Por: Catarina Bexiga
Tão importante quanto colocar em prática na arena o Toureio a
Cavalo é saber explica-lo, transmiti-lo e valorizá-lo! Essa é uma “herança”
importantíssima que, com o passar dos anos, se tem vindo a desaproveitar…
Perdeu-se o hábito de ouvir, de falar e de ler sobre o que é o Toureio a Cavalo.
E isso nota-se cada vez mais por todo o lado! Como escreveu Fernando Sommer
d’Andrade “Para que o público não se aborreça é necessário que entenda os
«pequenos nadas» de que é feita a lide e, só assim, lhe será dado a verificar
que não há duas actuações iguais por as condições dos toiros diferirem de uns
para outros, por a disposição do cavalo e, até o estado de espírito do
cavaleiro, variarem de dia para dia.”
O colóquio de ontem no Montijo sobre o Toureio a Cavalo, com
a presença de Emídio Pinto e António Ribeiro Telles – magistrais nas suas
explicações – acompanhados pelos testemunhos de Luís Rouxinol Jr., foi uma
abordagem conhecedora, concreta e clara sobre o tema. O “ABC do Toureio a
cavalo”, aquele que a maioria do público (entre entusiastas e aficionados) deve
saber…
Por considerar de extrema importância, partilho (embora
resumidamente) os 10 pontos analisados na noite de ontem:
1 – INICO DE CADA CARREIRA: Cada um dos intervenientes
apresentou a sua história de vida e falou de quem os marcou nas suas origens.
Emídio Pinto referiu-se a Frederico Cunhas, e aos irmãos Manuel e Alfredo
Conde, bem como D. José d’Atayde; António Ribeiro Telles ao seu pai Mestre
David Ribeiro Telles; e Luís Rouxinol Jr. ao seu pai Luís Rouxinol.
2 – A IMPORTÂNCIA DA EQUITAÇÃO: Todos defenderam a ideia de
que ter equitação permite mais facilmente tirar partido de cada cavalo; saber
pô-los, saber aproveitá-los, saber corrigi-los, etc. Mas que uma coisa é o bom
cavaleiro e outra é o cavaleiro bonito.
3 – BREGAR/LIDAR/TOUREAR: O significado é o mesmo e de máxima
importância. Entender o toiro (terrenos, distancias, etc.) para mais
brilhantemente atingir o culminar do toureio, cravar o ferro ao estribo!
4 – OS MARCOS NA EVOLUÇÃO DO TOUREIO A CAVALO: Para além de
outros nomes que aportaram história à própria história do Toureio a Cavalo
foram referenciados como os grandes “revolucionários”: João Núncio, José Mestre
Batista e João Moura.
5 – AS GRANDES DUPLAS DO TOUREIO A CAVALO: Foram sem dúvida
épocas importantes. As grandes duplas formadas por João Núncio/Simão da Veiga,
José Mestre Batista/Luís Miguel da Veiga e António Telles/João Salgueiro
enriqueceram de sobremaneira a nossa identidade.
6 – O TOIRO BOM E O TOIRO MAU: Todos defenderam a ideia de
que o toiro bom é o que vai pelo seu caminho. Até pode ter raça. Até pode
empurrar. O toiro mau é o que se adianta, é o que se atravessa, é o que
desconfia os cavalos (e até os cavaleiros).
7 – O CAVALO DE TOUREIO: Para além das capacidades naturais
(força, habilidade, etc.), o mais importante no cavalo de toureio é ter boa
cabeça. Capacidade para perceber o que se lhe quer ensinar e capacidade para
todos os dias “dar a cara”. A ilusão com os cavalos novos marca cada Inverno.
Mas todos defenderam que em casa, com as vacas, todos os cavalos parecem
funcionar; o problema é quando o toiro aparece, e quando se toureia hoje,
amanhã e depois de amanhã.
8 – AS COUDELARIAS NO TOUREIO: Nos últimos tempos os
Lusitanos melhoraram muito; mas o mercado dos cavalo que tinham uma percentagem
de cruzamente (exemplo de Coudelarias como Gama, Atalaya ou Rio Frio), o que lhes
permitia ter outras capacidades físicas, é o mais apetecido pelos toureiros. No
entanto, esse mercado tem vindo a desaparecer e hoje é cada vez mais difícil
encontrar o cavalo ideal.
9 – SORTES DO TOUREIO: Todas as sortes têm o seu valor. Uma
“gaiola” tem muito valor mesmo, e uma “tira” também! Foi defendida a verdade do
toureio como o corredor formado por duas linhas paralelas, que saem dos pitons
do toiro, até ao peito do cavalo. E foi clarificado que, antes da reunião, se
existir um desvio à direita, desequilibra-se o toiro; e se existir um desvio à
esquerda, o cavalo atravessa-se… O termo “carregar a sorte ao pitón contrário”
– muito na moda nos templos actuais – foi questionado até que ponto não é
“descarregar a sorte”, visto que manda o toiro para fora da sua trajetória
natural…
10 – QUAL O FUTURO? Para além da preocupação com os
movimentos animalistas, que cada fez asfixiam mais o espectáculo taurino,
falou-se no diminuto número de cavaleiros amadores que fazem parte do actual
escalafón; e no regresso do toiro que transmita emoção, para que seja dado
valor à obra do toureiro.
Em suma, uma grande noite de Toureio a Cavalo fora das
arenas!