Por: Catarina Bexiga
Era madrugada de Colete Encarnado. Vila Franca estava despida de gente. Estava desbotada. Estava atípica. Estava nostálgica. As horas tardavam em passar e o sono em aparecer… Bastava esse ambiente, para nos deixar um vazio no coração…
Como vi escrito algures, não era dia, nem hora para se morrer… mas Mário Coelho – Toureiro poético, sonhador, apaixonado – deixou-nos, exactamente, na madrugada de Colete Encarnado. Quis o destino. Quis a “sorte”!
Mário Coelho nasceu em Vila Fraca a 25 de Março de 1936. Como é sabido, a primeira parte da sua trajectória nas arenas aconteceu vestido de “prata”. Prestou provas para praticante, 3 de Outubro de 1955, na Palha Blanco; e tomou a alternativa, a 13 de Setembro de 1958, na praça de toiros da Nazaré. Durante nove anos vestiu de “prata”, conquistando os mais importantes troféus em disputa. Ao lado de Andrés Vazquez, o seu nome foi cobiçado e enaltecido.
Atestam as palavras do Maestro de Zamora: “ El gran Mário, con quien compartí muchos de los momentos más grandes de mí vida (…) Com Mário me unen muchas cosas, personales y profesionales, que tanto me han enriquecido. Por eso nuestros nombres van unidos bajo el orgullo que supusieron para la afición en una gloriosa época del toreo, como fueron los años sessenta (…) Mário ha sido el banderillero más grande de todos los tempos. El más colossal y artista que ponía de pie a todos los tendidos com um par en sus manos. Qué memorables tardes ofreció en las mejores ferias! Qué recuerdos de los tércios compartidos cuando las plazas se venían abajo y arrancaban los sones de la banda de música! Se me humedecen los ojos de la emoción al recordar las cuatro tardes que salió comigo en hombros. Lo que no hizo jamás ningún torero de plata hasta entonces.”
Perseguido o sonho, Mário Coelho trocou a “prata” pelo “ouro”. A sua trajectoria como novilheiro foi curta, tomando a alternativa de Matador de Toiros, a 23 de Julho de 1967, na praça de toiros de Badajoz, tendo como padrinho Julio Aparicio e testemunha “El Pireo”. Estoqueou a “Granjero” da ganadaria de Sanchez Rico.
Entre outras tardes de glória, há uma de que todos falam. A 12 de Setembro de 1984, Mário Coelho estoqueou “Corisco”, da ganadaria de Ernestro de Castro, na “Daniel do Nascimento”, Moita.
Despediu-se das arenas a 20 de Setembro de 1990 na praça de toiros do Campo Pequeno, mas o seu nome continuou ligado à Festa de Toiros, quer como conselheiro de ganadarias portuguesas, quer no lançamento de jovens toureiros…
Entre outras distinções, em 1990 recebeu, do Secretário de Estado da Cultura, a Medalha de Mérito Cultural; em 2004 recebeu, da Câmara Municipal de Vila Franca, a Medalha de Valor Cultural; e em 2005 foi agraciado, pelo Presidente da República, com a Condecoração de Comendador da Ordem do Mérito.
Mário Coelho viveu intensamente o toureio. Dentro e fora das arenas. Quem o vi-a na rua, no seu dia a dia, não tinha dúvidas em afirmar: “Ali vai um Toureiro!” Viveu o que hoje não se vive. Defendeu uma ética que hoje poucos defendem. E viu, em vida, o reconhecimento merecido. Descanse em paz, Maestro!