Por: Catarina Bexiga
Não basta dizer “Este é o momento! Estamos com o Campo Pequeno!” Sei que o momento é complicado e imagino, inclusive, as voltas e reviravoltas que implica organizar uma noite de toiros em Lisboa. Não queria estar no papel do Luís Miguel Pombeiro. Mas hoje, em frente ao computador, e com a cabeça mais despejada, questiono-me: E quem está com os Aficionados que vão ao Campo Pequeno e a tantas outras praças? Em prol do slogan criado para a temporada de 2022, não podemos admitir tudo, consentir tudo, calar a tudo… Porque esse é o caminho para o precipício.
Para a última noite de toiros em Lisboa estava resenhado um curro da ganadaria Charrua, com esqueleto, a maioria altos e média aproximada de 650 Kg. Acho muito bem que se queira dar categoria ao Campo Pequeno; que se chame de Catedral do Toureio a Cavalo; que se queira marcar a diferença… mas aproveitarem-se (escrevo no plural, propositadamente, porque há vários envolvidos) do público “fácil” e de passagem que vai a Lisboa, já não tolero! Saberão o que se impõe para a praça mais importante do país? Saberão que peso não é sinónimo de trapio? Saberão o que significa trapio? O curro saiu díspar de apresentação, a maioria longe do exigido, e quanto ao primeiro e terceiro da função até vou poupar com palavras os responsáveis. Entre muitas definições apresentadas nos livros e, claramente, convergentes, escolhi estas: “El Trapío debería de ser un compromiso ético con la Fiesta y con la afición que paga una entrada por ver un espectáculo digno.” "Buena planta y gallardía del toro de lidia". “La palabra Trapío se refiere a la estampa del toro, al fenotipo, que ha de tener unas determinadas características, las cuales le aportan seriedad. Trapío es “tener cara de hombre”. Pode ser que os ajude!
Considerações à parte, o curro teve a virtude de se mexer, de sair ao gosto dos toureiros, suavões, sem raça, um par deles sem força, sem incomodar, autênticas tourinhas; mas, por outro lado, de pouco transmitir ou emocionar. O segundo foi premiado com a chamada do ganadero à arena, o que foi motivo de protestos e “frenou” o que poderia vir a acontecer mais vezes. Para mim, o quinto foi o toiro que teve mais “picante” nas investidas.
Apesar de tudo, de todos os cavaleiros guardo um ou outro registo que marcaram a noite. Francisco Núncio apresentou-se no Campo Pequeno e confirmou a mensagem que deixara há cerca de quinze dias atrás na Nazaré, tem bom conceito e boas intenções. António Ribeiro Telles rubricou uma actuação interessante e surpreendeu de saída com a “sorte da morte”, em desuso, montado no “Hibisco”, mas que às vezes coloca em prática, resultando impactante e empolgante. João Moura Caetano sofreu uma aparatosa colhida com o terceiro da noite, mas encastou-se, colocando a harmonia do seu toureio à disposição das investidas “mórbidas” do adversário. Marcos Tenório teve um grande início de actuação, com dois compridos sensacionais, montado no “Danone”, mas depois optou por outro conceito. A prestação de Duarte Pinto teve duas partes distintas, muito mais válida a primeira do que a segunda. E por fim, Miguel Moura protagonizou uma actuação entonada.
Pelos Amadores de Vila Franca de Xira pegaram Vasco Pereira à terceira tentativa, Rafael Plácido à segunda e Guilherme Dotti à primeira. Pelos Amadores de Azambuja foram solistas Rúben Branco à segunda, João Branco à segunda e João Gonçalves à primeira.
Antes do início do espectáculo, foram homenageados os ganaderos Luís Rocha e João Ramalho e o forcado José Jorge Pereira; e “In Memoriam”, os cavaleiros José Zúquete e Vasco Taborda e o aficionado Rui Casqueiro. A noite foi intitulada de Real com a presença no palco de D. Isabel de Héredia, Duquesa de Bragança.
Para o ano haverá mais se Deus quiser e se os homens tiverem as virtudes suficientes para o conseguir. O desejo de todos os Aficionados é que a próxima temporada seja maior e melhor que esta que agora finda!
Foto: João Silva / solesombra.net