Por:
Catarina Bexiga
Hoje
vou abordar a última Quinta-feira no Campo Pequeno de forma diferente… O Toureio a Cavalo está
numa fase de importante (mas também inquieta) transição. Ora vejamos, cavaleiros
com mais de vinte e cinco anos de Alternativa (ex. de Moura, Telles, Salvador,
Rouxinol, etc.) já têm as suas carreiras confirmadas e a os seus méritos assegurados.
Daí que, sejam os nomes que fazem parte das gerações seguintes, os “actores” dos próximos episódios da História
do Toureio a Cavalo...
Curiosamente, na última Quinta-feira foi
homenageado D. Francisco de Mascarenhas, decano dos cavaleiros tauromáquicos,
que em 2020, comemora 75 anos de Alternativa! E digo curiosamente, porque é da
sua autoria a frase que serve para a minha reflexão: “Hoje
fazem-se muitas coisas aos toiros que dantes não se faziam, mas também noutros
tempos se fizeram coisas aos toiros que hoje não se fazem.”
(Novo Burladero, 2011)
A corrida de Romão Tenório saiu dentro
do esperado. Todavia, houve dois toiros menos colaboradores, o terceiro, mais
parado (o 1.º do lote de João Telles Jr.); e o quatro, um toiro que esperava e
cruzava-se no momento do ferro (o 2.º do lote de Moura Caetano); os restantes
investiram na generalidade com ritmo, revelaram uma grande nobreza, transmitiram
pouco ….
saíram à medida do gosto dos toureiros!
Voltando à frase de D. Francisco….
Hoje há um “toureio!?” que
pouco tem a ver com o verdadeiro toureio. Para muitos, os toiros deixaram de
ter terrenos e distâncias adequadas, nos ferros compridos deixou-se de citar; e
nos curtos os cites de praça a praça (com os toiros distraídos) passaram a ser
uma constante; desviar a trajectória natural do toiro (com pitóns
contrários e quiebros) também passou a ser amiúde (com passagens em
falso umas atrás das outras ou reuniões despegadas)…e
o rol podia continuar! Mas para muitos, as exigências incomodam, os cavaleiros
mais velhos estão “caducos” e os
livros antigos “cheiram a mofo”…
No entanto, cumprindo as regras do
Toureio a Cavalo também se pode criar! Que o diga João Moura Jr., que com as
conhecidas “Mourinas” tem concentrado
em si o interesse dos aficionados. No quinto da noite, montado no Hostil,
os dois últimos ferros colocaram o Campo Pequeno de pé. O toiro chegou ao fim
da lide mais reservado, e Moura Jr. (de costas, como é a abordagem da “Mourina”)
teve que se mostrar muito, teve que provocar, teve que “violar
fronteiras”, avançar ainda mais uns metros que o
habitual…
para depois num curto espaço e em pouco tempo virar-se de frente, e com o cavalo
arqueado, receber a investida e cravar de alto a baixo. O mérito foi enorme!!! Do
tamanho do mundo!!!
Como nota de rodapé, acrescentar que
João Moura Caetano teve uma noite discreta; João Moura Jr., para além das “Mourinas”,
também recebeu de forma superior o segundo do seu lote; e João Telles Jr.
sofreu uma aparatosa queda no último da noite, mas encastou-se e terminou com
dois quiebros impactantes. Pelo grupo de Évora pegaram um valente João
Pero Oliveira à primeira tentativa, António Alves e Ricardo Sousa, ambos à
terceira. Pelo Aposento da Moita (distinguido pela empresa pelos seus 45 anos
de existência) concretizaram Leonardo Matias, Martins Lopes e João Ventura,
todos à primeira tentativa, com uma convincente prestação do grupo.
A essência da Festa de Toiros estará
sempre na emoção, a que é transmitida pelo toiro (não foi o caso) e pelo
toureiro!
Foto: Pedro Batalha