Por: Catarina Bexiga
Aquela que chegou a ser a Feira Taurina
mais importante de Portugal (e que é “espelho” do que se passa actualmente no
nosso país), deve merecer uma reflexão profunda da parte de todos. A falta de exigência
continua a ser o principal “inimigo” do ambiente taurino português. Tudo é
permitido. Tudo é aceite. A maioria fica feliz!
As breves anotações que se seguem, traduzem
o que me ficou (de bom e menos bom) da recém terminada jornada taurina moitense:
- A AFICIÓN DA MOITA: Sempre foi
considerada uma das terras mais aficionadas do nosso país e a sua Feira – que
chegou a ter seis espectáculos, as principais Figuras do Toureio e grandes
enchentes – uma das mais atractivas para o aficionado. Hoje a realidade é
outra! A Corrida Mista de Terça-feira registou cerca de ¼ de casa; a Corrida de
Quinta-feira registou uma boa entrada (¾ no cartel mais rematado); e a Corrida
de Sexta-feira menos de ½ casa. A afición moitense parece divorciada da “Daniel
do Nascimento”. Preocupante…
- A AFINIDADE COM O TOUREIO A PÉ: Sempre
houve afinidade entre a Moita e o toureio a pé, mas nos tempos que correm
trazer as Figuras é um elevado risco económico. Este ano, a empresa de Rafael
Vilhais, apostou no nome de Manuel Escribano e do português Nuno Casquinha. Uma
aposta equilibrada, ao seguir a linha um espanhol/um português. No entanto,
também mereciam oportunidade António João Ferreira e Manuel Dias Gomes. Faz-nos
falta aprender a valorizar e a promover o que é nosso…
- APRESENTAÇÃO DAS GANADARIAS: No capítulo
ganadero, a apresentação da maioria dos toiros correspondeu à categoria do
redondel. É de enaltecer o cuidado da empresa e a preocupação dos ganaderos. Da
Corrida de Falé Filipe, destaco o burraco que tocou em sorte a Manuel
Escribano; a Corrida de Passanha teve quatro toiros preciosos; e no Concurso de
Ganadarias, apenas o toiro de António Silva não tinha morfologia para disputar
um concurso.
- DEIXOU-SE DE DAR IMPORTÂNCIA AOS FERROS
COMPRIDOS: Na Feira da Moita actuaram 16 cavaleiros (entre praticantes e
profissionais) e contam-se pelos “dedos de uma mão” os que deram importância
aos ferros compridos. Hoje, as exigências são cada vez menores. Durante a
Feira, só me recordo de Francisco Palha (com o Homero), de Miguel Moura (com o
Xarope) numa “gaiola”(embora o ferro tenha resultado descaído), de Luís
Rouxinol Jr. (com o Aquiles) e de Ana Batista (com o Chinelito).
- SUPERAÇÃO DO APOSENTO DA MOITA: Foi um
dos destaques da Feira Taurina da Moita 2018. Depois do descalabro da sua
encerrona em 2017; os homens da jaqueta de ramagens do Aposento da Moita
recuperaram a confiança e o crédito na Corrida de Toiros de Quinta-feira. Seis
boas pegas e uma prestação coesa do grupo.
- RITMO DOS ESPECTÁCULOS: Este é um tema
que continua actual. Aquando da elaboração do novo Regulamento do Espectáculo
Tauromáquico lembro-me que foi uma das situações pensadas, mas tudo contínua
igual... A última Corrida de Toiros da Feira durou cerca de quatro horas. Só
mesmo para resistentes!
-
HOMENAGEM A FERNANDO QUINTELA: Mais que justificada. Mais que merecida.
Fernando Quintela, dos Amadores de Alcochete, perdeu a vida, há um ano atrás,
na arena da “Daniel do Nascimento”. O que nos marcou a todos! Na Corrida de
Toiros de Sexta-feira foi homenageado a título póstumo.
- ABASTARDAMENTO DA ÉTICA: O Toureio a
Cavalo tem perdido muito dos seus valores; mas chegar ao ponto de cada um fazer
“o que quer e o que lhe apetece” é deveras inquietante. Para mais, com a
conivência das “autoridades” e “organizações” do sector. Na última Corrida de
Toiros da Feira, a cavaleira Verónica Cabaço tomou a Alternativa, mas
prescindiu que a cerimónia lhe fosse concedida por Ana Batista (a mais antiga
de douctoramento), porque simplesmente mantém uma relação de amizade com Filipe
Gonçalves.
- O QUE FICOU (DE BOM) A NIVEL ARTISTICO?
Gostava de poder referir muitos mais exemplos, mas o estado em que se encontra
o Toureio a Cavalo em Portugal está longe de ser o melhor. Na minha opinião,
repartiram o protagonismo, Francisco Palha e Luís Rouxinol Jr. (para mim, foram
deste os melhores ferros do certame) na Corrida de Quinta-feira; e se algo
“acima da média” houve, tenho que escolher da Corrida de Sexta-feira, a brega
de Ana Batista ao toiro sobrero. Tudo o resto deixou pouco sabor!
- ENG. JORGE DE CARVALHO MERECEU O PRÉMIO.
O toiro da ganadaria arrudense conquistou os dois prémios em disputa no
Concurso de Ganadarias que encerrou a Feira. Para além das suas boas hechuras,
reuniu muitas virtudes no seu comportamento. Tocou em sorte a Filipe Gonçalves.
Um bom toiro que merecia uma actuação com outros contornos.
QUE 2019 NOS DEIXE MELHORES RECORDAÇÕES!