A
incerteza tem marcado os últimos tempos. A incerteza de como será o amanhã; de
como vamos viver o nosso dia-a-dia com este “bicho” que nos mete medo; de como vamos voltar a
ser quem somos…
Ontem, no Campo Pequeno, ficaram muitos sorrisos por mostrar e muitos abraços
por dar; muitas conversas por ter e muitas emoções por revelar… São tempos difíceis, mas… aos portugueses nunca
faltou espírito de conquista, de superação, de mostrarmos, afinal, quem somos!
A pandemia tem-nos colocado à prova; mas a falta de consideração por uma
manifestação cultural, que nos corre nas veias, que já levou longe a nossa
bandeira, tem-nos feito pior dano…
A
primeira Quinta-feira de toiros em Lisboa, depois do desconfinamento, contou
com um curro com o ferro de Brito Paes, rematado de carnes, com mais de quatro
anos, e que de comportamento veio a mais. Os primeiros toiros ficaram aquém das
expectativas, com falta de entrega, sem fijeza alguns, distraídos outros,
inclusive complicado o quarto da ordem. Até que saiu o N.º 105 de nome “Lezílio”, um toiro que foi pronto,
teve alegria nas investidas e transmissão. Valeu a chamada à arena do ganadero.
De
toureio propriamente dito prefiro reter os pontos positivos, porque seria
utopia acreditar que esta “nova
normalidade”
iria eliminar “velhos
vícios”… Luís Rouxinol teve duas
actuações distintas. A primeira resultou irregular com o “Jamaica”; e a segunda, de ofício e
com mérito, montado no “Douro”, com um toiro que se
tapava no momento da reunião. As actuações de Marcos Tenónio começaram de forma
superior, mas claramente por opção de conceito desceram de interesse na fase
final. Com o seu primeiro toiro, de saída, procurou abordar lentamente,
aguardando a investida do adversário; mas depois o público foi a sua maior
motivação. Com o seu segundo (o Lezílio) ficou a sensação de que “teve o pássaro na mão e
deixou-o fugir”.
Grande começo, montado no “Danone”, com dois compridos e um
curto, que entusiasmaram de verdade, mas depois voltou a enveredar pelo mesmo
caminho. Sabe e pode praticar o bom toureio, mas opta por agitar o público de
outra forma…
Duarte Pinto teve uma actuação discreta com o terceiro da noite, embora, no que
diz respeito à preparação das sortes, ficassem vários pormenores de quem sabe o
que está a fazer. Com o último da noite, viu-se um cavaleiro mais encastado e
mais decidido a pisar terrenos de compromisso. Com o “Hábito”, cravou com dois curtos
impactantes, dos que valem para o aficionado.
Para
os homens da jaqueta de ramagens a noite teve vários matizes. Pelos Amadores de
Santarém pegaram Salvador Ribeiro de Almeida à segunda tentativa, Joaquim Grave
também à segunda e António Queiroz e Melo à terceira. Pelos Amadores de Lisboa
concretizaram Duarte Mira à primeira, Vítor Epifânio à segunda e João Varandas
à quinta.
Ontem,
todos responderam com civismo,
respeitando as orientações (na arena e na bancada) que nos foram impostas, para
que voltasse a haver toiros na capital. Esse foi o maior triunfo da
noite!
Foto: Touradas / Luis Monge