-se da sua larga experiente para também deixar o seu nome escrito
nesta primeira tarde da temporada de Salvaterra de Magos. Com o exigente toiro
do Eng. Jorge de Carvalho, que foi incomodo nos cites, porque raspou várias
vezes e doeu-se outras tantas, montado no “Girassol” temos que lhe reconhecer
valor, pela forma como superou os problemas, que não foram poucos. Com o
sobrero da mesma ganadaria, um toiro mais agradável, montado no “Jamaica” a
actuação resultou menos consistente.
Tarde
com um significado especial para os Amadores do Ribatejo, com a presença de
antigos e actuais elementos do grupo. Porque se encerraram com seis toiros e
pela despedida do seu cabo, que escolheu para a sua última pega o toiro mais
sério da tarde. Pegaram André Laranjinha à terceira tentativa; Fábio Casinhas à
primeira; Pedro Espinheira à primeira; o novo cabo Rafael Costa, numa grande
pega, à primeira; Dário Silva à segunda e Ricardo Regueira à primeira.
A
tarde terminou com a entrega dos prémios do Concurso de Ganadarias. O prémio
Apresentação recaiu no exemplar do Eng. Jorge de Carvalho e o prémio Bravura no
toiro do Dr. António Silva.
FOTO: PEDRO BATALHA